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Odsson Ferreira | - | Atualizado em:
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História - Idade Antiga - Antiguidade Oriental - Civilização Hebráica - Belém
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.
in:
__________.
Mitologia Chinesa - Mitologia Primitiva:
Quatro mil anos de história através das lendas.
2ª Ed.
São Paulo/SP:
Landy Editora,
2006.
p..
APA
(2006).
.
in:
A .
Abreu,
(Ed.),
Mitologia Chinesa - Mitologia Primitiva:
Quatro mil anos de história através das lendas.
(pp.).
São Paulo/SP:
Landy Editora.
Por

Arqueólogos israelenses acharam em Jerusalém um selo de argila com a inscrição "Bat Lechem", que supõe a primeira evidência arqueológica da existência de Belém durante o período em que aparece descrito na Bíblia, informou nesta quarta-feira a Autoridade de Antiguidades de Israel.

Trata-se de uma espécie de esfera de argila que se usava para carimbar documentos e objetos, que foi encontrado nas polêmicas escavações do "Projeto Cidade de David", situado no povoado palestino de Silwán, no território ocupado de Jerusalém Oriental.

Datada entre os séculos VII e VIII a.C, a peça é meio milênio posterior às Cartas de Amarna, uma correspondência diplomática em língua acádia sobre tabuletas de argila entre a Administração do Egito faraônico e os grandes reinos da época e seus vassalos na zona.

O descobrimento anunciado nesta quarta remete a uma época posterior, a do Primeiro Templo Judeu (1006 - 586 a.C.), citada no Antigo Testamento como parte do reino da Judéia.

"É a primeira vez que o nome de Belém aparece fora da Bíblia em uma inscrição do período do Primeiro Templo, o que prova que Belém era uma cidade no reino da Judéia e possivelmente também em períodos anteriores", assinalou o responsável das escavações, Eli Shukron, em comunicado. "A peça é do grupo dos 'fiscais', ou seja, uma espécie de selo administrativo que era usado para carimbar cargas de impostos que se enviavam ao sistema fiscal do reino da Judéia no final dos séculos VII e VIII a.C", acrescenta a especialista.

Objeto era usado para carimbar documentos e objetos

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8/3/2017 3:19:18 PM | Por Antônio Daniel Abreu
As ilhas dos imortais

Antigamente, os mares eram tão impetuosos, que as suas altíssimas ondas podiam alcançar o Céu e tão vastos, que milhares e milhares de rios desembocavam neles dia e noite - até mesmo as aguas do Rio Celeste (Via Láctea) corriam para eles. No entanto, os mares nunca transbordaram. Por que é que os mares eram então assim? Uma lenda conta que a dezenas de milhares de Ii, a leste do Mar Bohai, havia um grande vale submerso chamado Gui Xu - que significa o "lugar de retorno das aguas" -, na realidade tratava-se de um vale sem fim. Na vasta superfície marítima do "lugar de retorno das águas" havia cinco ilhas flutuantes de alcantiladas e majestosas montanhas: Daiyu, Yuanjiao, Fanghu, Yingzhou e Penglai. Para chegar aos píncaros de qualquer uma destas montanhas era preciso seguir serpentuosos caminhos - o menor dos quais tinha mais de trinta mil Ii -, que desembocavam em amplos planaltos - cada um com cerca de nove mil Ii de periferia. As cinco ilhas estavam alinhadas no mar, distanciadas umas das outras de setenta mil Ii, na lonjura, frações dos seus altos picos aparecendo entre nuvens auspiciosas e, nos tempos mais claros, podia-se mesmo ver os perfis dos seus magníficos pavilhões e palácios.

As ilhas eram conhecidas pelas cinco Ilhas dos Imortais, porque nas suas cinco montanhas se situavam as residências dos imortais, constituídas por palácios e pavilhões de ouro e jade. Nas encostas das suas montanhas cresciam numerosas flores e raras árvores de frutos e todos os animais e aves que aqui habitavam eram tão brancos como a neve. Uma árvore, em particular, produzia perolas e uns frutos muito brilhantes, em forma de cristais, a ingestão de um só transformava qualquer ser humano em um imortal. Todos os habitantes destas ilhas eram imortais e descendentes do Imperador Celestial, possuindo os dons, quer de ascenderam as nuvens, ou de vagarem de ilha para ilha, conforme quisessem.

Embora a altitude de cada uma das montanhas fosse colossal, estas cinco ilhas eram flutuantes e deslocavam-se perpetuamente para o Oeste, como se fossem gigantescos navios, o que causava grande preocupação aos seus imortais habitantes, pois se continuassem na sua inexorável progressão, seriam arrastadas até o polo Oeste, o qual, segundo uma lenda, era um lugar extremamente frio e sombrio onde nunca tinha aparecido nem o Sol nem a Lua, sendo a sua única fonte de luz, uma tênue claridade proveniente de uma vela segura na boca de um animal chamado de "dragão da vela". Em uma palavra, o polo Oeste era um lugar avassalador!

Um dia, os imortais das cinco ilhas decidiram subir ao Céu para relatarem conjuntamente as suas preocupações ao Imperador Celestial. Depois de os ouvir, o Soberano enviou um dos seus ministros, o deus dos mares chamado Yu Jiang, resolver o problema. Yu Jiang mandou então que 15 gigantescas tartarugas carregassem, às costas, essas cinco ilhas para a eternidade, no entanto, para lhes aliviar o cansaço, o deus dividiu-as em três turnos alternando-os a cada 60.000 anos. Claro que a missão de carregarem às suas costas as ilhas era um trabalho extremamente duro, mas as tartarugas não tinham outra alternativa sendo obedecerem as ordens de Yu Jiang e, assim, passaram a suportar as montanhas esticando as suas cabeças à tona das ondas e não se atrevendo a deslocarem-se minimamente. A partir de então as cinco ilhas, originalmente flutuantes, permaneceram estáticas desafiando as furiosas ondas, as impetuosas correntes e os frequentes tufões e os seus imortais habitantes vivendo dias tranquilos sem mais nenhuma preocupação.

Contudo, tal como os seres humanos, os imortais também vieram a encontrar alguns percalços imprevistos. A uma distancia de 46.000 Ii da costa do Mar do Leste havia uma montanha chamada Bogushan ao pé da qual, havia um pais de gigantes chamado, o Estado dos Dragões. Todos os seus habitantes eram tão altos que quase alcançavam o Céu e alimentavam-se principalmente de grandes peixes e tartarugas-gigantes marítimas.

Ora, certo dia, alguns dos gigantes, tendo ido à pesca nas costas do Mar do Leste, subitamente aperceberam-se que algumas tartarugas gigantescas apareciam e desapareciam por entre as altas ondas marítimas esticando as suas cabeças fixamente. Bastavam-lhes dar alguns passos para atravessarem as aguas de uma longa distancia lançando então as linhas com as iscas para as aguas onde trabalhavam as tartarugas. As tartarugas, que não tinham comido nada durante varias dezenas de milhares de anos, ao verem alimento esticavam imediatamente os seus pescoços e tragavam as iscas. Então, dos gigantes do Estado dos Dragões bastou-lhes puxarem as linhas para as apanharem, e depois de comerem as carnes secaram ainda os seus ossos fazendo-os em lascas e utilizaram as suas carapuças como tetos de tendas abrigando-se assim melhor contra o vento e a chuva. Logo apos a morte das seis tartarugas, duas das cinco ilhas, as Dayu e Yuanjiao, perdendo o seu suporte, recomeçaram a flutuar imediatamente em direção ao polo Oeste. Os imortais destas duas ilhas apercebendo-se do que estava acontecendo, emigraram apressadamente para as outras que ainda se mantinham imóveis não tardando que, pouco tempo depois, ambas as ilhas Dayu e Yuanjiao fossem arrastadas pelas impetuosas correntes e pelos incontáveis tufões para o polo Oeste vindo-se a afundar nas profundezas marítimas.

O que aconteceu provocou tamanha cólera ao Imperador Celestial que, para castigar os gigantes do Estado dos Dragões e valendo-se dos seus poderes sobrenaturais, reduziu não só a extensão deste pais como a estatura dos seus habitantes. Mesmo assim, diz-se que eles continuaram com uma altura de cerca de dez metros, a qual, se bem que fosse ainda considerável, pelo menos os impedia de pescarem a linha quaisquer outras tartarugas-gigantes.

A partir de então, no Mar Bohai restaram só três ilhas de imortais: Fanghu, Yingzhou e Penglai. No período dos Reinos Combatentes (475-221 a.e.c.) os monarcas dos reinos de Qi e Yan vieram a saber da existência destas três ilhas dos imortais e de nestas se encontrar o elixir da imortalidade. Querendo gozar eternamente das glorias e riquezas que tinham acumulado, estes dois reis ordenaram aos seus súditos que fabricassem virias centenas de grandes embarcações e que partissem em demanda destas ilhas com o fim de obter o elixir de imortalidade. Contudo, pouco tempo apos a partida da expedição, uma grande tempestade de gigantescas e furiosas ondas fez com que todos os barcos se afundassem, só poucos homens conseguiram escapar da tragédia. Segundo os relatos dos sobreviventes, apos vários dias de navegação todos tinham efetivamente conseguido vislumbrar as três ilhas dos imortais pairando entre densas nuvens brancas e flutuando alinhadas nos confins do mar mas, quando os barcos se aproximaram delas, as três ilhas tinham misteriosa e subitamente desaparecido. E tinha sido quando os barcos persistiram em continuar na direção das ilhas desaparecidas, que uma tempestade furiosa se abateu bruscamente impedindo o avanço das embarcações e fazendo-as capotar no seio das altas ondas. Ninguém podia confirmar se esses relatos eram verdadeiros ou não, mas a verdade e que nenhum dos reis que tentaram obter o elixir de imortalidade veio a alcançar o seu objetivo e, naturalmente, acabaram por morrer uns após os outros.

Segundo a lenda, o imperador Qin Shi Huang - o primeiro imperador da Dinastia Qin - em plena satisfação pela sua unificação da China (221 a.e.c.) também sonhava em ser um imortal. Sob os auspícios dos seus ministros e demais subordinados, ele viajou, pessoalmente, para a montanha Huiji organizando neste local uma enorme oficina, onde algumas dezenas de milhares de trabalhadores vieram a fabricar cerca de mil embarcações; apos a sua conclusão, o monarca obrigou um número considerável dos seus homens a navegar em direção às ilhas dos imortais em busca do elixir da imortalidade. No entanto, este seu colossal empreendimento também não logrou obter bons resultados e, inclusive, nenhum dos seus enviados regressou à terra natal. Por ironia do destino, o imperador Qin Shi Huang veio a morrer no caminho do regresso da montanha Huiji à sua capital.

Durante a Dinastia Han, no reinado de Wu Di (156-87 a.e.c.), um ocultista chamado Li Shaojun contou um dia ao imperador que, encontrando-se uma vez viajando em uma rota marítima, tinha travado conhecimento com um imortal chamado An Qi Shen que estava comendo uma jujuba, tão grande como uma melancia, sendo o suco desta fruta realmente o elixir magico das montanhas do além-mar. Impressionado pelas palavras do ocultista, o imperador Wu Di ordenou que um exercito de homens fabricasse embarcações, enviando depois um grande número dos seus subordinados nestas a procura do elixir da imortalidade. Contudo, passaram-se meses e anos e ate a sua morte o imperador esperou sem receber quaisquer noticias da expedição marítima.

Desde então até agora, o conto sobre as Ilhas dos Imortais permanece tal como uma lenda sem que ninguém pudesse confirmar a existência de tais ilhas!

Mitologia Chinesa
Yu Huang Shang Di - Imperador Celestial - Imperador de Jade - Yu Jiang   
8/3/2017 3:14:06 PM | Por Antônio Daniel Abreu
O velho tonto que removeu as montanhas

Antigamente, havia um ancião a quem chamavam de Tonto das Montanhas do Norte e que vivia em Jizhou, na China. Mas, por que o chamavam de "Tonto"? Será que era mesmo tonto? Não! De fato, sob múltiplos aspectos, ele era um bom mestre: um experiente cultivador, caçador, marceneiro, carpinteiro, pedreiro, etc. Então, era por ser estupido? Longe disso, antes pelo contrário, ele era um homem hábil e inteligente na liderança de qualquer assunto. O que aconteceu foi o seguinte: exatamente porque era um homem bondoso e honesto, incapaz de fazer armadilhas, que jamais pensava em cambalachos, e estava sempre pronto para executar quaisquer tarefas, árduas e difíceis, aos olhos dos homens de recursos mais ardilosos ele era um "tonto" e, por isso mesmo, estes lhe deram o apelido de Velho Tonto.

O Velho Tonto, de quase noventa anos de idade e com uma família feliz, composta de numerosos filhos e netos, ainda não reconhecia a sua velhice e continuava trabalhando na terra junto aos seus filhos e netos. Um dia, alguns vizinhos aconselharam-no:

- O Velho Tonto, já estes tão idoso; devias deixar que os teus filhos e netos trabalhassem por ti! Será que não queres gozar da felicidade no resto da tua vida?!

- Agradeço-vos a vossa simpatia, mas não a posso aceitar pois ainda gozo de uma boa saúde e, enquanto não for para o outro mundo será um grande prazer continuar a trabalhar durante o resto dos meus dias - disse-lhes sorrindo o Velho Tonto. - Se não trabalho, perco o apetite e aborrece-me ficar em casa sentado de braços cruzados.

E o ancião continuava trabalhando... mas, aos olhos dos outros homens ele era mais tonto ainda. Com o constante aumento da família do Velho Tonto, era necessário lavrarem-se mais terras de ano para ano. A lavragem de terras em uma zona montanhosa não é um trabalho fácil, sendo preciso remover pedras, transvazar terras, escavar canais de drenagem, etc. O velho tinha a capacidade de organizar as tarefas de toda a sua família enquanto continuava trabalhando de sol a sol, desafiando o vento e a chuva, e educava assim os seus dizendo-lhes que deviam trabalhar zelosamente sem temer as dificuldades nem se abonarem a preguiças. Para conseguir terra mais fértil de cultivo para os seus campos, ele chegava a trazê-la de lugares a varias dezenas de Ii de distancia. Aos olhos dos outros homens ele tornava-se, de dia para dia, cada vez mais tonto.

Frente à casa do Velho Tonto, havia duas montanhas, Taihang e Wangwu, que tinham cerca de uns setecentos Ii de periferia e dez mil ren (o ren é uma medida de comprimento da China antiga equivalendo aproximadamente a 2,5 metros) de altitude. Como a sua casa estava situada, sobranceira, as montanhas, cada vez que ele e os seus vizinhos tinham de ir a qualquer lado, era-lhes obrigatório contorná-las e com o passar dos anos isto lhes vinha causando cada vez maiores transtornos. Um dia, o ancião decidiu reunir toda a sua família para discutir este assunto:

- Estas duas montanhas impedem-nos uma fácil passagem. De há muito que eu já tinha prometido a mim mesmo de as remover desta zona. Embora eu não seja mais do que uma vela ao sabor do vento, ainda possuo uma boa saúde. Para que as nossas futuras gerações possam levar uma vida feliz, devemos tomar a decisão de remover de uma vez por todas estas montanhas e, depois, ate poderíamos abrir uma estrada em direção a sul de Hernan... até a margem do rio hanshui. Estão de acordo?

Todos estavam de acordo. Só a mulher do Velho Tonto disse com uma certa preocupação:

- Ó, meu velho! Eu estou igualmente de acordo, mas estou preocupada pela tua idade. Temo que já não tehas suficiente tempo para remover nem mesmo uma colina com a Kuifu, longe de pensar que poderás vir a remover as montanhas taihang e Wangwu! E de qualquer maneira, para onde pensam vocês transvazar toda a terra e os pedregulhos?

Os filhos e netos responderam imediatamente em coro, antecipando-se ao avô:

- O avô é velho mas nós somos jovens. Quanto à terra e aos pedregulhos, bastará deitarmos tudo ao Mar Bohai!

E assim ficou resolvido, o Velho Tonto com os seus filhos e netos, dirigiu-se às montanhas ali escavando terras, removendo pedras e acarretando-as em cestos ou carrinhos até o Mar Bohai. Todos os aldeões das vizinhanças, ou mesmo de luares mais afastados, estimulados por este empreendedorismo, vieram juntar-se à equipe familiar ajudando-os, mesmo as viúvas e as crianças também queriam participar desta gigantesca obra. Uma viúva chamada Jing, tinha um filho que começava a dar os seus primeiros passos e até estes vieram juntar-se ao grosso dos trabalhadores servindo-lhes agua e comida.

A obra era árdua e majestosa! A distancia entre as montanhas e o Mar Bohai era considerável e cada transporte levava vários meses; no entanto, o Velho Tonto, os seus filhos e os seus netos continuaram trabalhando ininterruptamente sem se desanimarem. Vendo-os nesta constante labuta, um outro velho, a quem chamavam de Velho Sábio, desatou-se um dia a rir e disse-lhes:

- Que tolice! Então não vês, que velho e cansado como te encontras não vais nem sequer conseguir remover uma fração de uma montanha, como pensas tu poder remover duas tão grandes montanhas?!

Ao que o Velho Tonto lhe respondeu exalando um suspiro:

- Ah! Todos te chamam de Velho Sábio, porem, a meu ver, es menos perspicaz que uma viúva ou uma criança! Quando eu morrer ficarão os meus filhos e netos, e assim se sucederão infindavelmente as gerações. Quando a estas montanhas, são muito altas mas já não podem crescer e a cada golpe de picareta tornar-se-ão cada vez menores. Por que razão, pois, não haveremos de acabar por arrasa-las?

Então o Velho Sábio, não sabendo o que dizer, foi-se embora com ar de envergonhado e o Velho Tonto, os seus filhos e os seus netos continuaram, inabaláveis, a escavar as montanhas dia apos dia. Esta noticia chegou aos ouvidos do deus que governava estas duas montanhas, o qual, temendo perder os seus domínios territoriais, informou ao Imperador Celestial o que estava acontecendo. Este, comovido pela tenacidade do Velho Tonto enviou então dois Hércules celestes a Terra - os filhos de Kua E - instruindo-os que carregassem às costas as duas montanhas, colocando uma delas em Shuodong e a outra em Yongnan. A partir de então, em Jizhou, não houve mais montanhas que impedissem a passagem.

Mitologia Chinesa
Yu Huang Shang DI   Velho Tonto - Velho Sábio
8/3/2017 3:06:12 PM | Por Antônio Daniel Abreu
Jing Wei, a vingadora do mar

Nü Wa, a filha mais jovem de Yandi - deus do Sol - era uma menina ingênua, alegre e bonita. Todos os dias ela ia brincar na Praia porque o dourado da areia com suas conchas coloridas, e o azul do mar com as suas tumultuosas ondas a atraiam irresistivelmente. Um dia, quando se preparava Para sair, a mãe avisou-a que uma grande tempestade estava a desencadear e que seria melhor que ela ficasse em casa, mas a menina, que também era caprichosa, não querendo dar ouvidos aos conselhos da mãe decidiu ir à mesma. Depois de ter recolhido ao longo da Praia conchas de variadas cores empoleirou-se em um pináculo sobranceiro ao mar, contemplando a espuma branca das vagas que se quebravam contra as rochas e as gaivotas voando no azul do oceano. "Que lindo é o mar! O pai tem razão em vir aqui se banhar todos os dias", pensava consigo a menina imersa nos seus pensamentos e sem se dar conta que uma grande tempestade se aproximava.

Um vendaval quente e úmido começou por rodar a superfície das aguas para, em seguida, dar lugar a uma borrasca acompanhada por chuvas torrenciais que se abateram sobre toda a terra. A fúria redobrada do vento fustigou as ondas que se transformaram em vagalhões, despedaçando-se sobre as margens como montículos. Nü Wa, não conseguindo fugir a tempo, foi levada pelas ondas para os confins do mar.

A mãe de Nü Wa tinha, entretanto, corrido para a praia desafiando a chuva torrencial e o vendaval. O vento soprava com tanto ímpeto que lhe era quase impossível ter os pés assentos no chão e a chuva caia sobre o seu rosto com tanta densidade que lhe era quase impossível manter os olhos abertos. Apesar de tudo, ela gritou a todos os pulmões:

- Nü... Wa! Nü... Wa!...

Mas, para além das vozes do vento, da chuva e das ondas não obteve qualquer outra resposta.

Pouco depois, a tempestade passou e o mar quedou-se calmo e tranquilo, todavia, Nü Wa tinha desaparecido.

Sentada desconsolada na praia com profusas lágrimas escorrendo-lhe pelas suas pálidas faces, a mãe Olhava absorta para longe, com uma enorme magoa partindo-lhe o coração.

Coitada da menina Nü Wa, nunca imaginou que o mar de que gostava tanto se pudesse mostrar tão cruel a ponto de devorar a sua jovem vida.

Apos a sua morte, o seu espirito queixoso e ferido converteu-se em Jing Wei - uma ave com uma cabeça de plumas multicores, um bico branco e umas garras vermelhas, e que fez o seu ninho na montanha Fajiuá, a ocidente. A partir dessa altura, a ave sentiu um grande ódio contra aquele mar que lhe tinha arrebatado a sua breve existência de criança e jurou vingar-se decidindo acabar com ele.

Querendo tornar em realidade a sua decisão, a ave incessantemente voava para longe, de onde trazia no seu bico galhos secos e pedras que depois descarregava sobre o imenso mar azul. Assim se sucederam dias, meses e anos e o pássaro trabalhando ininterruptamente. Que impressionante e admirável era a sua grandiosa aspiração e magnifica sua força de vontade!

Diz a lenda que a ave Jing Wei e o pássaro Petrel acasalaram-se e procriaram descendentes. Os filhos herdaram o nome do pai - Petrel, enquanto as filhas continuaram com o nome da mãe - Jing Wei. Os filhos herdaram o caráter firme e indomável do pai, voando corajosos e livremente por entre as nuvens negras sobre o mar ondulante, sempre que uma tempestade se anuncia. Ainda hoje, os seus descendentes emitem gritos de combate e de vingança. As filhas continuaram o trabalho da mãe indo buscar pedras e galhos secos para tentar encher o mar; esta consistente labuta tem vindo a ser transmitida de geração em geração.

Os antigos chamaram a Jing Wei a Ave Inocente ou a Ave Perseverante, assim manifestando a sua simpatia e admiração pela sua tenacidade.

Mitologia Chinesa
Jing Wei   
8/3/2017 2:59:17 PM | Por Antônio Daniel Abreu
Yandi, o deus do sol

A lenda do Hou Yi, o Arqueiro que Derrotou Nove Sóis diz que por mandado do Imperador Celestial, Hou Yi desceu do céu para o mundo terrestre e destruiu nove dos dez Sois salvando a humanidade. Mas, e o que veio a acontecer ao último Sol? Em boa verdade, depois da queda celestial dos seus nove irmãos, mortos pelas flechas certeiras de Hou Yi, o decimo Sol adotou um tímido e submisso comportamento. Cada dia, de madrugada, levantava-se a oriente, depois, deslizava no vasto espaço aéreo e ao crepúsculo punha-se a ocidente - sem nenhuma negligência. Mas com o passar do tempo, ele começou a tornar-se cada vez mais preguiçoso e indolente, umas vezes absorto em divertimentos no lago Tanggu chegando ao céu muito atrasado, outras vezes, escondendo-se entre a ramagem da arvore Fusang e passando dez ou quinze dias seguidos a dormir, deixando assim o mundo ficar completamente às escuras e não se distinguindo a noite do dia. Por falta de raios solares, as ervas, as flores, as árvores e as culturas começavam a murchar, a temperatura descia vertiginosamente e o mundo tornava-se tão frio que ameaçava a sobrevivência da humanidade. Os homens, gado, aves, animais e todos os seres vivos permaneciam transidos de frio e quase agonizantes... Se o Sol continuasse a agir dessa maneira, o mundo acabaria por ficar sem vegetação e seres humanos.

Ao ser inteirado desta grave situação, o Imperador Celestial mandou imediatamente um mensageiro chamado Yandi para o oriente com instruções de acordar o Sol a tempo e de o supervisionar nos seus deveres cotidianos. Diariamente, Yandi seguia o Sol em um carro divino puxado por seis dragões controlando assim o seu percurso normal. Por Yandi ter a seu cargo o controle exclusivo do Sol, vieram a chamar-lhe o deus do Sol e deram-lhe igualmente o titulo de Soberano Oriental por ter passado a habitar nessas paragens.

Envergando uma túnica preta, um longo traje branco e com um ramo de Ruo na mão esquerda, o deus do Sol apresentava um aspecto iminente e poderoso. A árvore Ruo crescia apenas no céu ocidental e era luminescente, e, Yandi servindo-se do ramo que constantemente empunhava a laia de uma chitada, apressando com este o Sol e não o deixando negligenciar-se no cumprimento dos seus deveres. O deus do Sol também utilizava o ramo para limpar o céu das nuvens negras e poeiras que eventualmente o cobrissem e impedissem o Sol de brilhar na terra. Na sua mão direita, o deus Sol segurava um gigantesco arco pronto a disparar uma pontiaguda flecha ao "lobo celestial". Reza a tradição que, do mesmo modo que na terra, no céu também existiam nocivos abumais selvagens, um dos quais o "lobo celestial" - conhecido pela sua ferocidade e especialmente voraz das estrelas do céu, mas que, também, não desdenhava atacar o Sol e a Lua quando a fome apertava. Yandi estava também encarregado de defender o Sol contra as investidas desta besta.

Para que o Sol se levantasse a tempo, de madrugada, e não se atrasasse no seu trabalho, o Imperador Celestial mandou o galo de jade ficar em um ramo da Arvore Fusang, onde o Sol dormia a noite, de modo que este o acordasse na hora marcada. Com as suas penas luzidias e brilhantes, de bico e garras douradas e uma vistosa crista vermelha, ele cantava harmoniosamente o seu cacarejo ouvindo-se em um raio de mais três mil quilômetros. O galo de jade era muito cauteloso. De madrugada era sempre o primeiro a acordar e esticava o seu pescoço para cantar o mais fortemente possível e mal ele se punha a cantar os gatos de todo o mundo ecoavam, sucessivamente, os seus cacarejos. Assim, era impossível ao Sol não se levantar na hora e deixar para mais tarde o cumprimento da sua tarefa diária. No seu carro divino puxado por seis dragões, Yandi fazia o Sol deixar o lago Tanggu para começar a sua travessia celeste cotidiana ate que, chegado a montanha Yanzi, a ocidente, o Sol se retirava pausadamente. Atrás desta montanha situava-se o imenso lago Mengshui onde o Sol se banhava sistematicamente, dissipando a sua fadiga no fim de cada dia de trabalho. Depois de se banhar, o Sol mergulhava no reservatório Yuyuan, um abismo sem fundo que se ligava ao lago Tanggu a oriente. Levado pela corrente impetuosa que existia entre ambos os tanques, o Sol regressava rapidamente ao lago Tanggu, de onde subia a arvore Fusang para ali dormir cômoda e calmamente até o próximo canto do galo.

Os humanos respeitavam o Sol e Yandi e estavam-lhes profundamente gratos, porque devido ao continuo empenho de ambos, eles podiam gozar do beneficio da luz e do calor benfazejos e o mundo tornava-se, progressivamente, cada vez mais fértil e belo.

Ora, estava um dia o deus Sol, como de costume, conduzindo o seu luxuoso carro através do céu, quando, de repente, os seis dragões da sua equipagem, sentindo-se sequiosos, decidiram estacar a sua corrida. Na sua frente estendia-se o rio Vermelho cujas aguas serpentendo ao longo do vale eram tão transparentes e claras que se podia ver o seu fundo. Mas, por que se chamava a este de rio Vermelho? Porque tinha a sua origem na montanha das Flores de Pessegueiros, e ao longo das suas margens existiam inúmeras destas árvores - tanto nas vertentes, como nos vales -, na primavera, as suas flores tingiam-se de uma cor vermelha. Para matar a sede dos dragões, Yandi decidiu então, ali levar os animais de modo a que estes se pudessem refrescar.

Eis, senão, quando lhe chegou aos ouvidos a melodia de uns gorgolejos e retintins provenientes de uma rocha da montanha. Os sons eram suaves e maravilhosos, mas também de uma tristeza e melancolia contidas. Dir-se-ia o doce salpicar das aguas de uma Conte contra umas pedras. Olhando na direção de onde provinha o som, Yandi deparou-se com uma bonita jovem sentada junto a uma fonte e tocando um instrumento musical de cordas.

Ela chamava-se Ting Wo e era a filha da deusa das Aguas do rio Vermelho. Há anos que vivia solitária na montanha, sem companhia, tendo como seu único consolo o instrumento que tocava, afastando deste modo, para longe de si a solidão dos tristes dias.

Murmurante e lamuriosa a melodia do instrumento, sincopada pelo som da agua da fonte, soava como que proveniente de uma grande lonjura. Todos quantos por ali passaram e ouviram este estranho som, chamaram este local de Fonte Melancólica.

Ora, ouvindo o som desta suave musica, o deus do Sol decidiu aproximar-se, pé ante pé, acabando por se recostar em uma grande pedra ouvindo maravilhado e atenciosamente. A jovem, que não tinha dado conta da chegada de Yandi, continuou absorta a tocar o seu instrumento. A sua musica era tão emotiva que até as ervas das margens do rio e as flores dos pessegueiros pareciam querer alquebrar-se em pranto. Quando a jovem, por fim acabou de tocar, Yandi exclamou sem se poder conter:

- Oh, como era belo! Fez-me constranger o coração!

Ao ver o jovem alto e elegante, de pé, do seu lado, a jovem involuntariamente corou de vergonha e fez menção de ir embora.

- A sua musica transmitia uma extrema sensibilidade e era de uma requintada harmonia, mas por que era tão melancólica? - perguntou-lhe Yandi com um misto de simpatia e compaixão.

A jovem Ting Wo, envergonhada pela súbita aparição deste desconhecido e sobretudo sentindo-se interrogada por um tão belo rapaz, limitou-se a sorrir apologeticamente baixando a sua cabeça.

- Mas veja, não acha que a paisagem da primavera maravilhosa? A terra esta repleta de vida e vitalidade, dos ramos das arvores os pássaros cantam a viva voz, os peixes divertem-se chapinhando livremente nas aguas, banhados pelos soalheiros raios solares da primavera os trabalhadores diligentes ocupam-se das sementeiras, pela brisa primaveril as ervas e arvores... Por favor, toque uma peça alegre!... - implorou-lhe o deus do Sol cheio de otimismo e soltando umas gargalhadas.

Yandi tinha um aspecto sempre alegre e franco temperamento. Estas palavras impressionaram tão favoravelmente a jovem que sentiu como que um clarão de alento penetrar-lhe ate o fundo do coração, e então, erguendo a cabeça e olhando Yandi viu-se apoderada por uma estranha alegria e afeição; todavia, sendo demasiado acanhada para revelar o que lhe ia pelo espirito, a jovem baixou de novo a cabeça e recomeçou tangendo as cordas do instrumento emitindo sons bem diferentes dos anteriores, desta vez repletos de doce suavidade e de contida esperança.

Mas, infelizmente, o deus do Sol tendo a importante tarefa de controlar o percurso do Sol a seu cargo, não pôde permanecer por muito tempo e teve de se limitar a sorrir jovialmente a jovem, acenando-lhe um adeus apressado e retomando sem mais demora o seu caminho.

Durante todo o resto do dia, ao longo de todo o seu percurso, os sons do instrumento da jovem continuaram a soar-lhe aos ouvidos, a linda imagem de Ting Wo pairando constantemente frente aos seus olhos. Em boa verdade, o deus do Sol começava a dar-se conta que estava apaixonado pela graça e beleza da jovem.

Desde então, todas as vezes que o deus do Sol passava pelo rio Vermelho fazia ali uma paragem com o pretexto de beber agua ou de descansar sendo, no entanto, a sua verdadeira intenção conversar um pouco com Ting Wo ou ouvi-la tocar o seu instrumento musical... não havia duvida de que ela ficava muito contente com a presença de Yandi. As suas melodias já não soavam agora melancolicamente, mas sim alegres, trauteantes e empolgadas.

Desta maneira, ambos os jovens passaram a desfrutar de um mutuo amor, acabando por virem a se casar e a viverem em completa harmonia e afeição.

Do casal, nasceram um filho e duas filhas que vieram a se chamar, respectivamente, de Yan Ju, Yao Ji e Nu Wa. Não existe nenhuma lenda relativa aos feitos de Yan Ju, mas os destinos das duas filhas ficaram para a posteridade nos contos Chang E, a Desterrada Beleza da Lua e Jing Wei, a Vingadora do Mar.

Mitologia Chinesa
Yandi   
8/3/2017 2:49:11 PM | Por Antônio Daniel Abreu
Hou Yi, o arqueiro que derrotou nove sóis

Conforme conta a lenda, durante o reinado do imperador Yao, dez Sois apareceram no céu ao mesmo tempo originando gravíssimas secas. Que teria acontecido? Xibe, a Mãe-Sol, tinha dado à luz dez filhos. Moravam todos juntos no lago oriental Tanggu, para além dos confins do mar, e como não houvesse dia em que não nadassem e brincassem nas águas do lago, estas estavam sempre escaldantes durante todo o ano. No centro do lago crescia uma - enorme arvore chamada Fusang, com mais de mil metros de altura e mil braçadas de circunferência e com dez ramos, aonde os dez Sois iam sempre descansar. Mas os Sois não passavam o tempo divertindo-se em vão, pois, por ordem do Imperador Celestial, todos os dias um deles tinha de trabalhar, a fim de iluminar o mundo dos humanos. Ao que estava de guarda, competia-lhe levantar-se a oriente de madrugada, atravessar o largo céu e pôr-se a ocidente no crepúsculo, emitindo durante a sua paisagem luz e valor ao mundo. Os dez irmãos revezavam-se constantemente nessa missão a cada dez dias. O mundo de então era maravilhoso! Tinha imponentes montanhas, impetuosos rios, densas florestas, viçosas e coloridas vegetação e flores, e terras férteis arroteadas a custo de suor... Em resumo, para os dez jovens Sóis a terra era bem mais divertida do que o lago oriental Tanggu.

Todavia, os Sois tinham poucos ensejos para apreciarem juntos a esplendorosa paisagem terrestre, pois, por ordem do Imperador Celestial, cada qual podia somente descer a terra uma vez em cada dez dias.

Os Sois eram muito travessos e um dia conversavam uns com os outros quando se puseram a lastimar.

- Este lago aborrece-me muito. Estou farto de ficar aqui nove em cada dez dias. Já não posso aguentar mais! - queixou-se um dos Sois.

- É verdade! Estamos presos a este lugar desinteressante. O Imperador Celestial controla-nos tão à risca que não chegamos a ter nenhuma liberdade - acrescentou um outro.

- Eu, por mim, penso que o regulamento é justo porque o mundo humano não poderia suportar o valor se todos ai fossemos juntos - retorquiu um deles.

Ouvindo esta opinião, o Sol que tinha falado primeiro ficou muito zangado:

Justo?! Justo?! Acho que não é nada justo! deveríamos era poder divertirmo-nos a nosso bel-prazer, pois de outro modo, contidos entre estas quatro paredes, todos os dias, a vida realmente perde o sentido. A meu ver, a partir de amanha, deveríamos ir todos juntos aonde bem quiséssemos.

- Sim, tem razão. Vamos! - ecoaram em uníssono as vozes dos outros.

Assim, no dia seguinte, e a despeito das proibições do Imperador Celestial, os dez Sois deixaram o lago Tanggu e foram despreocupadamente brincar nos céus sobre o mundo humano.

Quando um Sol aparecia no céu a terra era iluminada e aquecida de modo normal, mas com dez Sois surgindo ao mesmo tempo a situação tornava-se totalmente diferente. Em breve o mundo apresentou um aspecto desolador, pois a partir de múltiplos e diferentes ângulos os Sóis derramaram a sua luz sobre a terra iluminando-a completamente e deixando-a sem nenhuma sombra. Devido a forte incidência dos raios solares a temperatura subiu vertiginosamente, os rios secaram, a vegetação e flores murcharam, e as plantações ressecaram. Devido ao extremo calor, os seres humanos respiravam ofegantes, acabando por ter de irem se esconder em grutas.

Completamente alheios a extensão da calamidade que desencadeavam na superfície do planeta, os Sois vadiavam, brincavam e até se contentavam com as suas travessuras.

O imperador Yao, que reinava então na China, era um homem de hábitos extremamente frugais. Habitava em uma cabana, comia arroz não-refinado e bebia sopa com ervas silvestres. Tomando a peito os sofrimentos do seu povo, decidiu ir suplicar aos Sois que se afastassem imediatamente do mundo humano, caso contrário, a população não poderia sobreviver, mas não querendo saber do que ouviam, os Sois continuaram a brincar sem terem a mínima intenção de voltarem para o lago de Tanggu.

O imperador terrestre não teve então outro remédio, senão recorrer ao Imperador Celestial, o qual, ficando furioso ao saber que os Sois tinham transgredido as suas instruções provocando enormes calamidades no mundo, mandou chamar imediatamente o guerreiro Hou Yi, e disse-lhe:

- Os filhos da mãe Xihe violaram a minha ordem. Eles agem como irresponsáveis, perturbando a vida normal dos habitantes do mundo. Quero que os castigues com este arco vermelho e estas dez flechas brancas que te dou.

Assim, armado com o arco e as flechas e por encargo do Imperador Celestial, Hou Yi desceu ao mundo humano.

Ao chegar à terra, Hou Yi ficou perplexo com os males que o povo passava sob o brilho dos dez Sois e, levantando os olhos, furioso, tirou o arco que levava ao ombro e preparou uma flecha que, enérgica e certeiramente disparou contra eles. A flecha atravessou rapidamente os ares atingindo um dos Sois em cheio. Ouviu-se então um estrondo celeste, e o Sol, atingido pela flecha transformou-se em uma bola em chamas despedaçando-se no solo. Espantados, os outros nove tentaram fugir o mais depressa que puderam, mas Hou Yi, com tiros rápidos e certeiros atingiu um após outro. Quando o guerreiro tirou a sua ultima seta, o imperador Yao deteve-o e disse-lhe:

- Pare! Não dispare mais! A luz solar é muito proveitosa ao mundo humano. O problema que existia é que dez Sois era demasiado para as necessidades de sobrevivência humana, mas agora, como só resta um, o melhor é não disparar mais.

Acenando positivamente com a cabeça, Hou Yi guardou então a sua arma. O ultimo Sol estava pálido de medo!

Com a morte dos nove Sois, a temperatura normal reestabeleceu-se sobre o mundo humano, gradualmente a população saiu das grutas e recomeçou a cultivar os terrenos, a caçar e a reconstruir casas, levando alegremente a sua vida pacifica de outrora.

Apos ter liquidado os nove Sois, o herói Hou Yi preparava-se para voltar as alturas, quando os habitantes da terra lhe pediram insistentemente e muito reconhecidos, que passasse uns dias de folga juntamente com eles e que, como na terra ainda existiam muitas outras calamidades, se fosse possível, o herói os ajudasse a eliminá-las.

Hou Yi decidiu satisfazer-lhes o desejo.

Com a destruição dos noves Sois, e depois de o planeta ter-se completamente recomposto da grande secura, Hebe, o demônio das aguas, começou a intensificar as suas perniciosas atividades. Assumindo a forma de um dragão branco, cavalgando sobre uma torrente de agua, o demônio viajava constantemente por toda a parte provocando enormes inundações, nas regiões por onde passava, a força da corrente arrastava homens e gado, destruindo casas e desenraizando plantações e árvores. Quando a noticia chegou aos ouvidos do imperador Yao, este ficou muito inquieto e foi imediatamente pedir ajuda ao herói Hou Yi, que generosamente lhe prometeu fazer o melhor que pudesse.

Assim, Hou Yi resolveu ir para a margem de um no e esconder-se atrás de um grande salgueiro, ficando a espera do aparecimento de Hebe, o demônio das aguas. Não tardou muito para que visse nadando em sua direção um dragão branco, acompanhado por altas vagas e desencadeando uma enchente que transbordava das margens do rio. Foi então que Hou Yi disparou a ultima flecha que lhe restava e atingiu o olho esquerdo do dragão branco. Ouviu-se um grito estridente e o animal mergulhou nas profundezas.

Ferido, o demônio das aguas foi queixar-se ao Imperador Celestial:

- Eu vivo no rio e nunca fiz nenhum mal a Hou Yi, no entanto, ele feriu-me no olho. Peso-lhe que justiça seja feita e que se vingue deste crime por mim, caso contrario, de que servem os princípios e a lei?

Mas o Imperador Celestial, estando a par do que se passava, criticou-o severamente:

- Sendo um demônio das águas, podias servir o povo, em vez de vacilares por toda parte e molesta-lo com tempestades e cheias! O teu procedimento mereceu bem o castigo que Hou Yi te aplicou!

Não tendo razão para se justificar, Hebe, o demônio das aguas, partiu sem dizer mais nada para o fundo do rio onde habitava, sem mais coragem para criar futuras desordens no mundo humano. Rodeado de afeição e respeito, Hou Yi continuou vivendo feliz na terra, sempre correndo riscos a bem da humanidade e perseguindo animais ferozes nas florestas e montanhas. Nesse tempo, o mundo era infestado por vorazes feras selvagens que deambulavam e dizimavam os homens - isto, porque a humanidade estava mal equipada para as poder enfrentar. Hou Yi não parava de correr, transportando o seu arco e flechas às costas, exterminando animais selvagens e aves ferozes.

Na planície central da China, Yayu era uma fera muito conhecida por sua bestialidade. Segundo se dizia, tinha o corpanzil de um boi coberto de longos pelos vermelhos, uma cara humana, patas de cavalo e o seu rugido, dir-se-ia, o choro de uma criança: melancólico e chocante. Tinha uma enorme força, galopava mais velozmente que todos os outros animais e ninguém escapava às suas vorazes mandíbulas. Por vezes, pela calada da noite, a fera irrompia no seio das tribos destruindo as casas e devorando as pessoas. Eram incontáveis as pessoas que ela tinha comido!

Tomando em conta os interesses do povo, Hou Yi tomou a seu cargo destruir a fera Yayu.

Assim, um dia, e de acordo com as informações dadas pelos caçadores, o herói foi procurar a fera em uma alta montanha. Chegando a um vale das redondezas deparou-se, repentinamente, com um monte de ossos humanos. Levantou então a cabeça e avistou ao longe a fera devorando uns homens no cimo de um penhasco. Furioso com o que via, o herói disparou uma flecha contra a fera acertando em cheio na cabeça do animal fazendo-o rolar pela montanha abaixo soltando roucos gemidos. A partir dessa altura, os habitantes dessa região puderam viver descansados!

Em uma fértil planície do sul da China, habitava um animal monstruoso com dentes de três metros de comprimento e pontiagudos como formões. Os homens deram-lhe a alcunha de "dentes-formão". Quando as pessoas atravessavam os rios ou lagos onde ele habitava, por vezes o animal lançava-se de súbito sobre elas, levando-as para o fundo das aguas, onde as mastigava e depois as engolia. Dir-se-ia ser quase impossível vencê-lo, porque para além dos seus enormes dentes aguçados, tinha um corpo revestido de uma pele tão dura e tão espessa como uma carapaça indestrutível contra todas e quaisquer facadas ou machadadas. Felizmente Hou Yi era um exímio arqueiro porque um dia o "dentes-formao" lançou-se contra ele abrindo a sua enorme bocarra para o devorar e, se não fosse o herói ter acertado a garganta do animal em cheio com uma flecha, de terra terminado ali os seus dias.

Segundo conta a lenda, no sul da China corria um rio chamado Xiongshui onde habitava um temível monstro aquático chamado Jiuying que matava todos os incautos que se aproximavam das suas margens. O animal tinha nove cabeças e cuspia constantemente fogo e agua, sendo tão feroz que ninguém se atrevia a querer derrota-lo. Se por acaso alguém o ferisse ou lhe tentasse cortar uma das suas cabeças, o monstro não morria, mas, pelo contrario, lançava-se com uma fúria redobrada sobre o seu inimigo. No entanto, Hou Yi, ao encontra-lo disparou nove flechas tão rápidas e certeiras que o atingiram nas nove cabeças, vindo o animal a morrer sem mesmo ter tempo para reagir.

Pouco tempo após a morte do monstro Jiuying, nas margens do lago Dongting, não muito longe do rio Xingshui, surgiu uma jiboia gigante, de um enorme comprimento e grossura, e com uma boca tão grande que era capaz de engolir um elefante por inteiro, só vomitando os ossos do paquiderme depois de o ter digerido durante três anos. Segundo se dizia, estes ossos regurgitados eram os melhores e mais eficazes medicamentos para curar todas as doenças dos órgãos internos. Era realmente um ser terrível que despovoava todos os locais por onde passava, pois deglutia todos quantos conseguisse alcançar. Foi só apos uma renhida luta que Hou Yi a conseguiu matar, sendo que os ossos da jiboia gigante transformaram-se em uma montanha que veio a se chamar de Baling.

Depois de ter morto todas as feras do sul da China, Hou Yi voltou para o norte pela região leste. Estava ele atravessando a montanha Verde quando os seus habitantes lhe disseram que a região estava infestada por uma ave de rapina chamada Dafeng, a qual agredia as pessoas e perturbava a vida normal da população. Esta ave tinha um grande porte e quando em voo a amplitude das asas chegava a cobrir metade do céu. O bater das suas asas desencadeava fortes tufões que chegavam a desenraizar milhares de arvores e a destruir centenas de casas; homens e gado eram frequentemente vitimas da sua voracidade. Hou Yi compreendeu que a ave tinha um enorme poder e podia voar para muito longe com grande velocidade e que, com uma só seta, não seria possível mata-la, pois se ela fugisse ferida seria quase impossível liquidá-la mais tarde. Consciente de que tinha de acabar com a ave de uma só vez, depois de muito pensar, Hou Yi encontrou um meio: primeiro, amarrou uma corda a haste da seta; depois, disparou uma flecha atingindo a ave em cheio e prendendo-a de modo a não a deixar fugir; e finalmente, obrigando-a a pousar, decepou-a com a sua espada. O exemplo de Hou Yi passou a ser seguido por todos quantos tencionavam apanhar animais selvagens e aves possantes.

Mais tarde, Hou Yi foi para a aldeia de Sangcun, onde matou o colossal javali Fengxi e o lobisomem Fenghu que se podia metamorfosear de felino para humano.

Assim, gradualmente, o herói Hou Yi, após a sua inicial chegada e estabelecimento no mundo humano, veio a ganhar méritos sem par por parte de todos os povos. Certamente que sob o excesso do calor dos dez Sois escaldantes, as pedras já se teriam fundido em uma massa uniforme e todas as outras coisas a superfície da terra estariam derretidas, todo o planeta provavelmente estaria reduzido a cinzas, se não fosse Hou Yi ter infalivelmente atingido os noves Sois que agiam tão arbitraria e descuidadamente no céu. E que grandes ameaças seriam para a vida humana, se todos aqueles animais e aves malévolas não fossem mortos pelo herói?!... Por isso, de geração em geração, os povos continuam a recordar-se e a venerar o herói Hou Yi sempre com o maior respeito e grande admiração.

 

Mitologia Chinesa
Hou Yi   
8/3/2017 2:42:41 PM | Por Antônio Daniel Abreu
A Vitória de Huangdi Sobre Chiyou

Pode-se dizer que o berço da nação chinesa é a bacia do rio Amarelo. Irrigada por este rio e pelos seus em numerosos afluentes, esta região sempre foi, desde tempos remotos, extremamente fértil. Para além de ambas as margens do rio estendem-se imensas planícies, quer cultivadas, quer pastagens verdejantes, quer cobertas por compactas florestas. Na antiguidade, o clima era mais úmido e a região era habitada por uma enorme profusão de animais selvagens e de grande porte - entre os quais, elefantes. Os primitivos que ai viveram, caçavam, levavam o seu gado às pastagens e cultivavam os terrenos. Corajosos e inteligentes, viviam felizes e prósperos. Ora, nesse tempo, o território chinês e os seus habitantes eram governados pelo imperador Huangdi, reconhecido hoje em dia como um dos fundadores da nação. Diz a lenda que era também um deus inteligente e corajoso.

Para além da sua residência celeste, Huangdi também tinha uma capital na terra situada nas montanhas Kunlun, a oeste da China. Aqui existiam também magníficos palácios e esplendorosos jardins suspensos; o imperador só comendo do melhor arroz possível e exclusivamente bebendo agua do lago de jade.

Huangdi tinha, no entanto, uma fisionomia muito espantada, pois tinha quatro caras com as quais era capaz de olhar em todas as direções ao mesmo tempo, podendo, desta maneira, supervisionar todo o mundo constantemente e melhor ajudar os seus súditos.

De costume, Huangdi habitava quer em seu palácio celestial ou em seu palácio ocidental, no entanto, interessado pelo futuro do seu povo, descia com frequência a terra para o ajudar.

Na antiguidade remota os barcos e demais veículos ainda não tinham sido inventados, assim, era com grande dificuldade ou era mesmo impossível atravessarem os rios, e os habitantes de duas margens opostas por um mesmo caudal, não tinham praticamente quaisquer contatos com os outros. Como também não existiam quaisquer meios de transporte mecânicos, as pessoas deslocavam-se à pé não podendo, por isso, percorrerem grandes distancias de uma só vez.

Huangdi ensinou aos mortais a técnica de como escavar troncos de grandes arvores, fazendo assim embarcações; também os ensinou a fazer veículos de duas rodas capazes de percorrerem mais de uma centena de quilômetros por dia - os meios de transporte tornaram-se acessíveis a todos, vindo assim, a melhorar consideravelmente os meios de locomoção.

Nesses tempos também não havia um sistema de codificar a passagem do tempo, sabendo-se somente que apos um período quente vinha um período frio e assim em sucessão - os homens nascendo, crescendo e morrendo, sem nunca saberem as suas respectivas idades. Huangdi transmitiu aos mortais um calendário sexagesimal, no qual estavam incorporados os anos segundo uma combinação dos 10 Troncos Celestes com as 12 Ramificações Terrestres, dando origem a uma cronologia primitiva que veio se a tornar muito útil para a vida cotidiana do povo e para a programação das culturas agrícolas.

Huangdi ordenou também aos seus vassalos Cang Jie e Ling Lun, que criassem uma escrita a base de ideogramas e que compusessem uma escala musical dividida em 12 notas. Em conjunto com Qi Bo, Huangdi escreveu o primeiro tratado de medicina chinesa chamado Huangdi Neijing (O Clássico do Organismo). Huangdi também ensinou aos homens os rudimentos da agricultura, estruturou-lhes o uso e a feitura dos utensílios caseiros. Em abono da verdade, deve-se dizer que Huangdi governava o seu país de uma maneira bem mais benéfica que os outros imperadores da antiguidade que se intitulavam arrogantemente como descendentes do Imperador Celestial.

No entanto, neste mundo existem dois tipos de pessoas: as boas e as más!

Ora, em um calmo ano, o demônio celeste Chiyou fez uma particularmente maldosa incursão ao sul da China. Chiyou tinha uma cabeça humana com quantro olhos, seis braços e os pés transformados em cascos de boi. Sendo o demônio-chefe em total controle do sul da China, cometia crimes inimagináveis a seu bel-prazer; os seus 81 irmãos e os múltiplos súditos eram tão cruéis quanto ele. Chiyou tinha-se apoderado do seu lugar supremo graças a ardilosas cumplicidades, explorando os humanos e abusando tiranicamente do seu ascendente poder. Mais tarde, a sua crescente ambição fê-lo ganancioso das terras do norte, vindo a atacar esta região e destruindo na sua passagem tudo e todos quantos encontrava pela frente: casas, lavradios, gado, homens, mulheres, idosos e crianças - nos lugares onde ele tinha passado com os seus sequazes a erva nunca mais voltava a crescer.

Quando Huangdi se inteirou da recente situação, decidiu que o temível Chiyou tinha de ser morto, pois esta seria a única maneira de o fazer parar de cometer mais atrocidades.

Chiyou e os seus cumplices ocupavam estrategicamente a região de Zhuolu, a norte do rio Amarelo, quando Huangdi, à cabeça de um poderoso exercito, caiu inopinadamente sobre Chiyou e suas tropas. O imperador tinha sob as suas ordens um número de intrépidos generais tais como Zhao Ying - o jardineiro real - um deus extremamente corajoso que tinha uma cara humana, um corpo de cavalo, uma pele de tigre e duas enormes asas que lhe saiam do dorso e lhe permitiam voar tal como uma ave; Li Zhu - o guardião da arvore dos frutos de jade - um deus intocável que tinha três cabeças que lhe davam o poder de escrutinizar o horizonte ininterruptamente de dia e de noite dormindo, alternadamente com uma cabeça enquanto estava acordado com as outras duas; Chi Gou; Xiang Wang, Shen Tu, Yu Lei, Miao Long - o seu próprio filho -, e mesmo Shi Ju - o seu neto. Cada um destes deuses era detentor de um poder sobrenatural particular e diferente, mas para poder lutar ainda mais eficazmente contra Chiyou e os seus cumplices, Huangdi recorreu a ajuda extraordinária de um grande número de ursos, tigres e leões.

No entanto, como Chiyou não estava minimamente disposto a retroceder, cada encontro de tropas dava lugar a uma renhida contenda, levantando tamanhas nuvens de poeira do solo das planícies de Zhuolu que, dir-se-ia, o céu estava para desabar a qualquer momento.

Após o rápido ataque dos batalhões de Huangdi, as tropas de Chiyou não tiveram outra alternativa senão retrocederem, foi então que o malvado demônio, para quebrar o cerco que o rodeava, mais aos seus, abriu a sua bocarra e, levantando a sua cabeça, cuspiu uma enorme e espessa bruma que em um segundo cobriu toda a região, obscurecendo a terra e enegrecendo o céu de tal modo que as tropas de Huangdi se desorientaram totalmente.

Mas Huangdi, sem se descontrolar, chamou urgentemente o seu súdito Feng Bo, que controlava os ventos do universo e este, desenvolvendo ao máximo os seus poderes, desencadeou uma enorme tempestade que durou três dias e três noites sem que, no entanto, esta fosse suficientemente forte para aniquilar a bruma previamente originada por Chiyou. O exercito de Huangdi movia-se de um lado para o outro à procura do inimigo sem nunca o conseguir localizar. A situação tornava-se cada vez mais grave para as tropas imperiais.

Huangdi decidiu então empregar ao máximo os seus conhecimentos astronômicos e, sabendo que a constelação da Ursa Maior estava sempre orientada na mesma direção, inventou um carro celeste capaz de indicar constantemente qual o caminho a seguir - um estranho mecanismo, no qual uma figura de madeira com o braço levantado apontava inexoravelmente com o seu dedo indicador esticado na direção do sul. Graças a este engenho, os batalhões de Huangdi puderam encontrar os caminhos certos a seguir e romper o cerco que, entretanto, o inimigo lhes tinha feito.

Chiyou começou então a entrar em pânico e querendo contra-atacar as tropas de Huangdi com o máximo de rapidez e sem lhes deixar tomar alento, enviou contra elas uma tropa de demônios das florestas e das montanhas, comandados por Chi Mei e Wang Liang. Chi Mei era um demônio de cara humana e corpo de animal, que soltava os mais horripilantes gritos, e Wang Liang era um anão de longas orelhas pontiagudas, olhos encarniçados, cabelos compridos e lima aterradora pele vermelha e preta. Mas Huangdi, sabendo que eles não suportavam as vozes dos dragões, ordenou as suas tropas que soassem trompas que imitavam as vozes destes, pondo assim ao largo, a presença dos demônios.

Como fazer, no entanto, para vencer definitivamente Chiyou? Então Huangdi teve a ideia de fazer um enorme tambor, cujo toque incentivasse a moral dos seus homens. Sabendo que no Mar Oriente se erguia a montanha Liupo, e que ali vivia a besta Kui - um ser que se assemelhava a um gigantesco boi sem chifres, de olhos luzidios tais como relâmpagos, com uma pele de cor macilenta, que se deslocava saltitando sobre o seu único casco, e cujo raro grito parecia o estertor de um trovão - ordenou que este fosse morto e que com sua pele fosse feito um gigantesco tambor, aproveitando-se dois de seus ossos para duas enormes baquetas. Quando o tambor ficou acabado, o seu ribombar fazia tremer a terra e sacudirem-se as montanhas, podendo o seu som ouvir-se a mais de 250 quilômetros de distância.

Assim, o combate reacendeu-se ferrenho; tocou-se o tambor e as montanhas tremeram, e as tropas de Huangdi lançaram-se ainda mais acérrimas sobre o inimigo. Perante o ímpeto de tal ataque, as tropas de Chiyou estacaram de receio não ousando mais avançar.

Vendo-se na extrema necessidade de comandar a cabeceira das suas tropas, Chiyou armou então as suas seis mãos com duas lanças, dois arcos e flechas, e duas espadas, e os seus dois pés com duas alabardas - tomando um aspecto tão temeroso que ninguém ousava aproximar-se dele.

Como depois de nove assaltos consecutivos Huangdi ainda não o tinha conseguido derrotar, decidiu então chamar Ying Long para que este o viesse ajudar. Ying Long era um enorme animal que tinha a capacidade de poder vomitar água, e arrastar com o simples abano da sua possante cauda milhares de soldados do inimigo. Colocando-se frente às tropas de Chiyou, Ying Long abriu a sua enorme bocarra e descarregou tumultuosas vagas que fizeram submergir os soldados do inimigo. Em contrapartida, Chiyou, tendo o poder de invocar as forças da chuva e do vento, subiu as alturas e desencadeou uma chuva torrencial que se abateu sobre o exercito de Huangdi, fazendo com que os soldados deste se enterrassem no lodo e perdessem a capacidade de movimentos. Huangdi teve então, de apelar para a presença de sua filha Nü Ba - deusa das secas - que vivia nos montes Xikunzi, para que esta fizesse parar a chuva sem mais demorar. De fato, por onde quer que passasse, Nü Ba irradiava muito calor escaldante, desintegrando as nuvens e evaporando a chuva. Por isso, costumeiramente, a deusa vivia desterrada a viver nos montes Xikunzi e estava proibida de sair deste local livremente, mas desta vez, foi autorizada a utilizar os seus poderes sem restrições, pairou sobre as tropas de Chiyou e queimou com seus raios os homens do exercito inimigo. Desorientado por tal acontecimento, Chiyou retrocedeu apressadamente e aproveitando-se desta sua momentânea desorientação, Huangdi precipitou-se sobre ele e, com a rapidez de um relâmpago, cortou-lhe a cabeça com um só golpe.

A luta concluiu-se, assim, com Huangdi saindo vitorioso. Ao morrer, o corpo de Chiyou desintegrou-se, não restando mais do que a sua cabeça, com a sua enorme bocarra aberta, tal como a entrada de uma gruta. Ao ver tal imagem, Huangdi lembrou-se então que Chiyou era também cognominado de Tao Tie, ou seja, de "sanguinário".

Apos o fim de Chiyou, os homens puderam viver em paz e trabalhar de uma maneira mais edificante. Em memoria desta vitória, Huangdi ordenou que se explorasse uma mina de cobre em Shoushan, e que com o minério extraído se fabricasse um enorme trípode com quatro metros de altura, no qual se encontra narrada a historia do combate contra Chiyou, e onde se deixasse bem explicito que "o mal seria sempre castigado". Em memoria de tal acontecimento, Huangdi compôs também um trecho musical dividido em dez partes: A Cólera do Trovão, O Pânico do Tigre, O Estertor do Kui etc.

Quanto a Nü Ba, depois da vitória do exercito imperial, tomando gosto à sua liberdade temporária, resolveu não mais seguir as ordens do seu pai e partiu em viagem por mutilas regiões, dando origem a terríveis secas por onde passava e fazendo definhar todas as arvores e culturas desses lugares. O subalterno Shu jun acabou por informar Huangdi do que se passava, o qual, ao ouvir isto, ficou tão colérico que ordenou que a sua filha fosse afastada para lugares ainda mais longínquos, para além do rio Chishui, mas Nü Ba, tendo um caráter caprichoso, continuou fazendo eventuais incursões, secando tudo na sua passagem, e foi para lutar contra estes esporádicos e imprevisíveis acontecimentos, que os homens decidiram abrir canais de irrigação e criar tanques de reserva de aguas. Vendo isto, Nü Ba sentiu-se diminuída das suas capacidades magicas, começou a enfadar-se dos seus passeios furtivos e, eventualmente, veio a retirar-se para sempre.

Mitologia Chinesa
Huangdi   
8/3/2017 2:14:18 PM | Por Antônio Daniel Abreu
Hou Ji, o Mestre Agrônomo

Era uma vez uma mulher chamada Jiang Yuan, cuja bondade e empenho no trabalho eram do conhecimento geral mas, tendo já feito 406 anos de idade, a pobre mulher passava os dias cabisbaixa e triste por não ter sequer um filho a que chamasse seu. Em um ano, quando as andorinhas chegaram anunciando a primavera, ela foi, como já era costume, rezar ao templo do deus celestial, situado nos arredores da cidade, para que este lhe concedesse uma criança. Depois de ter depositado pia e respeitosamente as suas ofertas votivas, regressava a mulher a casa, quando viu uma grande andorinha que esvoaçava entre a folhagem dos bosques, piando sem cessar, levando atrás uma outra andorinha que imitava tudo o que a maior fazia. Tratava-se de uma andorinha-mãe que estava ensinando a sua cria a voar e a procurar insetos. O carinho da ave-mãe e a alegria do filhote suscitaram a inveja e a admiração de Jiang Yuan e fizeram-na de novo pensar que bom seria se também ela pudesse ter uma criança.

Prosseguia assim caminhando concentrada em tais pensamentos quando, de súbito, se deu conta de uma pegada tão enorme, que o dedo grande do pé por si só era tão longo como a altura de um homem. E Jiang Yuan sentiu que algo de muito estranho estava se passando, mas, como, a gigantesca pegada se encontrava exatamente no centro da estrada obstruindo-lhe a passagem, ela decidiu pisar cuidadosamente no dedo grande a fim de prosseguir seu caminho, mas, mal tinha colocado o seu pé sobre a pegada, sentiu uma pujante força invadir-lhe o corpo. Admirada com o sucedido, mais tarde Jiang Yuan contou o que tinha se passado aos aldeões, seus conterrâneos. Em breve a noticia corria de boca em boca e veio a originar os mais diversos comentários.

- Uma pegada tão grande como um homem? Isso nunca foi antes visto. Para se deparar com um fenômeno tão estranho como esse, certamente ofendeu o deus celestial! - disseram-lhe uns.

- Péssimo agouro. Prepare-se para lhe acontecer uma grande desgraça! - disseram-lhe outros.

Tais e muitas outras funestas opiniões fizeram a pobre mulher tão aterrorizada que já não conseguia mais manter-se calma e sossegada.

Acontecia que, em uma aldeia vizinha, vivia um velho que os aldeões consideravam sábio, por dar ensinamentos pertinentes a todos quantos se encontravam em uma situação embaraçosa. Jiang Yuan decidiu ir visitá-lo, e o velho depois de ouvir o que ela lhe contou sobre a pegada, felicitou-a, dizendo-lhe:

- A andorinha é um passado auspicioso que anuncia a chegada da primavera. A visão da andorinha-mãe ensinando a andorinha-macho deve ser interpretada como um bom augúrio. O deus celestial não poderia castigar uma mulher tão bondosa como tu. A pegada não foi mais do que o sinal de um milagre. Estou seguro que daqui a pouco tempo irás dar a luz um anafado bebê.

O tempo foge... e em um abrir e fechar de olhos as andorinhas voltaram a partir para o sul... e, certo dia, tal como o velho tinha previsto, a mulher Jiang Yuan teve um menino. A estranha noticia provocou opiniões negativas entre a população local.

- O menino é um monstro! O parto foi fácil demais, sem quaisquer dores nem sofrimentos - diziam uns.

- Essa criança será a origem da nossa desgraça! Devemos acabar com ele quanto mais cedo melhor - diziam outros.

Assim, não obstante as suplicas de Jiang Yuan, um bando de homens entrou-lhe em casa e tirou-lhe, à força, a criança dos braços, não pesando a mínima atenção a dor e tristeza que ela experimentava como mãe.

Sabendo que todas as noites um rebanho de ovelhas e uma manada de bois passavam por uma estreita vereda, os homens decidiram deixar a criança atravessada no carreiro, pensando que o gado, ao passar, o espezinharia provocando-lhe a morte.

O Sol ía-se pondo. Os bois e as ovelhas que se tinham dispersado pelas colinas começaram a convergir para a vereda, e em breve partiram, correndo ao longo do carreiro em direção ao curral, mas eis que quando os animais, ao depararem-se com o bebê deitado no chão, estacaram passo. O primeiro boi da manada mugiu e lambeu carinhosamente a face da criança, partindo depois, cuidadosamente contornando-o; a primeira ovelha do rebanho fez a mesma coisa. Todos os animais seguiram o exemplo dos seus lideres, passando por ambos os lados do menino, sem sequer lhe tocarem.

Impressionados com tal prodígio, mas não se resignando com o seu fracasso, os aldeões malévolos decidiram que na madrugada seguinte abandonariam o bebê no seio de uma floresta. Entretanto, tendo nevado abundantemente naquela mesma noite e a temperatura tendo baixado vigorosamente, no dia seguinte a floresta foi invadida por uma multidão de gente que ali foi cortar arvores a procura de lenha e madeira. Como já não fosse então conveniente ali abandonar um bebê, os vilões mudaram de planos, decidindo deixar a criança no rio que agora se encontrava gelado.

Um turbilhão de flocos de neve esvoaçava pelos ares. O rio encontrava-se coberto por uma espessa camada de gelo. Fazia-se sentir uma forte aragem frígida. Os homens abandonaram o menino sobre a superfície glacial do rio e partiram. De súbito, como que caídos do céu, apareceram uns pássaros que depois de sobrevoarem a criança, pousaram ao seu redor, cobrindo-a com suas asas abertas e revigorando-a com o calor dos seus corpos. O bebe, saindo da letargia gelada em que se encontrava, começou então a chorar tão intensamente, que em breve muitas pessoas se aperceberam do que lhe tinha acontecido.

Ao ouvi-lo chorar daquele modo, o coração de mãe de Jiang Yuan não pode mais conter a sua tristeza, e a mulher, correndo todos os riscos, foi buscar o seu filho. Tendo-se malogrado todas as tentativas que tinham feito para matarem a criança, os aldeões decidiram então desistir da sua ideia original e permitir a sua sobrevivência, optando antes, por despreza-lo completamente e, como o menino tinha sido abandonado varias vezes, puseram-lhe a alcunha de "rapaz abandonado".

Graças aos cuidados extremosos da mãe, a criança tornou-se um belo e forte rapaz, e tal como sua mãe, o filho era um empenhado trabalhador. Como passa¬tempo divertia-se a recolher sementes que se apressava em ir plantar, curioso em ver como depois cresciam, espigavam e amadureciam. Aconteceu que os grãos de milho que cultivou deram plantas maiores que as normais, e todos quantos as viram ficaram deslumbrados pelas espigas douradas. E, como desde a antiguidade, o nome genérico para os cereais fosse Ji, a mãe dera ao rapaz o nome de Hou Ji, ou seja: Mestre Agrônomo. Com o passar do tempo e já crescido, Hou Ji comprovou ser um homem dotado de grande inteligência e aplicação.

Na sociedade de então, as populações ainda ignorantes dos rudimentos agrícolas limitavam-se a caçar e a colher ervas selvagens e frutos silvestres de territórios determinados, para saciarem a sua fome, migrando para outras regiões, em uma luta pela sobrevivência, caso a caça rareasse ou houvesse uma escassez de plantas comestíveis. Múltiplas vezes, os homens enfrentavam longas jornadas em uma busca desesperada por alimentos, arriscando as suas vidas, caso encontrassem qualquer fera, ou vendo-se constrangidos a comer certas plantas menos aconselháveis - por vezes mesmo venenosas.

Consciente da instabilidade cotidiana da humanidade, Hou Ji prometeu a si próprio fazer todos os esforços que estivessem ao seu alcance para modificar tais condições de vida.

Em uma primavera, Hou Ji prendeu umas lascas de pedra e uns largos ossos bovinos a uns paus de madeira, fabricando assim, ferramentas primitivas com as quais ele arou uma boa porção de terreno, ali semeando grão que tinha especialmente escolhido das plantas silvestres. Depois, de tempos em tempos, Hou Ji regou as suas culturas com água de um rio que ali corria perto e assim, em breve, o seu terreno tornou-se um campo de verdejante esplendor. Cotidianamente, sem falta, mesmo sob um vento frio, uma chuva torrencial ou um sol escaldante, nada parecia poder impedi-lo de trabalhar, revezando-se sucessivamente no forcado e na monda.

Com a chegada do outono, as douradas espigas de milho miúdo brilhavam ao sol, grandes como caudas de raposa nas terras cultivadas por Hou Ji. O sorgo vermelho, os feijões verdes e as melancias redondas estavam já maduros. O seu sorgo e os feijões eram muito mais gostosos que os selvagens; as suas melancias bem mais doces que as naturais. Todos os aldeões se encontravam maravilhados pelo êxito de Hou Ji e muitos eram obrigados a dizer-lhe:

- Temos vivido nestas paragens há varias gerações, mas nunca vimos nem provamos nada de tão impressionante como o que plantaste. Dize-nos, como fizeste para que tal milagre viesse a acontecer?

Mas Hou Ji limitava-se a levantar os seus braços e a responder com a maior das descontrações:

- O deus celestial deu-nos uma grande variedade de cereais selvagens comestíveis, mas não nos devemos esquecer que também nos deu uma cabeça para pensar; na posse destes dons podemos criar um em número sem conta de milagres!

Dos ouvintes presentes, uns ficaram convencidos com as palavras de Hou Ji, mas outros permaneceram duvidosos do que ele lhes dizia, pensando antes que o deus celestial lhe tivesse dado boas sementes, graças às quais, ele tivesse podido obter abundantes colheitas. Não obstante, a noticia de que Hou Ji tinha obtido boas colheitas rapidamente se propagava aos quatro ventos e, como os cereais se relacionavam estreitamente com a sobrevivência da vida de todos, muitos vieram pedir ajuda a Hou Ji.

Com todos quantos o abordavam, ele foi bondoso e modesto e de boa vontade explicou tudo quanto tinha aprendido à custa própria, nomeadamente, como se escolhiam as sementes, qual era o melhor método de arar a terra, quando era tempo da sementeira, como se mondava, e qual era a época da ceifa. Entre os aldeões havia muitos que aceitavam as explicações de Hou Ji e quando seguiam o mesmo método obtinham boas colheitas.

A partir de então, a raça humana empenhou-se em cultivar a terra produtivamente e em desenvolver técnicas agrícolas, passando a pertencer ao passado o fato de se perseguirem os animais selvagens exaustivamente, dia e noite, pelas montanhas afora para os caçar, e de se comerem plantas e frutos silvestres. Com o cultivo dos cereais, a humanidade passou a poder levar uma existência mais sedentária, construindo habitações mais duradouras, e sólidos armazéns para guardar cereais, e vindo os movimentos migratórios por necessidade de sobrevivência a arear na superfície do planeta. Corm o correr dos tempos, informações sobre as importantes contribuições feitas por Hou Ji chegaram aos ouvidos do monarca Yao, este, por respeito aos seus elevados préstimos deu-lhe um titulo nomeando-o de "Mestre Agrônomo". No entanto, Hou Ji não deixou de trabalhar no seio do povo que amava, vindo progressivamente a aperfeiçoar novas técnicas agrícolas e a criar novos instrumentos de cultivo, chegando mesmo, mais tarde, a conseguir, conjuntamente com seu filho Tai Xi e o seu sobrinho Chu Jun, vir a domesticar bois selvagens, que consequentemente utilizou no cultivo das terras, diminuindo assim, consideravelmente, a intensidade do trabalho manual. Passaram-se cem, talvez mesmo duzentos anos... ninguém sabia ao certo qual a idade de Hou Ji quando este faleceu, mas todos traziam reconhecidamente presente na memoria suas notaveis contribuWoes, que tinham trazido tanta prosperidade a vida humana. A fim de lhe manifestarem sua gratidão, todos quantos o conheceram consideravam que sua ultima morada deveria situar-se em um local pitoresco, entre árvores e riachos, e ali passaram a correr em grupos a prestar-lhe homenagem tanto na primavera - quando na natureza desabrochavam as campinas em flor e nas terras irrompiam os rebentos verdejantes - como no outono -, quando terminavam as colheitas e era o tempo da desfolhada. Em sinal do seu eterno respeito e saudade, homens e mulheres, velhos e crianças, ocorriam periodicamente ao tumulo de Hou Ji, cantando, dançando e colocando flores das mais belas, espigas das maiores e melancias das mais maduras.

Mitologia Chinesa
Hou Ji   
8/3/2017 1:55:37 PM | Por Antônio Daniel Abreu
Suirenshi, o inventor do fogo

Conforme se sabe, os primitivos viviam sem fazer uso pratico do fogo. Há quem diga que era originalmente controlado por um monstro de cabeça humana e corpo de dragão - o Deus do Trovão - que gostava de deambular pelo mundo nas épocas do verão e da primavera. Bastava o Deus do Trovão tocar em uma arvore mais carunchosa com a sua cauda, para que lançasse terríveis labaredas que lambiam o céu, queimavam as demais arvores e ervas, assustavam todas as pessoas e afugentavam os animais para longe. Nesses tempos, o fogo era ainda considerado misterioso, mas já tido como muito útil à vida humana. Os homens não tardaram a reconhecer que a carne assada era bem mais apetitosa que a carne crua, que as chamas tinham a capacidade de afugentar as trevas tornando a noite tão clara como o dia, e que o lume abate o frio restaurando o calor propicio ao conforto físico.

Mas, excetuando as raras vezes em que o Deus do Trovão concedia fogo a humanidade, aonde iria esta obtê-lo para satisfazer as suas necessidades?

Em boa verdade, um fogo permanente existia nos confins oeste do mundo, em uma região onde nem o sol nem a lua alumiavam com seus raios, em um reino que se chamava Suiming, onde só havia uma única estação anual, onde tudo estava permanentemente verdejante, onde frios rigorosos não se faziam sentir, e onde a noite era tão clara como o dia. Tais estranhos fenômenos eram devido a existência de uma arvore chamada Suimu, cujo tronco era tão grosso, que seriam necessárias várias centenas de pessoas para o abraçar, e cuja copa era tão frondosa que chegava a cobrir dezenas de milhares de hectares de terras e, como das suas ramagens e tronco radiassem incessantemente luz e calor, era também apelidada de Arvore do Fogo.

Todavia, tal reino era tão longínquo, que todos quantos tinham partido a sua demanda, tinham visto baldados os seus esforços. Contava-se que para chegar lá, era preciso transpor mil montanhas escarpadas, atravessar dez mil rios impetuosos, percorrer trilhos escabrosos e vencer um sem-número de dificuldades inesperadas. Muitos tinham já tentado chegar lá, mas todos tinham fracassado, uns despedaçando-se das vertentes das altas montanhas, outros se afogando na rebeldia das águas dos profundos rios, outros, ainda, devorados pelas feras das florestas, os demais sucumbindo sob o sol escaldante ou transformados em gelo polo frio rigoroso. A maioria, claro está, sendo fracos de espirito e de físico, desistiam logo a meio do caminho, aterrorizados pelos perigos cada vez maiores do trilho que desvendavam.

Em resumo, se bem que a luz e o fogo fossem desejáveis, a "fonte" da sua existência mantinha-se secreta, e situava-se em uma região tão recôndita que repetidamente desafiava e frustrava as maiores capacidades e empenhos humanos.

Ora, conta-se que em uma comunidade primitiva vivia um certo jovem inteligente, possante e corajoso, de alta estatura, perito no tiro-ao-arco, exímio em escalar montanhas, ótimo nadador e, acima de tudo, com o ardente desejo de dar o máximo de si ao serviço da sua tribo.

Um dia, tendo ouvido dizer que no remoto reino de Suiming existia a tal Arvore do Fogo, resolveu ir à sua demanda e, apesar de ter sido alertado dos sofrimentos que outros tinham passado, nada o fez remover a sua previa decisão.

A ideia de ir buscar o fogo no reino de Suiming, e de desvendar a humanidade o segredo da luz e do calor inspirava-o enormemente, e assim, um dia, armado com o seu arco e flechas, o jovem despediu-se dos seus conterrâneos partindo em direção a oeste. De fato, as dificuldades da viagem provaram ser incalculáveis. Sempre que as altas montanhas lhe impediam o avanço, ele escalava-as, agarrando-se a vimes e a pedras, sempre que lagos e impetuosos rios se estendiam na sua frente, ele atravessava-os em canoas improvisadas de ramos de árvoes que abatia, sempre que tigres ferozes ou jiboias venenosas o atacavam em florestas ou se precipitavam fora de grutas, ele lutava até vencê-los. Muitas vezes tombou, prostrado de fome, sede e cansaço, quando o ardente calor do verão lhe queimou a pele ou o vento frio do inverno lhe gelou os pés e as mãos. Mas a sua força de vontade, a sua firmeza e a sua convicção faziam-no sempre erguer-se de novo.

O tempo passava rapidamente... o jovem já não sabia quantos anos tinham passado nem quantos quilômetros tinha percorrido; andava e continuava a andar de tal modo, que já há muito tinha deixado para trás o Sol e a Lua. Ao seu redor, na sua frente, tudo se encontrava mergulhado em uma negra penumbra, mas, animado pela vontade de encontrar a Arvore do Fogo e de desvendar o mistério da sua luz, ele persistia em caminhar avante no escuro.

Ora, um dia, quando o jovem prosseguia tentando vencer as trevas que agora lhe pareciam ser definitivas, de súbito, deu-se conta de um distante e fraco clarão, tal como se tratasse dos raios da aurora matinal. Conforme foi se aproximando do clarão, assim a luz se ia tornando mais intensa, fazendo-lhe crer que já estava perto daquele reino de Suiming, que ele desde há muito esperava vir a encontrar.

Radiante de alegria, desatou a correr com todas as suas energias para frente, na direção do clarão, e então se deparou com uma arvore tão grande como nunca tinha visto outra igual sobre a terra. A Arvore do Fogo tinha umas gigantescas raízes torcidas, uma luxuriante e compacta ramagem que cobria dezenas de milhares de hectares de terra, e as suas folhas cintilavam como se fossem perolas e pedras preciosas, iluminando até o horizonte e perdendo-se de vista.

O jovem, radiante por ter sido o primeiro homem a descobrir a misteriosa Arvore do Fogo que desde há várias gerações muitos mortais ansiavam atingir, aproximou-se com o intuito de observar minuciosamente como eram gerados o fogo e a luz.

Viu que ná arvore estava um em núumero sem conta de aves cujos bicos duros e pontiagudos produziam a cada bicada nos seus troncos e ramos, múltiplas e fascinantes faíscas. Vendo isto, o inteligente jovem compreendeu imediatamente o método pelo qual poderia obter o fogo.

Subindo a Arvore, arrancou vários ramos da sua copa e depois de os ter friccionado longamente uns contra os outros, viu finalmente saltar um grupo de faíscas.

Restava-lhe agora saber se seria possível produzir fogo com ramos de outras arvores, tal como tinha feito com a Arvore do Fogo. Entusiasmado pela sua ideia, decidiu pô-la em pratica, vindo o resultado a comprovar a hipótese - a única diferença estava na duração do tempo de fricção.

Não se podendo conter de alegria, o jovem regressou o mais depressa que pode à sua comunidade onde, imediatamente começou a ensinar o método de fazer fogo a toda à população. Desde então, foi possível a todos produzirem fogo sempre que quisessem, não mais sendo necessário esperar a mercê ocasional do Deus do Trovão.

Com o advento do fogo, os homens começaram a cozinhar os comestíveis que caçavam no inverno, quando fazia frio, sentavam-se ao redor de improvisadas lareiras, aquecendo-se deste modo. O fogo passou a iluminar as longas e escuras noites. Com archotes.

As pessoas defendiam-se do ataque das feras. E em um período mais tardio, os homens conceberam forjar e aprenderam a fundir os minerais e a moldar armas e utensílios afiados e agudos. Hoje em dia, poder-se-ia pensar que a obtenção do fogo se deu por um mero acaso, graças ao friccionamento dos ramos das árvores. Mas a verdade, é que foi graças a este método simples e primitivo, que custou muitos sacrifícios, que a humanidade passou a uma fase decisiva no processo da civilização. Como testemunho e em agradecimento da árdua tarefa, os antigos deram ao jovem aventureiro o nome de Suirenshi, ou seja, Deus do Descobrimento do Fogo.

Mitologia Chinesa
Suirenshi   
8/3/2017 1:43:53 PM | Por Antônio Daniel Abreu
Chang E, a desterrada beleza da Lua

A 15 de cada mês do calendário lunar uma Lua límpida e brilhante paira sempre nas alturas celestes da noite transparente. Com uma beleza sentimental e expressiva ela contempla a terra com uma cara sorridente, derramando os seus suaves e diáfanos fulgores sobre esta. Conforme conta a lenda, nessa Lua redonda e luminosa mora a deusa Chang E, a mulher do herói Hou Yi (o arqueiro que derrotou nove sóis). Mas por que passa a deusa uma vida solitária na Lua? A resposta a essa pergunta encontra-se na seguinte e triste estória. Por ordem do Imperador Celestial, Hou Yi tinha disparado nove setas contra os nove Sois, castigado o demônio das aguas, aprisionado e morto um grande em número de animais e aves selvagens. Assim, com o beneficio que ele trouxe aos seres humanos ganhou a estima e o respeito de todos. O herói que era um incansável viajante, percorreu inúmeras regiões ajudando as populações e tendo sido sempre albergado pelo povo de todos os locais.

Um dia depois de uma longa caçada Hou Yi atravessava sedento um riacho no caminho de regresso para casa, quando se deparou com uma jovem sorvendo a água da corrente com um bambu oco. Aproximou-se da jovem e perguntou-lhe se também podia utilizar o bambu para beber. Vendo as flechas brancas e o arco vermelho que Hou Yi levava às costas, esta se apercebeu de que o vigoroso e elegante homem devia ser o herói e, para lhe mostrar a sua gratidão pelos feitos operados por ele relativos ao bem-estar da humanidade, passou-lhe imediatamente o instrumento para que ele pudesse beber e colheu um ramo de flores para lhe oferecer em sinal de admiração. Em retribuição desta cortesia, Hou Yi escolheu uma das mais preciosas peles da raposa prateada que tinha acabado de caçar e presenteou-a a jovem. Após encetarem conversa o herói veio a saber que a jovem se chamava Chang E, que os seus pais tinham sido vitimas dos animais selvagens da floresta e que vivia agora solitária, vestindo uma blusa e uma saia branca em expressão do seu imenso pesar pela morte de ambos.

Condoído com o infeliz passado da jovem, Hou Yi tentou consola-la o melhor que lhe foi possível e estes sentimentos altruístas despertaram o amor da jovem pelo herói; pouco tempo depois eles casaram-se formando um par mutuamente dedicado e respeitador.

A partir de então Hou Yi e Chang E tornaram-se inseparáveis, viajando e caçando sempre na companhia um do outro de tal modo unidos que o herói decidiu não fazer caso a ordem que recebera do Imperador Celestial para voltar ao céu.

O tempo passou-se veloz! E só ao fim de três anos de Hou Yi estar no mundo e que chegou aos ouvidos de sua mulher a noticia de que o Imperador Celestial o tinha chamado de volta. Ela chorou lagrimas de sangue ao saber que teria de se apartar de quem muito amava; o herói também não se podia conter.

Quando o Imperador Celestial foi informado de que Hou Yi tinha se casado com uma mortal e estabelecido uma família no mundo e não estava querendo voltar mais para o céu, ficou furioso e demitiu-o das funções de que o tinha encarregado de um modo tão peremptório, fazendo com que o herói não pudesse mais subir ao céu. Todavia, Hou Yi não se arrependeu do procedimento que lhe tinha merecido tal castigo do Imperador Celestial, pois ele achava a vida na terra mais feliz do que no céu porque, para além de ter uma linda e bondosa mulher, vivia entre as majestosas montanhas, os impetuosos rios, as viçosas arvores e os honestos homens.

Mas os seres humanos tem uma vida limitada e, se bem que cheguem a viver 70 ou 80 anos, ou no máximo 100 anos, mais tarde ou mais cedo acabam por morrer!

Um dia, Hou Yi disse a Chang E:

- Quando eu vivia no céu ouvi dizer que na cordilheira Kunlun, no longínquo oeste, a mãe-imperatriz tem uma parceira que cura tudo - mesmo a morte. Acho que o melhor será eu partir para essas regiões a procura de tal medicamento, a fim de que o possamos tomar para que assim possamos viver eternamente!

Ouvindo isto, Chang E ficou contentíssima. Preparou cuidadosamente a bagagem do marido e tudo o que era necessário para a sua viagem, e disse-lhe insistentemente que prestasse bem atenção ao caminho e que regressasse ao lar o mais cedo possível, logo depois de ter obtido o medicamento. Era a primeira vez, apos o seu casamento, que se separavam um do outro e Chang E não podia deixar de sentir uma profunda dor e tristeza pela partida de Hou Yi, somente se sentindo reconfortada ao pensar que, graças à panaceia, eles iriam poder viver juntos eternamente e livrar-se assim, para sempre da ameaça do deus da morte. Com a sua aljava repleta de flechas e o arco as costas, Hou Yi montou um veloz corcel e partiu galopando rumo ao oeste.

A região onde Morava a mãe-imperatriz no longínquo oeste era de difícil acesso, e para se chegar lá, era preciso atravessar-se inúmeras, altas e escarpadas montanhas, um grande em número de florestas a perder de vista desertos despovoados sem fim onde, por vezes, se levantavam furiosos vendavais. Mas, para além disso, perto da montanha Kunlun encontravam-se duas barreiras que eram os obstáculos mais difíceis de serem transpostos, respectivamente: o rio das Aguas Afogadoras e a montanha das Chamas Ardentes. A agua deste rio era tão leve e vaporosa que nem mesmo uma pena de pato conseguia vela flutuar, tornando impossível a navegação. Quanto a montanha, encontrava-se constantemente envolta por um mar de fogo que regurgitava altas labaredas, envoltas por um denso fumo, que atingiam dezenas de metros de altura e ameaçavam queimar todos quantos se aproximavam, tornando-se assim, completamente inacessível. Depois de uma infindável cavalgada e após ter transposto montes e vales, no fim de uma Tonga e difícil viagem, Hou Yi acabou por chegar às margens do rio das Aguas afogadoras. Como haveria ele de fazer para atravessar esse imenso rio sendo-lhe impossível flutuar ou nadar em suas aguas? De repente, ele lembrou-se de uma vez ter visto em umas serranias quando andava procurando uma arvore rara cuja Madeira era dura como aço, Mas leve como uma pena. Ele tinha mesmo apanhado umas ramagens e atirado-as para um lago próximo, as quais, como se fossem sustentadas por qualquer gás, levitavam-se acima da superfície da água em vez de flutuarem. Hou Yi pensou que se utilizasse a madeira desta árvore invulgar poderia certamente atravessar o rio e assim, inspirado por esta ideia, o herói montou de novo no seu corcel e cavalgou ao sul, na direção do local onde anteriormente tinha visto a tal arvore e quando a encontrou, cortou-lhe o tronco fazendo com este uma canoa. Quando regressou ao rio das Aguas Afogadoras empurrou a embarcação sobre as águas e, tal como esperava, esta nem tocou a sua superfície. Impelida pela suave brisa, a canoa começou a deslizar sobre a agua rumo a margem oposta e, não obstante a grande largura do rio que contava cinquenta quilômetros, a embarcação transportou o herói mais o seu cavalo para a outra margem em um abrir e fechar de olhos.

Pouco depois de ter passado são e salvo o rio das Aguas Afogadoras, Hou Yi chegou aos arredores da montanha das Chamas Ardentes. Apesar de duas das suas labaredas lamberem as nuvens, o herói não teve medo porque sabia que estava bem preparado para enfrenta-las. Outrora, Hou Yi tinha morto a besta Xiongshui capaz de cuspir fogo e vomitar agua, tendo guardado a pele do animal que era tão espessa que nem o fogo nem a agua a podia atravessar. O herói trazia-a sempre consigo onde quer que fosse, para, na eventualidade de precisar, poder utiliza-la contra quaisquer elementos, e agora não hesitou em utiliza-la, fazendo com ela duas armaduras impregnáveis: uma para si próprio e outra para o seu corcel.

Depois de ter confeccionado os meios de defesa e de ambos estarem prontos, Hou Yi montou no seu cavalo esporeando-o e lançou-se que nem uma flecha no recinto escaldante da montanha das Chamas Ardentes. No seio do negro fumo e das Chamas, o herói não tardou a sentir bastante dificuldade em respirar, mas a sua montada era um corcel divino capaz de correr mil quilômetros por dia e tinha de transporta-lo em um instante pela montanha das Chamas Ardentes - com centenas de quilômetros de comprimento. Após a perigosa travessia, Hou Yi apeou-se para verificar se o seu cavalo tinha saído ileso, observando que nada lhe tinha acontecido excetuando a cauda do seu cavalo que estava chamuscada.

Dessa maneira, e devido a sua inteligência e coragem, Hou Yi conseguiu vencer as duas maiores dificuldades da sua viagem em busca do remédio da imortalidade, acabando por, finalmente, chegar ao sopé da cordilheira Kunlun onde morava a mãe-imperatriz do oeste.

A mãe-imperatriz do oeste morava nos píncaros da montanha de Jade Límpido, no centro da cordilheira Kunlun. Quando Hou Yi chegou às portas do palácio já o mensageiro imperial - a ave Qing Niao - tinha informado a imperatriz da sua chegada. Esta, sabendo que o visitante tinha anteriormente sido um deus, que depois de ter sido anunciado ao mundo para aniquilar os Sóis e os animais selvagens em favor da população, se estabelecera ali espalhando bondade, recebeu-o com muita cortesia e gentileza. Conhecendo também a finalidade da sua vinda, a mãe-imperatriz do oeste, querendo satisfazer-lhe os seus ensejos com a maior das magnanimidades, ordenou a Ave de Três Pernas - guardiã da panaceia - que trouxesse no bico a preciosa cabala com o miraculoso medicamento, preparado a base dos pêssegos da arvore da Imortalidade, que só dava flores e frutos a cada três mil anos.

- Toma, isto e tudo o que me resta - disse a imperatriz, passando-lhe a cabala. - Embora seja pouco, e o suficiente para ambos. Se ingerir a metade cada um, vocês viverão eternamente, mas, cuidado, se um de vocês tomar tudo transformar-se-á em um ser divino e voara para o céu sem jamais poder voltar a terra.

- E para que ambos possamos viver para sempre juntos que eu resolvi vir cá buscar o elixir. A mim não interessa voltar de novo a ser divino - disse o herói fazendo, em agradecimento da magnânima dadiva, uma profunda reverencia.

No momento da despedida de Hou Yi, a mae-imperatriz do oeste mandou a Ave de Três Pernas buscar uma porção da tenra e perfumada erva Yao, que crescia nas margens do Lago de jade, entregando-a depois ao herói para que este a pudesse ofertar a Chang E. Tratava-se de uma erva tão preciosa quão misteriosa que, conforme se dizia, era originaria da metamorfose de Yao Ji, uma das filhas do deus do Sol, Yandi. Yao Ji era uma bonita e delicada jovem. Aos 17 anos de idade tinha-se apaixonado por Zhi Songzi, um subordinado do deus da Agricultura. Ao principio, estavam ambos muito apaixonados um pelo outro, mas, depois o rapaz partiu para o sul e traindo o amor da sua companheira nunca mais voltou. Esta, ansiosa por o encontrar resolveu procura-lo por toda parte até que, chegada ao centro da cordilheira Kunlun ao saber que o seu noivo tinha casado com uma deusa, ali morreu de dor e de tristeza.

Segundo constava, Yao Ji, a bela e desventurada jovem tinha-se então transformado na preciosa erva Yao que crescia nas margens do Lago de Jade. Em breve a erva tinha florescido espalhando-se rapidamente e proliferado não só ao longo das margens do rio, mas também em todas as encostas da montanha central. Dizia-se que, independentemente das estações do ano, ou de ser noite ou madrugada, as folhas desta erva estavam sempre cobertas de um fresquíssimo orvalho, que não era senão as lagrimas inesgotáveis da desditosa jovem. A erva Yao tinha uma característica especial. Qualquer que fosse a mulher que cheirasse o seu perfume, tornar-se-ia carinhosa de trato e extremamente bela de corpo e feições - e por isso lhe tinham também dado o nome de "erva encantadora".

Agora, em posse do elixir da longevidade, Hou Yi retomou rapidamente o caminho de regresso. Já se tinham passado mais de seis meses que ele tinha deixado o lar. Ambos ficaram felicíssimos de estarem de novo juntos e Hou Yi contou a Chang E todas as peripécias da sua viagem, dando-lhe no fim o medicamento.

- Aqui esta o elixir que eu adquiri depois de tantos esforços. A mãe-imperatriz do oeste disse que se ambos tomarmos cada um metade dele, poderemos viver eternamente, mas, se uma pessoa o tomasse por inteiro subiria ao céu para nunca mais voltar. Por favor, guarde bem o medicamento, ate escolhermos um dia auspicioso para ambos o tomarmos.

Rejubilante, Chang E recebeu o elixir da imortalidade das mãos de Hou Yi e guardou-o cuidadosamente. Em seguida, o herói entregou-lhe a erva Yao e disse-lhe:

- Isto e uma erva preciosa que a mãe-imperatriz do oeste mandou especialmente colher para te oferecer.

Cheia de contentamento Chang E admirou-a detalhadamente, exclamando depois de surpresa:

- Que extraordinária erva! Nunca vi nada de tão belo!

E ao mesmo tempo que falou, aproximou inadvertidamente a erva do seu nariz inspirando o seu doce perfume. De fato, o cheiro da erva provou o seu efeito, porque ela imediatamente se tornou ainda mais bela que nunca.

Sendo um excelente arqueiro, a fama de Hou Yi tinha-se espalhado até os quatro cantos do mundo, tendo vindo muitos jovens procura-lo, com intuito de aprenderem com ele a arte de que era mestre. O zeloso herói tinha lhes ensinado conscientemente os predicamentos do que sabia, e como de um bom professor saem sempre bons alunos, muitos dos alunos de Hou Yi vieram a tornar-se famosos arqueiros.

Feng Meng, considerado o melhor de todos os discípulos de Hou Yi, era, no entanto, orgulhoso, invejoso e perverso, e todos os dias ansiava que o seu mestre morresse o mais cedo possível, pois cobiçava vir a ser considerado como o mais exímio arqueiro de todo o mundo.

Contudo, ele sabia que o mestre tinha obtido da mã-imperatriz do oeste um elixir da imortalidade que tomava irrealizável o seu sonho e no seu coração ardia constantemente o fogo da inveja. Um dia, resolveu-se, portanto, a tecer uma intriga e aproveitando-se da ocasião do herói ter ido a casa, entrou furtivamente na sua casa e apontando uma flecha ao peito de Chang E disse-lhe perversamente:

- Dá-me depressa o elixir da imortalidade! Depressa! Depressa! Depressa! Caso contrario, acabo-te com a vida de um só golpe!

Surpreendida pelo inesperado acontecimento ela perguntou-lhe:

- Mas você não é um amigo e discípulo de Hou Yi? Por que razão...

- Desde ha muito tempo já não o considero como meu mestre. Enquanto ele estiver vivo eu nunca poderei gozar da fama de ser o melhor do mundo e por isso odeio-o tanto e lhe desejo uma morte breve - disse Feng Meng rangendo os dentes.

Chang E permaneceu calada e chorou de raiva.

- Dá-me o elixir, depressa! - berrou o discípulo brandindo o ameaçador arco e flecha contra ela. Entretanto, Chang E pensava que nunca poderia entregar a esta ignóbil criatura a panaceia que Hou Yi tinha adquirido apos ter desafiado tantas dificuldades e perigos. Vendo-se ameaçada tirou o medicamento da sua algibeira, mas, quando o patife estendeu a mão com a intenção de se apoderar da preciosa cabala, ela meteu-a na boca e engoliu o seu conteúdo o mais rapidamente que foi possível e correu em direção à porta.

Mal Chang E tinha passado o limiar da porta já, começou a sentir-se tão leve que, dir-se-ia, diáfanas nuvens a impeliam para o céu. Gradualmente Chang E elevou-se airosamente para as alturas; mas para onde iria ela? Pensando que Hou Yi ficaria agora, para sempre um prisioneiro do mundo e, repleta saudades dele resolveu-se a ficar na Lua, por ser local mais vizinho da terra. A sua chegada ao palácio de Guanghan, na Lua, fez rebrilhar este astro ainda mais suave e claramente.

De regresso da casa, Hou Yi ficou tão triste ao saber do que tinha acontecido que, com a cabeça levantada e os olhos imóveis, não parava de fitar a longínqua Lua, pensando na sua amada que nunca mais poderia ver, enquanto que abundantes lagrimas lhe escorriam pelas faces sem cessar.

Ao refletir sobre o ingrato e desprezível ato de Feng Meng, o herói sentiu-se invadido por um misto de indignação e raiva e, pegando no seu arco e flechas, saiu de casa a sua procura.

Entretanto, o ardiloso Feng Meng tinha-se escondido no bosque sobranceiro a casa do seu mestre e ali lhe preparava uma emboscada. Assim, quando Hou Yi ao sair da casa, passou por aquelas paragens o malandro que nem um fantasma, saiu do seu esconderijo  e com um grosso cacete, deu uma forte pancada na nuca do seu mestre deixando-o prostrado e morto.

O golpe tinha sido tão rápido que o herói nem teve tempo para se aperceber ou se defender do que lhe estava acontecendo.

A morte de Hou Yi despertou o pesar, o pranto e a pena de todos os homens. Tratava-se, realmente, de uma tragédia!

Quando os outros discípulos souberam do crime de Feng Meng, perseguiram-no, cercaram-no e prenderam-no, depois amarraram-no a uma grande arvore e mataram-no, cada um atravessando-o com uma flecha. No fim das contas ele não veio a ser considerado o  arqueiro de primeira classe que tanto ansiava vir a ser, mas teve a triste sorte de um conspirador, em abono da verdade, um homem com demasiada ambição nunca tem bom fim!

Apos a morte de Hou Yi, em comemoração dos seus méritos indelegáveis em favor do povo, todas as famílias penduraram a sua imagem na sala principal de suas casas e passaram a venera-lo como um deus tutelar e a invocar o seu nome como modelo de virtude e altruísmo. Enquanto em vida, Hou Yi tinha, efetivamente, eliminado múltiplos flagelos em beneficio do povo e, após a sua morte, propagou-se a ideia de que o seu espirito continuava a zelar pelo bem-estar e sobrevivência dos povos. Sempre que havia secas ou inundações, dizia-se que ele lutava contra o demônio das Aguas ou o fantasma da Seca, vindo a ser considerado como uma divindade protetora dos interesses dos homens.

Consoante a Chang E, ela continuou a habitar, tal como uma fada celestial, o luxuoso palácio de Guanghan feito de jade e esmeraldas, mas afastada da terra e da companhia de Hou Yi, a sua eternidade tornou-se um mar de amargura, solidão e sofrimento.

Juntamente com Chang E, no palácio lunar, morava o coelho de jade que para ali tinha sido expulso pelo Imperador Celestial, encontrando-se condenado a ser constantemente o pilar de um almofariz de plantas medicinais, em castigo por ter roubado uma erva divina. Havia uma terceira personagem que também estava condenada a habitar a Lua para a perpetuidade. O seu nome era Wii Gang, e o Imperador Celestial tinha-o desterrado para este lugar com a função de cortar o laurel lunar, por ele ter cometido um grave erro de aprendizagem das artes imortais. O Imperador Celestial tinha-lhe prometido que se ele conseguisse cortar a tal arvore poderia regressar a terra, mas o laurel lunar tinha as propriedades magicas de cicatrizar qualquer golpe do machado de Wu Gang antes de ele o atingir de novo. Pobre Wu Gang! Dia apos dia não parava de desferir o seu machado no laurel lunar, no entanto, sem conseguir sequer fazer-lhe uma beliscadura. Então, como seria possível ele vir a tornar realidade a sua aspiração de deixar este local desolado?

Como o coelho de jade e Wu Gang viviam na Lua expiando as suas culpas, certos historiadores tradicionais, posteriores, vieram a divulgar que Chang E também vivia ali devido a ter cometido o erro de ter tomado o elixir da imortalidade egoisticamente, às escondidas. Este comum mal-entendido encontra-se explicito nos versos de Li Shangyin, um grande poeta da Dinastia Tang:

Chang E sente-se arrependida do roubo do elixir, E passa as noites só, no céu tão límpido como um mar azul.

Se bem que a poesia conte ser por causa do roubo do elixir da imortalidade que Chang E foi condenada a ficar para a eternidade no palácio lunar, e ali a passar uma existência solitária, sabe-se que a realidade é bem outra, e a sina dos amores desditosos do herói Hou Yi e da bela Chang E continua a provocar a compaixão das gerações.

Mitologia Chinesa
Chang E   
8/3/2017 1:42:39 PM | Por Antônio Daniel Abreu
Deus da agricultura e a libertação dos males da humanidade

Na antiguidade remota a vida era extremamente dura. Para sobreviverem, os homens eram constantemente obrigados a caçar animais, pássaros e frutos silvestres, desafiando íngremes montanhas, transpondo largos rios, suportando os frios rigorosos do inverno e os calores ardentes do verão, e correndo incalculáveis riscos. No entanto, nesses tempos não existiam doenças, razão pela qual ninguem adoecia. Qual então a razão por que a humanidade começou a sofrer de tantas e diversas pestes e todas as demais enfermidades que se tem vindo a arrastar ate o dia de hoje? A resposta a esta pergunta advém da história que se segue: Em uma remota região do mundo, estende-se a cordilheira Kunlun no seio da qual, outrora, se encontrava o reino de Xi. Este era controlado por uma deusa, a Rainha-Mãe do Oeste, que habitava nos cumes da montanha de Jade, majestosamente situada no centro dos seus território. Por uma das vertentes da montanha, descia um riacho de aguas transparentes que dava origem ao famoso lago de Jade.

Ai, o clima era sempre suave e agradável durante as quatro estações, e a paisagem mantinha-se verde e atraente durante todo o curso do ano. Pelas encostas da montanha e pelas margens do lago cresciam múltiplas variedades de flores e uma imensidão de ervas fragrantes, e ai viviam animais e aves de todas as espécies. Contava-se que uma panaceia se produzia neste lugar, tratava-se dos famosos pêssegos da imortalidade, cujas arvores eram fertilizadas por fragmentos de jade, vindos das montanhas com as enxurradas e regadas com as aguas do lago de Jade. Somente uma vez, de três em três mil anos, as pessegueiras floresciam e davam frutos. Bastava que uma pessoa comesse um destes frutos para ter assegurada a vida eterna. Segundo a tradição, o deus Houyi foi pedir a panaceia a Rainha-Mãe do Oeste, desafiando todas as dificuldades e perigos.

No excelso e etéreo cumulo da montanha de Jade erguia-se o luxuoso palácio onde morava a Rainha-Mãe do Oeste. Esta tinha a seu serviço três imponentes aves de cabeça vermelha, olhos pretos e penas verdes que se chamavam, respectivamente, Dali, Shaoli e Qingniao. Dali estava encarregado de cotidianamente trazer suculentos frutos para a Rainha-Mãe do Oeste; Shaoli encarregava-se do abastecimento de agua, e Qingniao tinha o cargo de mensageiro. A Rainha-Mãe do Oeste tinha também a seu serviço, uma outra ave de três pernas, olhos perspicazes e garras agudas, a qual sobrevoava dia e noite a sua residência guardando o lugar e patrulhando o horizonte.

O Imperador Celestial tinha posto a cargo da Rainha-Mãe do Oeste a proteção dos preciosíssimos pêssegos-da-imortalidade, e tinha-a encarregado de manter hermeticamente cerrados os portões das três grutas da cordilheira Kunlun, onde estava encerrada uma multidão de bichos venenosos e animais pestíferos que, se postos em liberdade, poderiam alastrar-se por toda parte infestando a humanidade com as mais horríveis doenças. Os portões destas grutas estavam fechados com colossais batentes de pedra e, devido a terem sempre se mantido cerrados, as suas frinchas e gonzos tinham-se coberto de um musgo verde e uma ferrugem pedrosa de uma grande espessura, gradualmente acumulados através de milhares e milhares de anos.

Porém, um acidente imprevisto aconteceu!... Um dia, quando a ave de três pernas voava pelos céus, aconteceu ouvir os gemidos miseráveis dos bichos venenosos e dos animais pestíferos. Cheia de curiosidade, tentou o interior através das fendas dos portões, e, ao ouvirem ruídos, os prisioneiros suplicaram-lhe insistentemente para ela os libertar.

Ao que a guardiã lhes respondeu:

- Por ordem do Imperador Celestial, vocês deverão permanecer fechados dentro das grutas e, de resto, a chave esta nas mãos da Rainha-Mãe do Oeste. Além disso, vocês são declarados nocivos a propagação da raça humana, e eu tenho ordens estritas de não vos abrir os portões.

- Por favor, abra só uma pequena fresta para nos sentirmos um pouco do ar fresco, porque aqui estamos muito abafados. Ninguém duvida da sua grande bondade.

- Não, não vos posso abrir os portões, porque sei que vocês se aproveitam da mínima das ocasiões para fugirem de onde estão - disse-lhes a ave de três pernas.

- Fique descansada que isso não há de acontecer - retorquiram os bichos e os animais, em uma voz melancólica e dolorosa. - Garantimos não a comprometer de modo algum, se nos fizer um tão grande favor como o de nos deixar respirar uma lufada de ar fresco.

Crédula e condoída, a ave de três pernas acreditou no que lhe diziam, e voou ao palácio da Rainha-Mãe do Oeste para ir buscar a chave.

A deusa estava dormindo, e bastou a ave abrir cuidadosa e silenciosamente uma grande caixa de pedra, para de lá tirar uma chave pesando umas boas dezenas de quilos. De volta à gruta, mal entreabriu o portão os bichos venenosos e animais pestíferos se precipitaram para sair. A ave quis, então, fechá-lo novamente, mas já era tarde demais... por mais que se esforçasse, todos os bichos e animais debandaram rapidamente e dispersaram-se em um abrir e fechar de olhos.

Ao ser informada do ocorrido, a Rainha-Mãe do Oeste ficou tão espantada, quão furiosa, pelo que a ave de três pernas tinha feito. A deusa mandou imediatamente Qionggi, Tenggen e mais outros ágeis dos seus ministros que tinham grande capacidade em voar, para prender novamente todos os bichos e animais, mas, os seus esforços foram baldados, porque estes já se tinham escondido não se sabendo onde.

Desde então, pestes e enfermidades começaram a contaminar a raça humana, e a proliferar por toda parte. Felizmente, a ave de três pernas abriu apenas um só portão, caso contrário, seria difícil imaginar a quantidade de doenças, ainda mais horríveis, que poderiam ter vindo a afligir os mortais!

Realmente, uma das maiores desgraças que a humanidade sofreu foi ter sido posta à mercê de tais pessoas e enfermidades.

Ora, nesses tempos, havia um homem cognominado de Deus da Agricultura. Ele não era apenas inteligente e laborioso, como também se dedicava em servir, de todo o seu coração, os outros. Contava-se que tinha sido ele o grande inventor da agricultura. Na antiguidade remota os homens viviam principalmente de caça, mas, com o passar do tempo, a população procriou-se enquanto que o em número dos animais selvagens diminuiu proporcionalmente, de tal modo que, para sobreviverem, os homens não tiveram outra alternativa, senão alimentar-se de ervas-selvagens pouco comestíveis. Foi então que, de modo a assegurar a todos da sua povoação um mínimo de alimentos, o nosso homem começou a arrotear as terras em volta de onde vivia e a cultivar cereais a titulo experimental. Graças aos sucessos desta sua experiência, todos os demais lhe seguiram o exemplo, cultivando também cereais. Dai em diante, a vida da população ficou garantida em alimentos durante todas as estações. Por isso, o povo deu-lhe o nome de Deus da Agricultura.

Ao ver que pestes e enfermidades constantemente afligiam os povos, o nosso Deus da Agricultura andava muito cabisbaixo. "Haverá maneira de resolver este problema? Que poderei eu fazer para livrar a humanidade de tantos males? Tomara eu poder descobrir plantas medicinais capazes de curar todas as doenças!".

Todavia, existindo no mundo uma tão grande variedade de plantas, como podia ele definir as características terapêuticas de cada uma, e saber quais as ervas especificas ao tratamento de cada doença? Inspirado pelo seu ideal de salvar a humanidade, decidiu-se então a provar todas as espécies de plantas, e, assim, cotidianamente, o Deus da Agricultura passou a calcorrear as montanhas, examinando criteriosamente a sua flora e provando, separada e minuciosamente, o sabor de todas as plantas e ervas.

Não tardou a reconhecer que cada planta se distinguia pelo seu sabor característico, sendo umas doces, outras amargas, outras ainda picantes ou salgadas, ou mesmo acres; umas aquecendo o corpo, outras o esfriando; umas atuando como desinfetantes, outras como venenos. Diz-se que, certo dia, no decurso das suas pesquisas, o Deus da Agricultura foi envenenado umas setenta vezes, tendo sobrevivido ileso graças a só ter provado uma quantidade ínfima de cada planta venenosa, caso contrario, nunca haveria de ter conseguido voltar ao seu estado normal. De onde se pode bem imaginar o impressionante espirito de abnegação o Deus da Agricultura!

Tendo sido informado dos esforços louváveis nosso homem, o Imperador Celestial ficou de tal modo impressionado, que lhe enviou um mensageiro com um chicote mágico, denominado Chicote Ocre devido a sua cor terrosa. Daqui em diante, bastava ao Deus da Agricultura atingir uma planta com o Chicote Ocre, para que este imediatamente lhe transmitisse as suas qualidades medicinais. Assim, por exemplo, se após tocar em uma planta o chicote ficasse vermelho, este indicaria que tal planta tinha propriedades calorificas; se ficasse branco, significava que tal planta tinha capacidade de abaixar a temperatura; se este mantivesse a sua cor inicial, ocre, demonstraria a ineficácia de tal planta no tratamento de qualquer doença e se este se tornasse negro, comprovaria que tal planta possuía características extremamente venenosas. Tratava-se, realmente, de um fácil e seguro instrumento!

Tendo sido, tanto a invenção do cultivo dos cereais como a descoberta das propriedades medicinais das plantas, acontecimentos de extrema importância que se viriam a relacionar com o futuro bem-estar e sobrevivência da raça humana até o dia de hoje, os homens continuam a citar respeitosamente o nome do Deus da Agricultura.

Mitologia Chinesa
Deus da Agricultura   
8/3/2017 12:57:56 PM | Por Antônio Daniel Abreu
Kua Fu, o perseguidor do sol

Na antiguidade remota, Kua Fu era celebrado pela sua extraordinária força; um gigante herculano, andava tão depressa que, dir-se-ia, ser capaz de voar. Talvez que, outrora, o movimento do Sol fosse mais rápido do que presentemente, porque os homens sentiam que bastava pegarem no trabalho para logo anoitecer. Como naqueles tempos não existiam nem velas, nem eletricidade, era extremamente penoso para os mortais suportarem as longas e frias horas de escuridão. Todos estavam descontentes com o Sol por este aparecer tão infrequentemente. Assim, um dia, em nome de todos os habitantes, Kua Fu foi enviado ao Sol para lhe exprimir a indignação de todos os povos: - Ei! Sol preguiçoso! Quantas horas dormes tu? Levantas-te sempre muito tarde e deitas-te demasiadamente cedo. Francamente, não tens nenhum sentido de responsabilidade no trabalho!

Mas o Sol, arrogantemente, não ligou ao que Kua Fu lhe dizia e continuou rolando para o oeste o mais depressa que podia. Furioso, Kua Fu pegou um cacete e correu atrás dele.

Tal como uma bola flamejante, o Sol rolava sem parar para o oeste e Kua Fu correu velozmente ao seu alcance transpondo vales e montanhas. Legua apos legua, o gigante ia-se aproximando gradualmente do Sol mas, quanto mais se acercava deste, mais calor sentia ate que por fim estava já todo molhado e o suor escorria-lhe abundantemente pelo corpo. A fim de se refrescar rasgou o seu casaco expondo o seu peito escuro-vermelho. Desafiando o calor, agora ardente, o gigante continuava a sua corrida em direção ao Sol, mas chegou a uma altura que tinha tanta sede que pensou que ia morrer. Sentia a língua queimada e, faltava já pouco para alcançar o Sol, quanto, realmente, não podendo mais suportar a sede que o atacava teve de parar e refrescar-se nas aguas do rio Amarelo.

Depois de um gole, engoliu toda a agua do rio... mas, ainda tendo sede, foi sorver a agua do rio Weishui, secando-o também por completo. Como o gigante ainda continuasse sequioso, resolveu ir beber a agua dos Lagos do norte, mas, esgotado, acabou por morrer a meio do caminho, o bastão que levava consigo transformou-se em uma floresta vistosa e densa. Todos os anos, as arvores dessa floresta ficam carregadas de água com que os homens matam a sede, e as sombras das suas copas defendem os transeuntes do Sol escaldante. O zeloso e persistente Kua Fu morreu por ter dedicado a sua vida ao beneficio do povo, e mesmo em seus últimos momentos não se esqueceu de deixar uma contribuição duradoura para a melhoria das condições da vida humana, convertendo o seu bastão em uma floresta a serviço das gerações futuras. As suas intenções são muito louváveis!

Mitologia Chinesa
 Kua Fu  
| Por Antônio Daniel Abreu
A deusa dos bichos-da-seda

A plantação de amoreiras e a criação de bichos-da-seda, eram duas importantes atividades associadas, das mais lucrativas da China antiga. Mas poucos sabem, a propósito, da origem de ambas. Um conto popular relata-nos a história dos seus princípios.

Era uma vez uma família constituída somente pelo pai e pela filha, esta sendo uma inteligente e bonita jovem. Um dia, o pai ausentou-se para tratar de um assunto em um lugar longínquo, tendo deixado em casa a sua filha, acompanhada pelo seu cavalo branco, um vigoroso corcel que podia galopar quinhentos quilômetros sem parar, rápido como o vento e, ainda mais estranho, podia compreender a fala humana - sendo por isso chamado por todos de "cavalo prodigioso".

No momento da sua partida, o pai aconselhou a sua filha a tomar conta do cavalo com todos os cuidados possíveis, dizendo-lhe que em breve estaria de regresso a casa e pondo-se depois a caminho. Após a partida do seu pai, a jovem levava uma vida solitária e ao aperceber-se que o silencio que a rodeava era insuportável, começou a falar com o cavalo. Embora o animal não lhe soubesse responder, mostrava-lhe sempre compreensão e ternura, quer acenando a sua cabeça ou agitando sua cauda.

Passaram-se dias e dias, meses e meses, sem o seu pai regressar a casa e, gradualmente, cheia de saudades pelo seu progenitor, a jovem começou a ficar extremamente inquieta. "Seria possível ter-lhe acontecido um acidente no caminho de regresso?", pensava constantemente inquieta a jovem.

Certo dia, a jovem disse ao cavalo, meio a sério meio a brincar:

- Ó, cavalo! Seri que realmente me compreendes? Se pudesses ir a procura do meu pai e encontrá-lo, garanto-te que me casaria contigo!

Mal tinha acabado de falar, o cavalo saiu do estábulo galopando rápido como o vento e, em breve, desapareceu envolto pela poeira da sua corrida.

Em verdade o pai encontrava-se igualmente saudoso da sua filha e estava extremamente preocupado por não poder voltar ao lar, por estar gravemente doente. Ora um dia, subitamente, viu o seu cavalo aparecer-lhe pela frente. Alegremente e surpreendido, o homem montou-o imediatamente e o corcel levou-o de regresso a casa. Ao verem-se de novo ambos juntos, pai e filha, ficaram extremamente satisfeitos. Para recompensar o cavalo, o homem esmerou-se nos cuidados que lhe prestava e em dar-lhe as melhores forragens mas, contrariamente às previsões do homem, o cavalo mostrava-se indiferente às atenções e comidas especiais, o mais estranho era que, cada vez em que a sua filha entrava ou saia do estabulo, o animal saltava e relinchava, respectivamente, de alegria ou de tristeza. Arreliado e surpreendido com isto, o pai perguntou a filha se alguma coisa de especial tinha acontecido durante a sua ausência, ao que a filha, com um ar envergonhado, lhe repetiu as palavras faladas que tinha dito ao cavalo. Então, o homem tendo ficado por uns instantes pensativo, disse-lhe mansamente:

- Escuta bem! Seja como for, não deves falar a mais ninguém sobre este assunto. Se alguém viesse a saber que eu estaria disposto a casar a minha filha com um cavalo, seria uma grande vergonha. Peso-te, portanto, que a partir de hoje não saias do teu quarto nem te aproximes do cavalo.

No dia seguinte, o pai foi ao estabulo e matou o cavalo com umas flechas e, esfolando-o, pendurou a pele do animal em uma árvore no pátio da casa.

Tempos depois divertia-se a jovem com algumas companheiras no pátio, quando, ao ver a pele do animal, ficou muito preocupada e murmurou para consigo, baixando a cabeça: "Sou eu a culpada pela morte do cavalo!". la aproximando-se da pele para acaricia-la quando, inesperadamente, a pele arrojou-se sobre ela e, envolvendo-a por completo, levantou voo como se fosse fustigada por uma rabanada de vento. Assustadas com o sucedido, as outras jovens correram a informar o homem do que tinha acontecido, mas quando este chegou ao pátio, já a filha, mais a pele do cavalo, tinham desaparecido.

A pele do cavalo que, de fato, tinha propriedades magicas, voou diretamente para uma região despovoada situada no Sudoeste da China, chamada Dazhong, coberta por amoreiras. Quando o corcel magico pousou com a jovem, na vasta floresta de amoreiras, já a jovem tinha sido transformada em um bicho-da-seda com cabeça de cavalo. A partir de então, ela passou a alimentar-se exclusivamente por folhas de amoreiras, mais tarde veio a tornar-se a senhora desta floresta e foi nomeada Deusa dos Bichos-da-Seda pelo Imperador Celestial.

No entanto, nunca veio a apartar do seu coração uma pena indizível pensando, dia e noite, na sua terra natal, no seu pai e nas suas companheiras enquanto segregava, sem cessar, largos fios de seda em uma tentativa de acalmar os seus tristes sentimentos - a região onde ela vivia veio a ser apelidada de "terra da seda segregada". Segundo uma lenda, na primavera de todos os anos, podia-se ver nesta região uma linda jovem ajoelhada entre os ramos das amoreiras segregando longos e brilhantes fios brancos a quem chamavam de Deusa dos Bichos-da-Seda.

Mas, como aparecia ela por vezes com uma figura da jovem, se já se tinha transformado em um bicho-da-seda? Por ter sido nomeada de Deusa, podendo-se, portanto, transformar naquilo que quisesse! Com o passar dos tempos a Deusa dos Bichos-da-Seda procriou muitos descendentes, de corpos brancos e caracteres dóceis como meninas - as quais passaram a comer folhas de amoreiras e a segregar fios de seda.

Segundo os anais da Historia da China, o bicho-da-seda foi criado por Lei Zu, a mulher de Huangdi. Quando o Huangdi saiu vitorioso da expedição contra o Chiyou, nas planícies centrais da China, a sua mulher teceu-lhe com os fios de seda um magnifico traje real. Na realidade, ela era igualmente uma deusa que tinha visitado a "terra da seda segregada" e foi ela quem veio a ensinar os humanos a dominarem a técnica de criar bichos-da-seda e tecerem magníficos tecidos com este material.

De acordo com varias lendas, os habitantes de certas regiões da China ainda continuam apelidando o bicho-da-seda de "moça com cabeça de cavalo" - o que vem corroborar a veracidade deste conto.

Mitologia Chinesa
Yu Huang Shang Di - Deusa dos bichos-da-seda   
| Por Antônio Daniel Abreu
O pastor e a tecedeira

Segundo uma lenda, o Imperador Celestial tinha sete formosas e inteligentes filhas, das quais, a mais jovem era a mais bonita, a mais bondosa e a mais aplicada e cujo principal talento era ser uma eximia tecedeira. Chamavam-na, portanto, de "jovem tecedeira".

Dia após dia, ela encontrava-se permanentemente debruçada sobre o seu tear compondo brocados celestes de multicoloridos cambiantes. Graças ao seu constante zelo, diariamente, quer fosse madrugada ou crepúsculo, no céu podia-se ver brilhar os raios policromáticos dos seus brocados celestes. No verão e no outono, a jovem tecedeira compunha também no azul do céu, nuvens de diversas e magnificas configurações mágicas. Dia e noite ela não parava de tecer os mais diversos e floridos brocados celestiais, de acordo com os aspectos das diferentes estações e pode-se dizer, que se não fosse a persistência da dedicada tecedeira, o firmamento seria uma grande monotonia.

No entanto, devido a nunca sair da sua residência celestial a jovem tecedeira sentia-se invadida por uma estranha solidão. Certa vez, ao relancear o mundo dos seres humanos, ela sentiu-se atraída pela beleza da Terra e pela vida feliz que os homens levavam cultivando entre montanhas verdes e aguas azuis. Assim, um dia fatigada pelos seus trabalhos celestes, a tecedeira convidou as suas outras seis irmãs para a acompanharem a descer a Terra, onde se poderiam banhar na correnteza de um rio de límpidas águas.

Ora, perto do rio escolhido pelas jovens, morava um rapaz que vivia com seu irmão mais velho e a sua cunhada. Quando ele era ainda um imberbe os seus pais tinham adoecido e morrido, vindo ele, desde criança a, diligentemente, levar de sol a sol o seu boi a pastar nas encostas das montanhas sobranceiras ao rio. Todos os habitantes da sua aldeia apelidaram-no por isso de "boieiro". Aos 20 anos de idade ainda não se tinha casado, sendo o seu boi, o seu único companheiro, tanto das suas árduas jornadas como nos momentos de solidão e fadiga. O jovem e o boi eram inseparáveis e quando o rapaz estava deprimido, sussurrava as suas magoas aos ouvidos do boi, somente este podia, verdadeiramente, compreender os seus sentimentos, assim também só o boieiro era capaz de perceber o significado do mugir do boi. Em realidade, eles já eram companheiros íntimos de tão longa data, que não podiam viver um sem o outro.

Um dia, aconteceu que depois de lavrar uma porção da terra, o rapaz conduziu o boi a borda do rio para lhe matar a sede. O tempo estava soalheiro e as claras aguas do rio refletiam as nuvens de mil cambiantes. Chegado às margens do rio, o boieiro deparou-se com umas graciosas jovens mergulhadas nas aguas, divertindo-se alegremente e chapinhando entre cristalinas gargalhadas. Todas elas eram muito formosas, mas o rapaz achou a mais jovem, a mais encantadora dentre todas, com o rosto de delicadas proporções, o seu permanente sorriso doce e cordial, os seus olhos brilhantes, claros e bondosos, e os seus cabelos sedosos e bem adornados com uma flor de lótus. O boieiro ficou imediatamente seduzido peta beleza da tecedeira e quedou-se absorto em românticos pensamentos. O boi percebendo o segredo que palpitava o coração do seu dono, disse-lhe:

- Ó rapaz! Vai depressa e recolhe a roupa dela que esta ao pé daquele salgueiro. Não te preocupes que ela virá ser a tua esposa.

O boieiro avançou alguns passos mas, envergonhado, parou e voltou-se com um ar hesitante.

- Que tonto! Vai lá; depressa; não hesites! Vocês serão um casal ideal!

Então, sem mais demora, o rapaz correu para o local onde a tecedeira deixara as suas vestes e, apanhando-as apressadamente, regressou imediatamente para o lado do boi. Mais tarde, ao perceberem que alguém tinha roubado as vestes da irmã mais jovem, as outras seis jovens vestiram o mais depressa que puderam as suas roupas e levantaram rapidamente voo para o Céu, abandonando ali a tecedeira. Esta, então, mergulhada na agua, não sabendo o que fazer e muito preocupada por ter sido desertada pelas suas irmãs pôs-se a chorar.

- Por favor, devolvam-me a minha roupa! - suplicou a tecedeira.

- Claro que vou devolver mas... queria pedir-lhe a sua mão... - respondeu-lhe o boieiro ao mesmo tempo em que saia a descoberto e olhava-a apaixonadamente.

Embora contristada pela ação desajeitada do rapaz, a tecedeira ficou extremamente comovida pela sinceridade das suas palavras e pelos seus ternos olhares. Ela era de fato uma fada mas, de há muito já tinha vindo a contrariar as restrições rigorosas elaboradas pelo Imperador Celestial que a coagiam a levar uma vida solitária e enfadonha no Céu, suspirando por poder partilhar da feliz existência das jovens da Terra. Assim, ao ouvir a proposta de casamento que lhe era feita, a jovem humildemente decidiu aceita-la acenando positivamente com a cabeça.

Desde então, o boieiro e a tecedeira tornaram-se um casal inseparável levando uma vida extremamente feliz e, enquanto ele lavrava os terrenos, ela tecia maravilhosos bordados. A tecedeira aproveitava também todas as possíveis ocasiões para ensinar a técnica de tecelagem celestial às suas mortais companheiras da aldeia e a muitas outras povoações vizinhas, vindo todas elas a tecer magníficos panos e brocados - progressivamente a técnica da tecelagem veio a ser divulgada por todo o mundo.

O tempo passou-se célere e alguns anos depois, o boieiro e a tecedeira tinham um filho e uma filha. Entretanto, o Imperador Celestial veio a saber que sem o seu consentimento a tecedeira tinha descido do Céu à Terra, ai se tendo estabelecido. Colérico, enviou-lhe vários mensageiros - coagindo-a a regressar ao Céu e acusando-a de ter violado as regras celestes. Diante da autoridade suprema do Imperador Celestial, a tecedeira não teve outro remédio senão aceitar uma separação com o marido e os filhos e, com o coração despedaçado, voltou para o Céu. No momento da sua partida, entre os gritos e choros dos filhos o boieiro  sem hesitar colocou ambas as crianças em duas cestas carregado-as numa pértica de bambu aos ombros e começou a correr em direção ao Céu, em perseguição da tecedeira, e estava prestes a alcança-la, não fosse a mãe da tecedeira e mulher do Imperador Celestial ter intervindo, impedindo um reencontro entre a filha, o genro e os netos. Ao interpor a sua mão entre o jovem casal, com um gesto brusco, a mulher do Imperador Celestial criou um grande rio celeste (Via Láctea) de águas profundas e impetuosas ondas obrigando assim a tecedeira - em uma margem do caudalo - e o boieiro e os filhos - na outra - a levarem um existência para separados.

Constrangido por tal separação, o boieiro não mais se quis afastar da margem do rio celeste e a tecedeira desinteressou-se totalmente em continuar a tecer o brocado celeste. Perante tal dedicação mútua, o Imperador Celestial viu-se no dever de lhes dar suas faltas e permitindo-lhes um breve encontro anual. Reza a tradição que, desde então, no dia 7 de julho, do calendário lunar de cada ano, todas as pegas misericordiosas constroem uma ponto provisória sobre o rio celeste fazendo com que o boieiro mais os seus filhos se encontrem temporariamente com a tecedeira. Por isso, segundo diz uma lenda, na madrugada deste dia cai sempre uma chuva miúda que são as lagrimas de despedida da tecedeira ao se apartar dos seus familiares, apertando a mão do marido e abraçando os filhos.

A ideia da tristeza da sua separação, antigamente comovia o povo e atraia uma simpatia profunda e, na noite de 7 de julho do calendário lunar de cada ano, muitas pessoas costumam ficar sem dormir para melhor observarem as duas grandes estrelas brilhantes nos dois lados do rio celeste - o boieiro e a tecedeira - e esperando o encontro deste casal. De ambos os lados da estrela do boieiro ainda outras duas pequenas estrelas também se veem brilhar no firmamento que, segundo se diz, são o seu filho e a sua filha. Estas duas pequenas estrelas, porque são extremamente brilhantes e tremulas, são consideradas como se fossem as duas ingênuas crianças piscando os seus olhos chorosos e esperando ansiosamente o feliz encontro com a sua mãe.

Em comemoração deste dia, os habitantes de certas regiões da China ainda continuam com um costume de oferecer, nos seus pátios, frutas e flores a tecedeira celeste testemunhando-lhe assim, reconhecimento pelo seu temporário regresso do Céu a Terra com o intuito de ensinar e propagar a técnica de tecelagem aos seres humanos e, simultaneamente, manifestando-lhe um sincero desejo de que nunca se esqueça da Terra, continuando a dotar as jovens de todos os tempos com um par de mãos hábeis para o desempenho de tal arte. A este costume chama-se o "Pedido ao Céu das Habilidades".

Além destes costumes, havia também muitas moças traquinas que, escondendo-se sob as parreiras, esperavam ansiosa e silenciosamente piscando os seus olhos, o encontro deste casal sempre separado, pois, segundo remotas lendas, no silencio da alta noite do dia 7 de julho, podiam-se ouvir os murmúrios amorosos do casal no seu único encontro anual.

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BARTLETT, Sarah. O pastor e a tecelã. in: __________, A Bíblia da Mitologia Tudo o que você queria saber sobre mitologia . São Paulo: Pensamento, 2012. Cap. II, p. 324-325

Por Sarah Bartlett 

Este é um mito chinês de como as estrelas Altair e Vega passaram a existir. No firmamento vivia uma jovem tecelã, cujo trabalho era fazer as roupas do Céu e pendurá-las como nuvens de diferentes cores. Essa parte do Céu era chamada, de Rio de Prata, e na Terra havia um jovem pastor que trabalhava nos campos com seu boi.

Quando o pastor Ni Lang atingiu a maioridade, o boi falou com ele pela primeira vez, contando-lhe sobre a bela tecelã, e explicando-lhe que se ele roubasse as roupas dela, a jovem seria sua esposa. Então, o pastor viajou até a margem do Rio de Prata quando a escuridão caiu, e se escondeu entre os juncos. Logo, a jovem tecelã e suas amigas chegaram para tomar banho. Encantado, Ni Lang observou as moças por um tempo e, depois, saiu correndo dos juncos e arrebatou o monte de roupas da jovem. As outras garotas fugiram, mas a tecelã perguntou: “Quem é você? Aproxime-se, não vou lhe fazer mal”. O pastor rastejou para fora dos juncos: “Aqui estão suas roupas. Desculpe-me, mas o meu boi me disse que se eu roubasse as suas roupas você seria minha esposa”.

A tecelã riu: “Bem, você vai ter que ser meu marido agora que me viu nua”. Ni Lang olhou para cima e, imediatamente, os dois se apaixonaram e casaram no dia seguinte.

Exigência dos deuses
Durante alguns anos, viveram na Terra, mas os deuses exigiram que a tecelã voltasse para o Céu ou seria punida. Um dia, Ni Lang voltou para casa e descobriu que ela havia ido embora. Ele partiu com seus dois filhos em cestos nas costas em direção ao Rio de Prata, mas a rancorosa rainha do Céu o deslocara para longe da Terra, para que os mortais e os deuses jamais pudessem se encontrar novamente. O velho boi estava morrendo e disse ao pastor que se enrolasse em sua pele, pois, dessa maneira, poderia voar para o Céu. Ni Lang colocou novamente os dois filhos nos cestos e partiu para o céu. Mas o Rio de Prata agora era profundo e perigoso, por isso, Ni Lang tirou uma concha de sua bolsa e começou a drenar o rio. O deus do céu sentiu pena de Ni Lang: “Você pode visitar a jovem tecelã uma vez por ano, mas isso é tudo o que posso fazer por você”.

Então, a tecelã e o pastor vivem em lados diferentes do Rio de Prata. Ela é a estrela Vega e ele é Altair. Todo sétimo dia do sétimo mês do calendário lunar o pastor atravessa a ponte e abraça sua jovem tecelã. As quatro estrelas brilhantes ao lado de Vega são as navetas do tear da jovem, e as duas estrelas de cada lado dele são os seus filhos. Ao lado da tecelã estão três estrelas brilhantes, que são mensagens de Ni Lang. E quando essas estrelas brilhantes são vistas no céu de outono, é um lembrete do amor eterno entre os dois.

Mitologia Chinesa
Yu Huang Shang Di - Tecedeira celestial   Boieiro
| Por Antônio Daniel Abreu
Xing Tian, o herói justiceiro

Era uma vez, um herói chamado Xing Tian, cuja fama andava de boca em boca entre  todas as populações. Empunhando um machado na mão esquerda e um escudo na mão direita, ele corria por todo o mundo atacando os poderosos na defesa dos fracos e necessitados. Era um homem corajoso e justiceiro, vindo gradualmente a ganhar o respeito e o apoio de todos os habitantes.

O universo era, então, controlado por um gênio celestial egoísta e preguiçoso que levava uma vida de prazeres incontroláveis, sem se preocupar minimamente com a vida do povo. Acontecia que, frequentes vezes, ele não mandava chover durante meses seguidos e as árvores e plantas murchavam de secas; outras vezes, resolvia mandar chover a cântaros, meses sem fim, provocando enchentes que submergiam e arrastavam arvores e casas. A vida da população de então era uma miséria e ninguém tinha quaisquer garantias de um previsível futuro.

Um dia, muito indignado com o que estava acontecendo, Xing Tian foi ter com o gênio e disse-lhe:

- Tu realmente és um gênio malfazejo! O povo sofre muito sob o teu domínio. Se não queres fazer por bem, por que não das o teu lugar a quem de vontade?

O cruel gênio que, claro, não tinha quaisquer intensões de renunciar ao seu domínio, dando-lhe um riso amarelo respondeu-lhe:

- Faso aquilo que me aprouver. O melhor é não te meteres nos negócios alheios, caso contrario, faço¬-e saber quem sou eu!

A arbitrariedade e a arrogância do gênio provocou a cólera do herói justiceiro que reagiu instantaneamente, brandindo o seu machado querendo-lhe cortar a cabeça. Assim começou uma luta renhida, a peleja desenrolando-se da terra para o céu e vice-versa, até que ambos estabeleceram um campo de batalha que se estendeu desde o mar do Oriente ate as montanhas de Kunlun. Apos inúmeros assaltos o resultado continuava inconclusivo na renhida luta, os golpes de ambos sacudindo as estrelas ate estas quase caírem e levantando maciças nuvens de poeira que eclipsaram o brilho do Sol e a claridade da Lua.

Encontravam-se ambos, um dia, em rija peleja quando, de repente, aos berros do gênio celestial afluiu de todas as direções um grupo de fantasmas e monstros. Uns tinham caras de cão e corpos humanos, enquanto outros tinham caras humanas e corpos de leão. De armas em punho, eles cercaram completamente o herói que redobrou os seus esforços em uma tentativa de romper o cerco, não o conseguindo devido à superioridade esmagadora do inimigo até que, por descuido, deu uma margem ao gênio celestial que, aproveitando a ocasião, lhe cortou a cabeça com um golpe de espada. No entanto, o corajoso Xing Tian em vez de tombar prostrado, continuou lutando, brandindo o seu machado e o seu escudo, usando os seus mamilos como olhos e o seu umbigo como boca.

Vendo isto, o gênio celestial ficou apavorado e fugiu apressadamente rumo a oeste, contudo, o herói precipitou-se ao seu alcance perseguindo-o de perto ate que, ao chegarem ao sopé das montanhas de Kunlun, Xing Tian morreu de cansaço.

A luta não fez o gênio celestial perder a supremacia sobre todo o universo, mas veio a dar-lhe uma outra visão mais esclarecida das suas funções, e a partir dessa altura não mais teve coragem de proceder a seu bel-prazer desdenhando o futuro dos humanos.

Assim, Xing Tian não tinha morrido desnecessariamente, tendo ficado gravados na mente das gerações vindouras a sua nobre atitude a serviço do povo, o seu espirito de abnegação em defesa dos interesses de todos e, sobretudo, o seu heroísmo intrépido e indomável em prol dos fracos e dos oprimidos. A leitura da lenda sobre o herói inspirou a Tao Qian - um dos grandes poetas de antiguidade - as seguintes linhas:

De machado e escudo na mão,

Xing Tian lutou contra o gênio celestial corrompido. Morreu corporalmente,

Mas o seu espirito ficará eternamente.

Mitologia Chinesa
 Xing Tian  
| Por Antônio Daniel Abreu
Fu Xi, o inventor dos Oito Trigramas

Antigamente, havia um Estado chamado Hua Xu Shi situado ao Noroeste da China, era sulcado por um largo e sinuoso rio, chamado pelos habitantes que viviam nas suas margens de rio do Trovão.

Mas, por que lhe chamavam, eles rio do Trovão? Segundo conta a lenda, a nascente deste rio era o lago do Trovão - um grande lago onde vivia o deus do Trovão, um ser inconstante que passava de uma enorme alegria para uma fúria completa. Assim, também o rio mudava de caráter de acordo com os caprichos do deus, as vezes correndo tranquilo com a superfície das suas águas mansas, tal como um espelho, brilhante onde se refletiam as varias paisagens de ambas as margens e, outras vezes, convertendo-se subitamente em um avassalador caudal, destruindo casas, alagando plantações e arrastando tudo em seu redor - os rugidos da sua impetuosa corrente faziam um barulho ensurdecedor e a terra tremia. Então, o povo dessas paragens compreendia que o deus do Trovão estava em cólera.

Assim, o rio do Trovão continuava provocando calamidades ano apos ano, sem que ninguém soubesse o que fazer e sem ninguém que se atrevesse a pedir uma audiência ao deus do Trovão implorando-lhe que partisse do lago do Trovão de volta para o Céu. Ora, na margem do rio do Trovão vivia um casal de anciãos com uma única filha chamada Hua Xu. Ela era uma jovem tão inteligente e bonita como corajosa e bondosa mas, como todas demais filhas únicas, acostumada a fazer sempre as suas próprias vontades.

Um dia, o deus do Trovão ficando mais furioso que nunca, provocou uma terrível inundação. O casal de anciãos disse, suspirando: - Oh, mas quando irão terminar estas calamidades?!

As inundações voltaram a arrasar nossas casas recém-construidas e a engolir todos os nossos gados.

- É preciso que alguém vá ao lago do Trovão protestar contra este maldoso deus! - disse Hua Xu indignada.

- Mas, minha filha - retorquiu o canal, abanando desconsoladamente as suas cabeças - o deus do Trovão é um tirano e o melhor é não nos atrevermos irritá-lo!

- Como todos os outros deuses celestes, o deus do Trovão deveria igualmente viver no Céu. Por que está ele na Terra provocando calamidades aos seres humanos?! Vou é discutir com ele! - declarou a filha, decididamente.

- Não sejas teimosa, minha filha! Já se passaram muitos anos, mas até a data ninguém jamais se atreveu a ir ao lago do Trovão. E, tu, tu... - replicaram-lhe os Dois, tentando persuadi-la.

A jovem permaneceu silenciosa mas, pelos seus lábios apertados e o enérgico olhar fixo, os pais puderam adivinhar que ela já tinha tomado a sua decisão.

Assim, poucos dias depois, Hua Xu deixou a sua aldeia e os pais e começou a caminhar pela margem acima do rio do Trovão em direção a sua nascente. No caminho colheu frutos selvagens com que mitigou a sua fome e matou a sua sede bebendo água do rio sempre caminhando, caminhando sem parar. Ao fim de vários dias apareceu-lhe subitamente pela frente um imenso lago de profundas aguas negras - era o lago do Trovão. A jovem debruçou-se observando as temíveis Aguas quando, de repente, irrompeu de entre ondas altas e impetuosas um monstro de rosto humano e corpo de dragão.

Assustada, Hua Xu recuou uns passos e escondeu-se detrás de uma grande arvore, mas, inadvertidamente pisou em uma grande pegada e sentiu-se transfixa em uma posição imóvel.

- Como te atreves a vir à minha divina residência! - falou o monstro em uma voz de Trovão.

E, sem mesmo esperar uma resposta da jovem, o deus Trovão saltou fora das aguas para a margem do lago e, apanhando a jovem, levou-a nos braços para o seu palácio no fundo do lago.

Embora amplo e grandioso, o palácio do deus do Trovão era despojado de mobílias. Em um trípode estava pendurado um grande tambor e, ao lado deste, estava reclinada uma gigantesca baqueta, sendo estes os instrumentos com que o deus provocava trovoes. Quando, frequentemente, viajava voando para o Céu tocava o seu tambor, ouvindo-se em simultâneo o ribombar dos trovões na Terra. Por vezes, quando ficava bêbado, também tocava este tambor no seu palácio dando então lugar a impetuosas ondas, tanto no lago como no rio, o que causava graves calamidades.

- Como te atreves a vir a minha divina residência?! - repetiu o deus a sua pergunta.

- Vim aqui para discutir contigo! - respondeu-lhe a jovem em um tom tranquilo. - Tanto o Imperador Celestial como os deuses do Vento, dos Relâmpagos e todos os demais vivem sempre no Céu. Gostaria que me explicasses por que e que tu insistes em estabelecer a tua residência aqui na Terra?

- Porque... porque me apetece! - replicou confuso o deus do Trovão em um ar arrogante.

- Mas, sabes porventura, que tens vindo a causar desastres consideráveis aos habitantes que moram nas margens do rio do Trovão? - retorquia a jovem mostrando-lhe a sua indignação.

Perante as palavras argumentativas de Hua Xu, o deus do Trovão, apesar da sua crueldade e violência, não conseguiu encontrar nenhuma replica imediata, admirando antes a coragem da jovem e sentindo-se ficar arrastado, apaixonadamente, pela sua presença.

- Então, esta bem! Em breve partirei de novo para o Céu; no entanto, ponho uma condição: quero que aceites ser minha esposa. De qualquer maneira, já não tens quaisquer possibilidades de regressar a tua terra natal - disse-lhe o deus do Trovão a meia voz. Admirada, a jovem quedou-se pensativa com um ar hesitante e o deus do Trovão aproveitou para acrescentar em um tom suave:

- Fica tranquila que daqui para diante tratar-te-ei como mereces.

Ao ver que o deus do Trovão tinha aceitado cumprir o que ela lhe pedia, Hua Xu decidiu casar-se com ele; este, a partir de então, passou a trata-la sempre com a maior das bondades e desvelos e, contendo-se de soar o tambor desnecessariamente, o lago e o rio passaram a ter uma serena tranquilidade.

Um ano depois, Hua Xu deu à luz um filho e o deus do Trovão preparava-se para, definitivamente, regressar ao Céu conforme tinha prometido, acompanhado pela mulher e pelo filho. Mas, Hua Xu, pensando na sua próxima partida, começou a ter fortes saudades da sua terra natal e dos pais. Decidiu que, como ela mesma nunca mais haveria de ter possibilidades de regressar ao mundo, pelo menos o seu filho deveria crescer no Estado de Hua Xu Shi.

Assim, um dia, aproveitando um momento em que o deus do Trovão se tinha ausentado, a jovem colocou a criança dentro de uma grande cabala, colocando depois esta no rio e deixou-a ser levada pela corrente.

Aconteceu que nesse dia, o pai da jovem se encontrava pescando no mesmo rio e, com o passar do tempo, fitando as aguas que corriam mansas, o ancião sentindo-se saudoso da filha, começou a chorar copiosamente quando reparou que, arrastada pelas forças das aguas, se aproximava dele uma grande cabala.

Estranhando as suas dimensões, o ancião retirou-a do rio e levou-a para casa onde se decidiu a enceta-la a sua mulher. Mas, assim que o casal a talhou, saiu de dentro desta uma rosada e anafada criança envergando uma camisa bordada de flores.

- Que milagre! - gritaram os dois em uníssono. - E a camisa da nossa filha!

Seguidamente, examinaram detalhadamente os traços da criança que com a sua larga testa, a sua alva pele e as suas bem pronunciadas sobrancelhas escuras, era extremamente semelhante a sua filha. Não havia nenhuma duvida de que o imberbe era o seu próprio neto!

Este inesperado acontecimento veio dar uma grande paz-de-alma aos anciãos que tinham ficado com o coração dilacerado, primeiro, com o afastamento da sua única filha e depois com a ausência de noticias. O inesperado acontecimento propagou-se de boca em boca e, tendo vindo muitas pessoas felicita-los e para recordarem o auspicioso aparecimento do neto, os avos deram-lhe nome de Fu Xi, significando que tinha sido oriundo de uma cabala.

Fu Xi, filho do deus do Trovão e da jovem Hua Xu, cresceu rapidamente e em breve se distinguiu, consideravelmente, das demais pessoas pela sua altura gigantesca, inteligência e bravura, mas o mais extraordinário era que Fu Xi tinha o poder de subir ao Céu pela "escada celeste".

Segundo uma lenda dos tempos mais remotos, a Terra e o Céu estavam ligados por uma gigantesca árvore chamada Jian Mu que, colocada no centro da Terra, era como uma "escada" natural. Esta arvore, ao contrario de todas as outras, não produzia sombra sob os raios do Sol e, ao longo do seu tronco, caíam milhares de lianas biparas em forma de cordas que constituíam a "escada celeste", por onde os deuses desciam do Céu a Terra e vice-versa. No entanto, os seres humanos não tinham a habilidade de subir ao Céu por esta "escada". Fu Xi, sendo filho de um deus, podia subir e descer facilmente por ela.

Fu Xi amava muito a pátria onde tinha crescido e o seu povo, com quem tinha convivido desde criança. Graças a sua inteligência sobrenatural ele tinha contribuído, de inúmeras maneiras, para o seu progresso, tal como: ter inventado um habilidoso método de fazer redes de pesca inspirado pelas teias das aranhas, ter introduzido a preparação dos alimentos a quente refutando uma dieta frutívora - os seus companheiros chamando-o, respeitosamente, de Bao Xi, que significa "o melhor cozinheiro" - etc. A maior das suas contribuições foi, no entanto, a criação dos Oito Trigramas que representam os oito estados da natureza:

(Qian) o céu;

(Kun) a terra;

(Kang) a água;

(Li) o fogo;

(Gen) a montanha;

(Zhen) o Trovão;

 (Xun) o vento;

 (Dui) o lago.

Fu Xi explicou aos seres humanos a essência de todos os aspectos universais contidos nos Oito Trigramas e as inter-relações entre estes. Se os humanos aprendessem a dominar as características, relações e conversões entre os aspectos universais implícitos nos Oito Trigramas e controlassem as suas respectivas funções, estes poderiam, tal como os deuses, evitar muitos dos prejuízos causados pelas calamidades naturais e utilizar corretamente todas as coisas ao serviço do progresso e harmonia de todos.

Segundo uma lenda, no processo de domar as aguas, Da Yu tinha antevisto uma grande e escura gruta no monte da Porta-do-Dragão e querendo conhecer detalhadamente o seu interior, tinha entrado nela empunhando um archote quando, de repente, das suas profundezas lhe surgiram dois grandes ursos. Um deles agarrava na sua boca uma perola reluzente que iluminava o interior da gruta tal como se fosse pleno dia, enquanto o outro acenava com a cabeça em direção ao exterior dando a entender a Da Yu que os seguisse. Depois de caminharem cerca de Dez Li Da Yu chegou a frente de um palácio e, no momento em que ele estava surpreso por tal aparição, os dois ursos transformaram-se em dois guardas envergando uniformes pretos pondo-se de sentinela. No centro do salvo principal do palácio estava sentado um deus com face humana e corpo de dragão, que Da Yu imediatamente reconheceu não ser outro senão Fu Xi, o filho do deus do Trovão e da jovem Hua Xu. Da Yu saudou-o então respeitosamente, e pediu-lhe que desse o seu parecer sobre a melhor maneira de dominar as águas ao que Fu Xi, ficando muito honrado por tal intercessão, lhe deu uma placa de jade na qual se encontrava gravado o plano de Oito Trigramas.

- Para se dominar as águas - desse-lhe Fu Xi - é preciso conhecer-se bem a topografia das montanhas e dos rios assim como os níveis das águas e dos terrenos. Não basta arrasarem-se montanhas deixando livre a passagem das correntes, escavarem-se terras para se drenarem as águas ao mar ou construírem-se cliques e pontes; é preciso conhecer-se as suas respectivas e intrínsecas características. Só através do conhecimento destas e pondo em prática os seus princípios básicos, Segundo o que est[a prescrito na placa de jade e de acordo com as indicações do plano de Oito Trigramas, as águas serão dominadas e a humanidade será salva da sua miséria.

Assim, graças aos Oito Trigramas, Da Yu conseguiu definir as topografias das montanhas, dos terrenos e dos rios e dominar radicalmente as águas.

Segundo uma outra lenda, muitos anos depois, na época da Dinastia Yin, quando o soberano despótico Zhou ocupava o trono, um seu ministro chamado Ji Chang (posteriormente eleito rei com o nome de Zhou Wen Wang) apresentou-lhe, respeitoso, um construtivo criticismo a proposito da tirania das suas ações, tendo por isto sido preso pelo monarca e encarcerado em Youli. Aproveitando o tempo solitário desses dias angustiados, o ex-ministro dedicou-se ao estudo dos Oito Trigramas e, combinando as suas próprias experiências com os preceitos dos princípios, veio a estabelecer uma serie de ensinamentos ainda mais profundos. Ao anotar estes ensinamentos em anexo ao plano dos Oito Trigramas, compilou assim O Zhouyi (Livro sobre as Mudanças) fazendo com que os futuros estudiosos compreendessem melhor as diversas mudanças da natureza e da sociedade.

Tomando em consideração as grandes contribuições de Fu Xi em relação ao bem-estar futuro da humanidade, o Imperador Celestial nomeou-o rei do Estado de Hua Xu Shi. Graças as suas capacidades sobrenaturais, ao seu enorme talento e as imprescindíveis ajudas dos seus valiosos ministros, o governo de Fu Xi trouxe grande prosperidade ao pais. Ju Mang, o seu ministro da agricultura, era um ser de rosto humano e corpo de ave, extremamente competente e altamente respeitado pelo povo. Todos os anos, no principio da primavera, ele voava pelos quatro cantos do globo, medindo as terras a serem cultivadas e mobilizando pessoas para as lavrar e semear - tendo por isso ficado conhecido como o deus da primavera.

Conforme os anais históricos, o Estado de Hua Xu Shi era nessa altura um pais tal como o paraíso na Terra, todos os seus habitantes sendo conhecedores de astronomia e sendo capazes de predizer as mudanças climatéricas, conhecendo também as propriedades das montanhas, dos rios, dos terrenos e das plantas, e obtendo, infalivelmente, ótimas colheitas todos os anos. As pessoas viviam, também, até uma adiantada idade, muitos anciãos tendo mais de 100 anos. Neste paraíso terrestre as águas não afogavam os mortais, nem o fogo os queimava, nem as brumas e as nuvens lhes toldavam a vista, nem os trovoes lhes prejudicavam os ouvidos; podendo estes, inclusive, atravessar as montanhas e os rios com a mesma facilidade com que se deslocavam nas planícies. Graças ao entendimento total do plano dos Oito Trigramas de Fu Xi, os habitantes do Estado de Hua Xu Shi conseguiram possuir capacidades sobrenaturais e assim levarem uma vida ideal. Mesmo nos tempos atuais aqueles que se dedicam ao estudo dos Oito Trigramas tem vindo a afirmar que muitos dos conhecimentos adquiridos através destes, podem inspirar as pessoas a conhecer melhor e dominar mais seguramente as leis da natureza.

Mitologia Chinesa
Deus do Trovão Fu Xi  Hua Xu
| Por Sarah Bartlett
Da Yu e o dilúvio da China

Segundo uma lenda, no tempo pré-histórico da China houve uma enorme inundação que teve proporções calamitosas para os seres humanos e causou inimagináveis desastres. A terra converteu-se então, em um imenso oceano, todas as plantações ficaram submersas, muitas casas destruídas e os humanos - ajudando os anciões e levando aos braços as crianças - tendo-se refugiado nas montanhas ou simplesmente procurando socorro no topo das arvores. Como não puderam suportar os constantes sofrimentos do vento e da chuva e, particularmente, não encontraram quaisquer alimentos, muitos acabaram por morrer de fome ou de frio. Os mais afortunados encontraram abrigos nas grandes montanhas, em grutas, ou improvisaram pobres cabanas de ramos e folhagens, só encontrando para comer cascas de arvores e legumes selvagens. Como muitos animais ferozes e venenosas serpentes também fugiram ao flagelo, indo para as partes mais altas destas montanhas ameaçando assim ainda mais a vida dos seres humanos, é impossível dizer-se quantas pessoas morreram realmente de fome, de frio ou da ferocidade dos animais.

Em completo desanimo, os seres humanos não encontraram outro remédio senão pedirem clemência ao Imperador Celestial e implorar-lhe que controlasse as aguas e os salvasse desta vida de miséria; contudo, o soberano, entretido com as suas distrações e prazeres no Palácio Celestial, não queria prestar atenção aos sofrimentos dos seres humanos, aos olhos dele estes não eram mais do que formigas, boas para nada.

Mas, o Imperador Celestial tinha um neto chamado Gun que, tendo tomado a peito os sofrimentos dos homens, decidiu interceder ao avô por eles.

Se bem que fosse um deus e um neto do Imperador Celestial, não lhe foi fácil uma entrevista com o soberano. Na realidade, ele já tinha por várias vezes feito este pedido de audiência, contudo, ou tinha sido informado a ultima hora que o avô estava muito ocupado e não tinha tempo para o receber ou a sua entrada aos apartamentos reais tinha sempre sido vigorosamente impedida pelos guardas. O Imperador Celestial era realmente um arrogante, egoísta, desprovido de quaisquer sentimentos, mesmo para com os seus próprios descendentes.

Um dia, extremamente preocupado com a situação insuportável dos humanos, Gun irrompeu pela porta do Palácio Celeste dizendo que tinha assuntos urgentes a relatar ao soberano, não deixando aos guardas outra alternativa senão leva-lo imediatamente a presença real.

O Imperador Celestial estava degustando diversas frutas preciosas enquanto seguia enlevado os graciosos movimentos de um grupo de fadas que dançavam ao som de uma musica suave. Ao aperceber-se da súbita aparição do neto sem reparo a sua dignidade protocolar, o Imperador Celestial ficou zangado e perguntou-lhe friamente:

- Qual assunto é o teu para ser assim tão urgente?

- Caro avô, as aguas já inundaram toda a superfície do mundo dos humanos e os sobreviventes estão sofrendo grandes padecimentos: doenças, fome, privações, violências... Desgraçados deles! Imploro-lhe que tomemos medidas urgentes para dominar as aguas salvando a vida dos humanos da miséria por que passam! - respondeu Gun.

- Não pode ser! - disse furioso o Imperador Celestial. - Os seres humanos tem vindo a cometer cada vez mais crimes e devem ser castigados com estas calamidades; além disso, não tenho tempo suficiente para tratar de assuntos de menor importância como esses. Espero, portanto, que, de agora em diante, não me incomodes mais!

Assim, Gun foi obrigado a retirar-se silenciosamente da presença do soberano com o coração ainda mais dilacerado pelos sofrimentos dos seres humanos. Sem conseguir se conter, andava de um lado para o outro pensando: "Custe o que custar, devo salvar a humanidade dos limites da destruição total!". Mas, que podia ele fazer se todos os poderes máximos do universo estavam nas mãos de seu avô?

As aguas continuavam subindo, engolindo campos, casas, colinas... até mesmo acabando por submergir as mais altas arvores. No caso das aguas não virem a ser rapidamente dominadas, todas as terras e seres humanos estariam a ponto de desaparecer para sempre. O horror da cena das aguas turbinadas alastrando-se pelos quatro cantos do globo, e os gritos desesperados das pessoas partiam o coração de Gun, mas ele, apesar da sua bondade e retidão encontrava-se impotente perante tal e miserável situação. Agora, o único fenômeno que poderia vir a dominar as inundações era um diminuto, mas extremamente pesado, bloco de solo amarelo magico chamado Terra Prolifera. Este objeto, mediante umas palavras magicas, tinha a propriedade de em um abrir e fechar de olhos, alastrar o seu volume para vários quilômetros, dezenas de quilômetros ou mesmo centenas de milhares de quilômetros - podendo assim controlar as inundações e redescobrir a superfície da terra.

A Terra Prolifera estava, no entanto, guardada em um lugar secreto, sendo extremamente difícil a sua obtenção.

Ora, certo dia, ao passar esvoaçando um passarolo frente a Gun, ele deteve-o e perguntou-lhe:

- Olá, caro amigo! Sabes, por acaso, que a humanidade esta sofrendo enormes calamidades?

- Sim, ja sei. Se as aguas continuarem a correr impetuosamente, a raça humana será brevemente exterminada - respondeu o passaro.

- Esvoaçando tão frequentemente pelo Palácio Celeste e com a tua penetrante visão, saber-me-ias, por acaso, dizer qual o local de um tesouro magico que procuro?

- De que se trata?

- Da Terra Prolifera que esta sob o controle do meu avô, o Imperador Celestial. Para dominar as aguas da terra é indispensável consegui-la. Sabes onde se encontra esse objeto magico?

- Não tenho bem a certeza - disse o passaro - mas acho que deve encontrar-se algures no Palácio Posterior, pois ouvi dizer que todos os tesouros do Imperador Celestial então ali guardados em inúmeros cofres de jade.

- Faz-me um grande favor, vai lá e verifica se porventura a Terra Prolifera se encontra lá de verdade. O pássaro concordou acenando a cabeça e partiu mas, como anoitecia e as portas celestes já se encontrassem fechadas, ele teve de, magicamente, piscar os seus olhos batendo ao mesmo tempo ambas as suas largas asas para conseguir entrar no pátio, pousando assim, no exterior do parapeito duma das janelas do Palácio Posterior. Escrutinizando o seu interior, o passaro deparou-se com uma imensidão de cofres de jade arrumados metodicamente em filas e gravados em caracteres dourados: o Elixir da Imortalidade, a Bengala de Mil Anos, a Cordoalha para Subir ao Céu... e entre todos os demais, em uma esquina: a Terra Prolifera. Contentíssimo com o seu achado, o pássaro revoou imediatamente para fora do palácio, indo ter com Gun, e contou-lhe o que tinha visto.

O problema era agora como obter a Terra Prolifera pois que, esta sendo tão pesada, nem Gun nem o pássaro tinha forças para a remover. Gun quedou-se pensativo durante alguns instantes e depois, a passos largos, dirigiu-se ao Rio Celeste (Via Láctea) indo pedir ajuda a gigantesca tartaruga imortal - o único ser capaz de transportar tamanho peso. Ali chegado, Gun encontrou a tartaruga fazendo um passeio pela margem do rio e contou-lhe o que pretendia dela. Apos ter ouvido com atenção as suas palavras, a tartaruga concordou esticando o pescoço, e prontificou-se a roubar a Terra Prolifera com o fim de salvar a humanidade.

Guiada pelo pássaro, a tartaruga imortal dirigiu-se ao Palácio Posterior onde, depois de abrir um buraco na parede, rastejou no interior em direção ao cofre da Terra Prolifera. Tendo-se apoderado do bloco, meteu-o as costas e levou-o a Gun, chegando banhada de suor e sufocada de cansaço.

Ao ver a Terra Prolifera, Gun ficou extremamente contente e pediu a tartaruga um ultimo favor, que transportasse o objeto do céu para a terra, colocando-o em uma posição desejada.

- Cresce! - entoou, então, Gun, como se tivesse recitado uma oração encantada.

E, no mesmo instante, a Terra Prolifera começou a crescer, expulsando as aguas em todas as direções e fazendo reemergir a crosta terrestre.

Assim, a humanidade foi salva e os sobreviventes puderam regressar das montanhas as suas terras natais. Cheios de alegria e esperança, os homens recomeçaram a lavrar os terrenos, a semeá-los e a construir casas... a partir de então, os humanos tem vindo a levar uma vida feliz sobre a terra e contribuído para lhe dar uma fisionomia cada vez mais prospera.

Não tardou, no entanto, que a noticia do roubo da Terra Prolifera chegasse aos ouvidos do Imperador Celestial que, colérico, chamou Gun e interpelou-o em um tom severo:

- Que audácia foi essa! O roubo da Terra Prolifera foi uma ação de traição aos meus desejos! Advogando a justa causa da sua ação, Gun corajosamente protestou ao avô dizendo-lhe em um tom enérgico:

- As grandes inundações provocaram no mundo tamanhas fomes e sofrimentos que deram origem a generalizados queixumes e blasfêmias por parte da humanidade contra vos! Creio não ter sido injusto tomar medidas para salvar os seres humanos dos limites da morte.

- O melhor é calares-te imediatamente! Sabes bem que não te deves atrever a falar-me em um tom de tal descortesia! - replicou-lhe ainda mais furioso o Imperador Celestial, ordenando a um dos seus subordinados, chamado Zhu Rong, que matasse imediatamente Gun ao pé da montanha de Yushan, situada no polo norte da terra.

Depois da execução de Gun, o Imperador Celestial recuperou também a Terra Prolifera e apareceram de novo maciças inundações por toda parte, tendo sido o resultado de todos os trabalhos efetuados pelos seres humanos outra vez destruídos pelas aguas.

Embora Gun tivesse sido morto, o seu ardente e justo coração continuava batendo e o seu cadáver continuava intacto, permanecendo três anos consecutivos sem apodrecer. Ao ser informado do que se passava a este respeito, o Imperador Celestial, assustado e preocupado pela eventual ressuscitação de Gun, mandou um dos seus generais escortinhar o ventre do cadáver mas, ao chegar ao local para executar a ordem recebida via, de repente, o ventre de Gun abrir-se por si só diante dos seus olhos e o coração dele transformar-se na pessoa do seu filho, a quem chamaram de Da Yu - logo depois o cadáver de Gun afundou-se nas profundas aguas do rio Yuyuan convertendo-se em um peixe-dragão.

Tal como o pai, Da Yu mostrou ser também um deus bondoso e honesto e ainda mais inteligente e valente do que Gun. Para continuar a missão do pai, ele decidiu levar a bom termo a causa da salvação do seres humanos.

Revoltado contra os ditames do Imperador Celestial, Da Yu resolveu não ir ao céu pedir a ajuda do soberano e, resolveu antes, com sua inteligência e poderes sobrenaturais, organizar pessoalmente os seres humanos a dominarem as aguas.

Da Yu sabia que os culpados das inundações eram os gênios das montanhas e os demônios das aguas e que as suas ações criminosas eram realizadas sob as ordens de Gong Gong - o deus supremo das aguas - e que se quisesse dominar radicalmente as aguas tinha que, em primeiro lugar, eliminar todos esses malvados.

Da Yu fez, então, convocar na montanha de Maoshan, situada a beira do mar do Leste, uma reunião geral destinada a elaborar um plano de expedição contra Gong Gong. Todos os deuses participantes nesta reunião estavam de acordo com a supressão do malvado demônio, e assim, Po Yi - deus dos pássaros, Wu Muyou - deus das arvores, Tong Lu - deus do firmamento, Geng Chen - deus do tempo, uns quantos dragões celestes e outras tantas criaturas fantásticas ficaram incumbidas de realizar tarefas respectivas na grande expedição contra Gong Gong.

Depois de analisarem a situação geral das aguas, aperceberam-se que a zona da montanha Tongpo, nas planícies centrais, era o lugar atingido mais gravemente pelos inundações. Como este lugar estivesse sob o domínio de Wu Zhigi - deus dos rios Huaihe e Wohe, este se valia dos seus poderes mágicos para provocar constantes ondas e ventos, atuando a seu bel-prazer e sem consideração pelos humanos. Da Yu, que já tinha previamente passado por esta zona três vezes, tinha ficado com o conhecimento dessa enorme escala das inundações.

Seguindo as ordens de Da Yu, Tong Lu e Wu Muyou foram os primeiros a enfrentar Wu Zhigi, mas nem com os seus esforços associados o conseguiram vencer. Wu Zhigi era um deus extremamente cruel e astuto e tinha uma fisionomia que aparentava a de um macaco: nariz achatado e dentes serrados e, com o seu corpo preto e a sua cabeça branca de testa alta e olhos reluzentes podia esticar o seu pescoço até o comprimento de cem metros. A sua força era tão grande que podia enfrentar nove elefantes ao mesmo tempo, e como tinha poderes de aparecer e de desaparecer com grande agilidade sobre e sob a superfície das aguas, era quase impossível de ser capturado. Depois das tentativas fracassadas dos primeiros dois deuses, Da Yu mandou Geng Chen combate-lo. Desta vez, se bem que Wu Zhigi fosse extremamente ardiloso, não conseguiu escapar aos poderes de Geng Chen - deus do tempo - e foi finalmente capturado. Por ordem de Da Yu, Wu Zhiqi viu o seu pescoço acorrentado por uma grilheta de ferro e o seu nariz perfurado por um anel de ouro, vindo depois a ser preso sob o peso esmagador da montanha da Tartaruga, adjacente a um dos afluentes inferiores do rio Huaihe, desde então, nunca mais veio a provocar catástrofes.

Apos ter liquidado Wu Zhigi, Da Yu começou a organizar o ataque contra Gong Gong - deus das aguas - que se encontrava na região de Kongshan, a leste da China. Para evitar que Gong Gong se lhes escapasse, caso este viesse a saber da captura secreta de Wu Zhigi, Da Yu convocou então, outra reunião cimeira em Maoshan para projetar um novo plano de combate, de modo a organizar um cerco definitivo que aniquilasse de uma vez por todas o maldoso demônio mas, devido a chegada tardia do deus do vento, Da Yu perdeu a ocasião oportuina para o ataque, e Gong Gong que entretanto, tinha simultaneamente recebido as noticias sobre a captura do deus dos rios Huaihe e Wohe e sobre as ações unificadas dos deuses em uma expedição contra ele, aproveitou a oportunidade para se precaver e retaliar provocando, colérico e temeroso, uma grande inundação na zona de Kongshan. Quando o deus do vento finalmente chegou a montanha Maoshan, foi sumariamente executado por ordem de Da Yu, devido a ser o culpado da perda da planejada batalha contra Gong Gong. Tempos depois, para honrar os méritos de Da Yu, os seres humanos mudaram o nome da montanha Maoshan para Huiji que significa "lugar de reunião onde se deliberam projetos".

Depois da captura de Wu Zhigi e da fuga de Gong Gong, a tarefa principal apos terem sido dominadas as aguas, viria a ser a drenagem das aguas para o mar, de modo a descobrir-se de novo a superfície da terra, tornando propicia a humanidade uma vida em paz. Mas, como para por em pratica tal e glorioso objetivo era necessário, em primeiro lugar, conhecer-se minuciosamente a topografia do mundo, então, Da Yu ordenou a Da Zhang e Jian Hai - dois grandes generais celestes - que medissem criteriosamente o planeta. Da Zhang percorreu a terra dos seus extremos leste a oeste calculando a largura desta ser de 100.016.750 quilômetros. Jian Hai, por sua vez, caminhou do polo norte ao sul chegando a conclusão que o comprimento da terra era da mesma cifra que a sua largura. Além disso, ambos informaram Da Yu com descrições concordantes: a terra era constituída por rios impetuosos, lagos de sinuosos perfis, altas montanhas e em numerosos e terríveis abismos. Efetivamente, não seria fácil controlarem-se definitivamente as aguas de tão extenso território, com uma topografia tão diversificada, mas, tal como um ditado chinês que diz: "perseverança no trabalho pode remover quaisquer obstáculos", também Da Yu não ficou intimidado perante tais dificuldades e persistiu em salvar a humanidade da miséria. De fato, ele tinha já dedicado todos os seus esforços ao trabalho de dominar as aguas: atravessando rios, subindo montanhas, cruzando nove continentes, visitando dez mil países longínquos... Durante essas incursões, já Da Yu tinha desafiado mil aventuras, inspecionado múltiplos lugares despovoados e, logicamente, visto muitas coisas extra-ordinárias e ouvido inúmeras historias interessantes.

No processo de dominar as aguas, em múltiplas ocasiões, Da Yu tinha obtido em numerosas e dedicadas ajudas de varios deuses. Um dia, encontrava-se ele inspecionando a configuração de um terreno no monte da Porta-do-Dragão, onde Fu Xi vivia, quando este ultimo veio ao seu encontro e o presenteou com o Plano dos Oito Trigramas, no qual estavam representados, respectivamente, o Céu, a Terra, a Agua, o Fogo, a Montanha, o Trovão, o Vento e o Lago - o qual demonstrou vir a ser um precioso instrumento no domínio das aguas. Outro dia, encontrava-se Da Yu inspecionando as correntes do rio Amarelo, quando lhe apareceu entre as ondas, subitamente, Feng Yi - deus das aguas -, um ser de rosto humano e corpo de peixe, e lhe ofereceu um Mapa dos Rios. Como este mapa indicasse, detalhadamente a orientação e a força das correntes de todos os rios situados nas planícies centrais da China e estivesse correto de acordo com as suas próprias e prévias investigações, Da Yu sentindo-se ainda mais confiante e seguro para dominar as aguas, decidiu iniciar a execução de gigantescas obras hidráulicas e, pegando em uma picareta e em uma canastra, começou orientando milhares e milhares de pessoas escavando lagos, construindo diques, transportando terras, arrasando montanhas e nivelando abismos. A tartaruga imortal reapareceu para colaborar no progresso das obras, podendo de uma vez só transportar uma colina inteira ou preenchendo um profundo abismo. O dragão Ying um sobrenatural gigante de força hercúlea - também veio oferecer os seus préstimos para a construção das obras, prestando com sua cauda, mais dura que o aço, consideráveis contribuições escavando e dragando vários rios por dia.

De todas as obras projetadas, a mais difícil e perigosa de executar era a supressão do monte da Porta¬do-Dragão. Este monte, cobrindo uma área de varias centenas de quilômetros quadrados estava situado no curso médio do rio Amarelo, impedindo a franca passagem das suas aguas que aqui se transformavam em uma corrente impetuosa por serem coagidas a atravessarem um desfiladeiro muito estreito e alcantilado. Assim, cada vez que ocorriam grandes chuvas, o rio transbordava causando inundações enormes e calamidades nos terrenos do curso interior do rio.

Sem temer quaisquer dificuldades ou hesitar minimamente perante os perigos, Da Yu participou pessoalmente junto aos demais trabalhadores no processo das obras do monte da Porta-do-Dragão, quer sob o Sol escaldante do verão que fazia ferver a superfície das pedras e encharcar de suor os corpos das gentes, quer sob o vento glacial do inverno que fazia gelar até a medula dos ossos.

Através das quatro estações, nem o vento, nem a geada, nem a chuva, nem a neve e nem mesmo animais ferozes ou os mais venenosos insetos vieram a impedir o árduo avanço da obra.

No dia da sua conclusão, todos, homens e mulheres, idosos e crianças gritaram orgulhosamente de alegria e rodearam Da Yu com tanta vivacidade que os seus clamores repercutiram-se nas alturas, e fizeram o Palácio Celeste tremer de tal maneira assustando o Imperador Celestial, que jamais tinha imaginado os seres humanos capazes de tanta energia e euforia.

Desde então, a Porta-do-Dragão tornou-se um lugar misterioso pois que, segundo uma lenda, na primavera de todos os anos, todas as carpas do rio Amarelo acordavam para ai se reunirem, e realizarem uma competição extraordinária: as que conseguissem transpor tal obstáculo convertiam-se em dragões, e as que falhassem em ser bem sucedidas, eram compelidas a morrer impedidas pelos choques das aguas contra as rochas - apesar disso, não havia uma só carpa que desdenhasse provar a sua fortuna.

A mulher de Da Yu, por ser proveniente da montanha Tushan, no sul da China, era mais conhecida pela jovem de Tushan. Apos ter-se casado com ela, Da Yu só tinha permanecido em casa quatro dias, devido a ter partido com a intenção de dominar as aguas da terra. Posteriormente, quando a sua mulher deu a luz um filho, este foi chamado de Qi - que significa "pôr-se a caminho" - conforme o nome que Da Yu tinha escolhido para o seu primogênito antes de se ausentar do lar, em memoria desse dia de despedida e de empreendimento.

Apos a partida do marido e durante a sua prolongada ausência, a jovem de Tushan, sempre repleta de saudades dele, frequentes vezes subia a uma colina perto da sua casa carregando no colo o filho de ambos, pensando que se Da Yu porventura regressasse, a reunião familiar seria assim imediata. De modo a melhor poder exprimir nesse momento todos os seus sentimentos a quem amava, ela tinha escrito uma composição intitulada A Canção de Saudade, que começava do seguinte modo:

Que prolongado foi o tempo de espera!...

E quando ela cantava, os sentimentos que exprimia eram o que lhe ia no mais fundo do coração, sendo a melodia de um arrebatador encanto - talvez por isso, os seus versos foram sendo, tradicionalmente, considerados como a primeira poesia de amor do sul da China.

Um dia, como de costume, estava ela de pé no cimo da colina carregando nos braços o seu filho e presenciando o horizonte, quando enxergou um homem que se vinha aproximando de longe em sua direção. Mesmo quando ele já estava perto dela, a jovem de Tushan continuava sem poder reconhecer tal homem magro e de tez queimada pelo Sol, com as mãos e os pés cobertos de grossos calos, e vestido de roupas remendadas... até que finalmente, ela acabou por o reconhecer: era de fato o seu marido! Da Yu tinha finalmente regressado, e o fulgor dos seus olhos refletiam do mesmo modo a sua inteligência e a sua tenacidade de outrora.

A jovem de Tushan ficou muito contente pelo regresso do seu marido mas, ao ver o lastimável aspecto que este apresentava, imediatamente um constrangimento intimo apoderou-se dela e implorou a Da Yu que repousasse sem mais demora.

- Desculpe-me, mas de momento não posso satisfazer o seu pedido - disse-lhe este - pois ainda não consegui dominar as aguas e milhares e milhares de seres humanos continuam ainda ameaçados pelas horríveis inundações. Agora, o mais urgente a fazer é salvar todos os seres humanos do perigo que lhes ameça a vida!

- Mas então não poderás permanecer em casa por um ou dois dias só? - retorquiu a jovem de Tushan. Só o tempo necessário para que eu recomponha o seu vestimento e te arranje um novo par de sandálias de palha.

- O meu tempo é precioso! Bem sei que tens vindo a passar muitas dificuldades por motivo da minha tão longa ausência - disse-lhe Da Yu, em um tom apologético - mas eu não posso descansar antes de ter dominado as aguas.

Mal tinha acabado de proferir tais palavras, Da Yu tomou o seu filho dos braços da mulher e beijou-o carinhosamente; depois, em breves termos, consolou a mulher o melhor que pode e pôs-se a caminho sem mesmo volver a cabeça.

De fato, Da Yu nunca mais voltou a casa durante todo o processo das obras da Porta-do-Dragão se bem que viesse a passar por mais de três vezes frente a sua porta.

Passaram-se um, dois, três... tantos anos, Da Yu tinha caminhado de sul a norte, do lugar do nascer do Sol ao poente, desafiando o vento, a chuva e as mais diversas intempéries e dificuldades, mobilizando, organizando e dirigindo o povo no progresso construtivo dos imensos empreendimentos hidráulicos. Durante treze anos consecutivos, os seres humanos escavaram lagos, nivelaram abismos, dragaram rios... gradualmente as aguas começaram a correr para os mares de acordo com o desejo de todos. As largas extensões das férteis planícies voltaram a ficar expostas, e os refugiados das grutas puderam regressar as à suas terras natais para aí reconstruírem casas, cultivarem sementeiras, criarem gados, pastarem ovelhas... era o inicio de uma nova vida!

Assim e sob a direção de Da Yu, os seres humanos dominaram as aguas mediante os seus próprios esforços, sem pedirem a intervenção do Imperador Celestial nem utilizarem a Terra Prolifera. Isto veio a fazer crescer o prestigio de Da Yu, simultaneamente constituindo um motivo de orgulho generalizado de toda a humanidade. Tomando em consideração as suas façanhas e os seus méritos, o povo deu unanimemente a Da Yu toda a sua confiança e apoio, elegendo-o como o sucessor de Da Shun - o soberano da China de então que, devido a sua avançada idade e débil saúde, em breve viria a rescindir do seu trono em favor do herói.

Segundo certas lendas antigas, Da Yu foi o primeiro imperador da dinastia Xia (Século XXI - Seculo XVI a.e.c.). Depois de subir ao trono, escolheu Po Yi e Gao Tao para ajuda-lo no governo do seu pais, em todo o território veio a reinar a ordem e a prosperidade. Da Yu continuou a interessar-se pelo bem-estar do seu povo, frequentemente inspecionava todas as regiões do seu pais. Assim que soubesse que uma influencia de gêneros ou matérias existia em uma região, Da Yu ordenava imediatamente que produtos adequados fossem transportados dos lugares mais prósperos para os mais necessitados, atendendo, deste modo, a que todas as populações pudessem gozar o mais permanentemente possível de uma vida feliz e pacifica. Além disso, ele ensinou tamb&

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Gun - Imperador Celestial - Yu Huang Shang Di - Imperador Celestial - Zhu Rong - Da Yu - Gong Gong - Po Yi - Wu Muyou - Tong Lu - Geng Chen - Wu Zhigi - Jian Hai - Feng Yi    
| Por Antônio Daniel Abreu
Da Yu no país dos gigantes

Um dia, encontrava-se Da Yu à procura de um lugar para a drenagem das aguas quando chegou a uma grande ilha chamada Bogushan, situa a leste do Mar Bohai, perto do lugar do nascer do Sol e da Lua. Depois de atracar o seu barco, Da Yu anteviu ao longe uma colina, mas depois de caminhar mais de dez Li na sua direção, pode ver que a colina não era mais do que um enorme edifício de cor pardacenta. Sobre o portão de entrada estava colocada uma tabuleta onde estava escrito: Palácio dos Gigantes. No centro do saldo principal estava um gigante com os seus dois grandes braços abertos pronunciando um discurso, em volta deste encontravam-se outros cinco ou seis gigantes de cócoras. De há muito que Da Yu já tinha ouvido falar de um país de gigantes chamado Long Bo, a leste do Mar Bohai, cujos habitantes eram descendentes de um dragão, chegando eles a atingir cerca de trinta e tantos metros de altura e sendo o seu prazo de crescimento trinta e seis anos. A nascença, já os imberbes tinham fartos cabelos brancos e a sua altura ultrapassava dos homens normais.

Na realidade, o Palácio dos Gigantes não era mais do que um enorme salão de assembleia onde os gigantes se reuniam para discutirem assuntos pertinentes ao seu país. A vozearia dos gigantes era tão forte que, dir-se-ia, ser o ribombar de grandes tambores e, não podendo suportar tal barulho, Da Yu afastou-se do edifício voltando a orla do mar.

A pouca distancia da praia, Da Yu avistou um gigante que estava pescando em um barco minúsculo para ele mas que, de fato, era tão grande como um navio militar. Havia ainda outros que estavam pescando de pé dentro da agua, as macias ondas do mar encapelado chegava-lhes somente às suas cinturas. De repente, dois gigantes gritaram de alegria e arremessaram um peixe à praia que não era nada menos do que uma baleia! No entanto, a baleia seria só suficiente para a refeição de uns poucos gigantes.

O que estava acontecendo mantinha Da Yu totalmente absorto quando, de súbito, ouviu um grande ruído de passos rebentar-se nas suas costas. Virou-se e vendo que um gigante estava caminhando em direção a ele e se preparava para, inadvertidamente, precipitar o seu pé - tão grande como uma pequena embarcação - sobre a sua cabeça, Da Yu gritou a toda força:

- Ei, toma atenção!

Perplexo, o gigante inclinou-se a procura da origem da voz que lhe tinha soado tão fraca como o zumbido de um mosquito. Na sua terra natal, Da Yu era considerado como um homem alto e forte, mas no pais dos gigantes a sua estatura não ia para além do calcanhar de um gigante.

- Mas donde vens tu? - perguntou o gigante a Da Yu em um tom surpreso, contudo, suave.

- De muito longe - respondeu-lhe Da Yu apon¬tando em direção do oeste. - Vim aqui a fim de procurar um lugar ideal para drenar as inundações.

O prosseguimento da conversa entre ambos acabou por atrair a atenção dos outros gigantes que rodearam Da Yu, uns sentando-se na areia e outros, simplesmente, de cócoras, pondo-se em breve todos a discutirem sobre os meios de se dominarem as aguas. Assim, eles disseram-lhe que no mar, a pouca distancia de Bogushan, havia um lugar chamado Gui Xu que era na realidade um vale sem fundo e que este vale, provavelmente, seria o local ideal para vir a ser o vazadouro das inundações - bastaria somente que as inundações fossem canalizadas ao rio Amarelo que então drenaria as suas aguas no imenso mar.

Mas as desembocaduras do rio Amarelo estão há muito entupidas! - retorquiu Da Yu. - Será preciso dedicar colossais esforços antes que nos, os humanos, consigamos dragar o seu sedimento.

- Mas nos podemos ajudar nesse aspecto - responderam em uníssono os gigantes.

Assim, pouco tempo depois, guiados por Da Yu, alguns dos gigantes foram ao delta do rio Amarelo e de pé, no meio da agua do rio, com os seus possantes braços e grandes mãos, começaram a dragar o sedimento, lançando-o ao mar. Bastaram poucos instantes apenas para que as aguas do rio começassem a correr impetuosamente para o mar. Da Yu, tendo ficado rejubilante, apresentou-lhes os seus agradecimentos em nome de todos os povos. Porem, ele não se atreveu a convida-los a visitar o seu pais natal, preocupado de que os gigantes pudessem incautamente vir a pisar casas ou pessoas, destruindo-as ou matando-as, durante a sua estada.

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  Gigantes Da Yu
| Por Antônio Daniel Abreu
Da Yu no país dos anões

Ainda mais longínquo que o Mar do Sul, havia um pais chamado Jiao Jiao onde viviam apenas anões. Um dia, fatigado apos uma Tonga viagem, Da Yu deitou-se em uma praia desse pais, ai adormecendo. Ao despertar, sentiu-se invadido por umas cocegas insuportáveis, como se muitos e minúsculos insetos estivessem subindo sobre o seu corpo. Depois de observá-los de maneira minuciosa, Da Yu descobriu que estes não eram mais do que pequenos anões com duas ou três polegadas de altura, que subiam aos seus ombros tal como se fossem alpinistas. Excetuando a sua altura, os anões tinham a mesma fisionomia que a dos homens normais e vestiam o mesmo estilo de indumentária.

Repleto de curiosidade, Da Yu continuou observando-os sem mexer o seu corpo. Equipe apos equipe, os anões estavam, agora, subindo ativamente pelos seus braços e pernas, uns mesmo a cavalo e outros, conduzindo matilhas de cães. No entanto, os cavalos eram do tamanho de pequenas rãs, enquanto os cães de caça não maiores do que grilos. A frente de todos, um valente correu para a ponta do nariz de Da Yu empunhando uma bandeira nas mãos. Seguindo o ponta-bandeira, um pequeno exercito marchava a passos ritmados, seguindo palavras de comando, mas a voz era tão fraca, que Da Yu não conseguiu entender nada. Quando o pioneiro chegou à ponta do seu nariz e tentou introduzir o estandarte dentro de uma das suas narinas, Da Yu sentiu tamanhas cocegas que teve de levantar-se e dar um enorme espirro provocando assim um enorme desastre, fazendo com que todos os anões caíssem rebolando conjuntamente com seus cavalos e cães de caça.

Somente nesse momento, Da Yu veio a aperceber-se que estava no país dos anões. Segundo a sua memória, era ele ainda criança quando, tinha pela primeira vez, ouvido um conto sobre este pais: os seus habitantes eram inteligentes e sabiam fabricar diversos instrumentos e, na época do imperador Yao, as autoridades deste país tinham enviado alguns dos seus habitantes presentear o soberano com ulna flecha "sem plumagem estabilizadora" - o imperador Yao elogiou-os largamente por tal e maravilhosa invenção.

 

Segundo reza ulna lenda, os inimigos mais cruéis dos anões, eram os grous brancos. Todos os anos, na época da colheita, esses grous convergiam, voando de outras ilhas, para o país dos anões, comendo-lhes as plantaçoes e, inclusive, bicando-os impiedosamente. Para debelar tal calamidade, o imperador Yao mandou uns anões a um pais chamado Da Qin, pedir a ajuda dos seus habitantes, que eram uns gigantes com cerca de 3 o metros de altura. Graças a proteção efetiva prestada por estes gigantes, os grous brancos nunca mais se atreveram a vir molestar os anões, levando estes, então, uma vida de paz e tranquilidade.

Segundo outros mitos relativos a historia dos Países Imaginários, existiam ainda alguns outros países de anões, sendo o Estado de Gu Guo - situado ainda mais para além do Mar do Oeste - um deles. Os seus habitantes tinham a altura, em media, de seis ou sete polegadas, sendo muito cultos e civilizados. Sabiam ler e escrever, eram extremamente corteses e hospitaleiros e, seguindo os preceitos cerimoniais da antiga China, também eles se ajoelhavam, respeitosamente, perante o rei ou os idosos, quando recebidos por estes. E para além disso, os habitantes deste pais possuíam ainda, capacidades sobrenaturais, tais como: deslocavam-se com a velocidade do vento e viviam ate cerca de 300 anos, sendo o cisne, o único animal capaz de os matar. Os cisnes destas paragens eram aves grandes e ferozes que tinham prazer em picar e engolir os anões mas, mesmo depois de serem engolidos, por vezes, ainda continuavam sobrevivendo no estomago destes animais. Segundo uma lenda, uma vez, apos um caçador ter morto um destes cisnes, ouviu gritos provenientes das suas entranhas. Cheio de curiosidade, o caçador abriu a ave ao meio e, subitamente, de dentro dela, saltaram muitos anões. Por isso, as pessoas também costumavam apelidar esses anões de "homens-cisnes".

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  Anões Da Yo
| Por Antônio Daniel Abreu
Da Yu no país dos imortais

No decurso das suas viagens marítimas, Da Yu teve a oportunidade de visitar uns países onde viviam os imortais.

Segundo uma lenda, para além do Mar do Norte, havia uma ilha chamada Wu Ji (sem descendentes), os seus habitantes eram imortais e sem descendentes. Eles moravam em grutas, nas montanhas da ilha e comiam exclusivamente um tipo de peixe, desconhecido presentemente, que se chamava "peixe voante". Como os habitantes deste pais eram assexuados, logicamente, não se casavam nem constituíam famílias. Apos terem vivido um certo número de anos, os habitantes "morriam" temporariamente e, embora fosse pratica comum, os seus cadáveres eram enterrados mas os seus corações continuavam a bater e os seus corpos não apodreciam. Depois de um período de gestação, de cerca de 120 anos, os "mortos" ressuscitavam e continuavam vivendo e assim iam vivendo e "morrendo" alternadamente; a população mantinha-se constante e o pais era extremamente próspero.

Para além do Mar do Sul, havia uma outra ilha semelhante a primeira, chamada de A Xing, por todos os seus habitantes terem o mesmo sobrenome de A. A cor da sua pele era preta, e, fisicamente, eram bem constituídos, cheios de vigor e de juventude, e com o dom de poderem viver eternamente, por se alimentarem exclusivamente de frutos das arvores imortais e se refrescarem nas aguas da Fonte Vermelha. Graças as arvores imortais e a Fonte Vermelha, os animais que viviam neste pais eram, igualmente, imortais, existiam morcegos com mais de mil anos, sapos com dez mil e muitos outros.

Para além do Mar do Oeste, existiam, ainda, dois países dos imortais: o primeiro chamado de Huangdi e o segundo chamado dos Brancos.

O Estado de Huangdi, estava situado, adjacente, a Montanha de Qingshan, sendo a fisionomia dos seus habitantes muito estranha, pois tinham cabeças humanas e corpos de jiboias. Segundo uma lenda, em uma guerra que tinha outrora entre Huangdi e Chiyou, o povo deste pais tinha ajudado os de Huangdi a vencerem o demônio de Chiyou ganhando assim méritos militares. Apos a vitória, os habitantes de Huangdi construíram um outeiro ao qual chamaram de Outeiro de Huangdi, significando deste modo que ambos os povos deste pals. e de Huangdi, tinham saído igualmente vitoriosos sobre os de Chiyou. Os seus habitantes podiam, pelo menos, viver ate 800 anos, sendo muitos os homens que contavam mais de dois mil anos de idade. Os habitantes do Estado dos Brancos tinham os seus cabelos e peles tão brancos como a neve e possuíam também uma prolongada longevidade. Segundo uma lenda, neste pais vivia um gênero de animais sobrenaturais que se chamavam Cheng Huang e tinham o corpo coberto de pelos dourados, uma longa e grossa cauda, fisionomia de raposa, dois chifres sobre o dorso e eram capazes de correr tão depressa como o vento, sendo, portanto, também apelidados de Fei Huang (Amarelos Velozes). Se alguém montasse um deles por só uma vez que fosse, já poderia viver, pelo menos, por mais dois mil anos. A origem do proverbio chinês que diz: "Que alcance a tua boa sorte com a velocidade de um Fei Huang" provem do conto acima mencionado.

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   Da Yu
| Por Antônio Daniel Abreu
Da Yu no país dos manetas

No polo Oeste da Terra havia um pais de manetas. Todos os seus habitantes eram manetas, sendo, no entanto, o único braço que possuíam, extremamente longo. Quando se punham de pé, o braço chegava-lhes aos calcanhares. Outra das suas particularidades era terem três olhos, cada qual com um respectivo uso diferente: o esquerdo, para ver coisas de dia; o direito, para distinguir coisas de noite; e o do centro - tal como um telescópio - para observar com nitidez objetos muito distantes. Com estes três olhos, podiam descansar por turnos. Os habitantes deste pais tinham capacidade de trabalharem ininterruptamente, dia e noite.

Eram todos dotados de grande habilidade e inteligência e, embora fossem manetas, tinham inventado e fabricado muitos armamentos maravilhosos: catapultas, capazes de abaterem mesmo as aves mais velozes, arcos e flechas extraordinários, que atingiam os animais mais ardilosos - as suas refeições eram sempre constituídas por diversas e saborosas carnes.

A carruagem voante era um dos mecanismos mais maravilhosos que tinham inventado. Nos anais da historia da China não se encontra registrada a estrutura desta carruagem mas, conforme narra uma lenda, ela foi feita seguindo a imitação da Ave das Duas Cabeças e do Cavalo da Boa Sorte. O pássaro tinha plumas vermelhas e amarelas e voava batendo as suas duas amplas asas com movimentos cadenciados, a cauda, mais parecendo um leque gigantesco, e as suas duas cabeças - uma na parte anterior, e outra, na posterior - permitindo-lhe perscrutar os céus em todos as direções ao mesmo tempo. O corcel era um puro-sangue com o dorso listrado de branco, crinas vermelhas, olhos brilhantes como ouro, capaz de saltar tão alto quanto as nuvens, e correr a velocidade de um relâmpago. De acordo com ambos os aspectos destes dois animais, e, recorrendo a estruturas de madeira, a plumas e a outros materiais, os habitantes deste pais conseguiram fabricar muitos veículos semelhantes a carruagem voante, ficando capacitados a locomoverem-se com igual facilidade, tanto sobre a terra, como entre as nuvens e brumas e ultrapassavam obstáculos tais como rios e montanhas.

Durante a sua estada no pais dos manetas, Da Yu foi convidado a visitar, na carruagem voante, todas as paragens do polo Oeste, sendo, depois, transportado de regresso às Planícies Centrais da China em um abrir e fechar de olhos, apesar de a distancia percorrida ter sido de centenas de milhares de Ii.

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   Da Yu
| Por Antônio Daniel Abreu
Da Yu no país dos homens de longos braços

No sul do pais dos manetas havia um outro pais: o dos homens de longos Braços. A estatura dos seus habitantes era, mais ou menos, a mesma que a dos humanos, no entanto, os seus Braços tinham cerca de dez metros de comprimento. Quando, não sabendo como e onde haveriam de colocar os seus Braços, eles reclinavam-se nos mais altos troncos das arvores deixando-os pendurados por entre as ramagens, tal como os orangotangos. Quando queriam comer, os seus Braços permitiam-lhes apanhar as frutas das arvores mais altas e, quando queriam pescar, sentavam-se na orla marítima e estendiam os seus longos Braços sobre as ondas, apanhando, agilmente, uma quantidade de peixes e camarões, suficientes para lhes matar a fome. No entanto, como quando pretendiam pescar maiores peixes, tinham de se fazer ao largo e enfrentar o mar alto, costumavam pedir a ajuda dos habitantes de um outro pais vizinho: o pais dos homens das pernas compridas.

O corpo dos habitantes deste pais era, mais ou menos, o mesmo que o dos humanos, contudo, as suas pernas eram muito compridas e finas, assemelhando-se a um grande compasso. Quando, portanto, os homens de longos Braços queriam pescar grandes peixes no mar alto, iam, frequentemente, ao país vizinho pedir cooperação e, empoleirando-se aos ombros dos homens de pernas compridas, penetravam, conjuntamente, no mar alto pondo, assim, em pleno funcionamento, sincronizado, as suas respectivas capacidades de pesca. Isto vem demonstrar o talento e a inteligência dos povos de ambos os países que, não só sabiam aproveitar ao máximo as suas próprias vantagens, como, também desenvolveram métodos de se compensarem mutuamente.

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   Da Yu
| Por Antônio Daniel Abreu
Os demônios e bestas da China

Durante uma prolongada viagem, Da Yu visitou nove continentes e atravessou quatro mares, no entanto, nem todos os lugares por onde passou eram acolhedores: na realidade, algumas destas regiões eram habitadas por demônios hostis e feras bestiais.

Na extremidade do Mar do Sul, havia uma região toda em chamas, habitada por demônios de cara humana e corpos peludos, monstruosos, que das suas bocas gigantescas lançavam constantemente labaredas e fumo, atacando, assim, os animais, as aves e mesmo os humanos.

Na costa do Mar do Sul havia, ainda, um país de homens-crocodilo tendo os seus habitantes uma cabeça humana, a bocarra dos crocodilos, o corpo coberto de densos pelos pretos e, mais estranho ainda, dois gigantescos pés virados para trás. Se encontrassem alguém, primeiro lançavam uma terrível gargalhada para depois saltarem sobre o desgraçado engolindo-o por completo. Estes demônios vagabundeavam pelas florestas levando com eles flautas de bambu que tocavam produzindo uma melodia dolente.

Entre os países imaginários havia uns mais inacessíveis que outros, tais como: o dos homens zarolhos - cujos habitantes só tinham um olho localizado verticalmente no centro do rosto; o dos homens dos peitos furados; o dos homens com três cabeças - cujos habitantes podiam olhar em três direções ao mesmo tempo e pronunciar simultaneamente três vozes diferentes.

No que se refere às feras bestiais, os países imaginários possuíam inúmeros e diversos gêneros, das quais só citaremos aqui algumas.

Havia as chamadas Qiong Qi, semelhantes aos tigres, mas com duas asas gigantescas. Eram tão gananciosas quanto cruéis e quando conseguiam capturar um ser humano começavam a roê-lo pela cabeça a acabavam nos pés, engolindo mesmo todos os seus ossos e cabelos.

Havia um gênero de raposas com nove caudas aparentemente esbeltas e encantadoras, de focinho pontiagudo, pelos dourados e espessas caudas, mas que, na realidade eram extremamente manhosas, podendo-se metamorfosear em terríveis criaturas, transformando-se, por vezes, em figuras de lindas jovens que atraiam os homens devorando-os depois.

Nas florestas das montanhas do Norte da China havia um gênero de borboletas vermelhas, do tamanho de elefantes, que sobreviviam sugando o sangue de outros animais.

Uma outra fera bestial era um gênero de abelha venenosa de cor preta que, quando esvoaçava, emitia um zumbido que se transmitia a vários quilômetros de distância, sendo a sua picada muito dolorosa e o veneno dela, mortal.

Em certas regiões meridionais vivia à beira dos Lagos um animal extremamente venenoso chamado Yu, que tinha apenas três polegadas de comprimento, mas uma carapaça tão dura como uma tartaruga. Era um ser extraordinariamente sinistro e cruel que habitualmente se escondia nos lugares sombrios esperando a passagem de uma presa fácil. Se alguém passasse pelas vicinalidades de onde estava emboscado, o animal abria a sua boca lançando um Jato venenoso quer sobre a pessoa, ou no seu reflexo, na agua, causando-lhe assim uma morte violenta. No entanto, graças a existência de um país adjacente a esta região, cujos habitantes eram bons caçadores, apreciavam comer a carne dos Yu conjuntamente com legumes, estes animais estavam em vias de extinção e os humanos estavam menos ameaçados.

Segundo lendas antigas, depois de dominar as aguas, os povos de todo o mundo passaram a respeitar Da Yu como o salvador da humanidade, elegendo-o como o seu soberano. Para se precaver da latente ameaça dos demônios hostis e das feras bestiais aos seres humanos, Da Yu ordenou que todos os lugares onde se produzia objetos de ferro e bronze tinham que entregar uma determinada quantia das suas materias-primas para com estas se fundirem nove trípodes gigantescos nos quais, baseando-se nas experiências e recordações de todas as suas viagens, ele fez cinzelar todas as figuras de demônios e feras bestiais assim como as suas regiões de origem, de modo a ajudar a humanidade a precaver-se melhor contra estes.

Mitologia Chinesa
  Qiong Qi - Yu Da Yu
| Por Antônio Daniel Abreu
Da Yu no país dos homens-ave

No Sudeste da China havia uma região fronteira ao Mar do Sul, coberta de montanhas sulcadas por inumeros vales de pujantes florestas, onde vivia um número sem-fim de raras e atraentes aves. Dentre todas, a fênix era a mais rara e maravilhosa, com a sua longa cauda de plumas multicores e um trinar mais agradável que todas os instrumentos musicais. Tradicionalmente, a fênix era um símbolo de santificação e pureza, pois, comia somente bambu, bebia apenas agua da fonte cristalina e não pousava em nenhum outro lugar a não ser na estercúlia. Era realmente uma ave magica excepcionalmente vislumbrada! Desde os tempos mais remotos que os homens tinham considerado a sua aparição e imagem como símbolo de boa sorte e pacifica harmonia. No entanto, este pais abundava em fênix que voavam por toda parte juntamente com os outros pássaros, também lindos e preciosos. Existia aqui exclusivamente uma espécie de pássaros que, por só terem uma asa e um olho, só podiam voar em pares, os quais eram chamados "aves acasaladas" e tidos como símbolo do amor eterno e da perfeita união.

Um dia, cansado por uma longa marcha, Da Yu ao sentar-se debaixo de uma arvore para repousar, ouviu uma voz sussurrante entre a densa ramagem e, levantando a cabeça, apercebeu-se de um par de jovens conversando enlevadamente. Como a folhagem era muito compacta os jovens não se tinham apercebido da chegada de Da Yu e este, aproveitando-se da ocasião e querendo perguntar-lhes a configuração da terra e a direção do caminho que devia prosseguir, dirigiu-lhes umas palavras de saudação, mas os dois jovens, sentados nas ramas altas, em vez de descerem pelo tronco da arvore como seria normal, subiram ainda mais e, esvoaçando em redor da arvore, aterraram lentamente na sua frente. Foi só nesse momento que Da Yu descobriu que cada um deles tinha um par de asas.

Em verdade, eles dois eram habitantes do país dos homens-aves. Todos os habitantes desta região tinham asas e podiam escolher entre andar ou voar a qualquer momento, estando também munidos com uma boca em forma de bico e eram ovíparos.

Os homens-aves viviam de pesca e costumavam voar em largos bandos sobre o mar, sendo tão ágeis como gaivotas e bastando-lhes pouco tempo apenas para pescarem muitos peixes. Graças as suas bocas em bico, podiam facilmente apanhar e transportar os peixes para a praia onde, depois sentados, em redor duma fogueira, comiam alegremente as suas saborosas presas.

Os homens-aves gostavam também de dançar e quando chegava a primavera e as flores desabrochavam, reuniam-se em um soberbo lugar da floresta onde dançavam e cantavam celebrando, assim, o começo do novo ano estival. As fênix nunca deixavam de vir e assistir a estas festas, o seu magnifico trinar era maravilhoso, mais que qualquer musica concebível. Homens e mulheres, velhos e novos, todos dançavam, e quando as celebrações chegavam ao apogeu, as fênix, por vezes, comparticipavam abrindo as suas largas caudas multicolores, batendo o ritmo a compasso. Era então um espetáculo maravilhoso!

Mitologia Chinesa
   Da Yu
| Por Sarah Bartlett
Nü Wa, os céus, o sol e as estrelas

Muitos anos tinham se passado depois da criação da humanidade por Nü Wa, quanto se desencadeou um enorme conflito no mundo: uma drástica guerra entre o deus das Aguas, Gonggong, e o deus do fogo, Zhurong. A luta entre os deuses foi tão calamitosa, que o céu desabou, e a terra entreabriu-se, pondo os homens a beira do seu extermínio.

Gonggong, deus das Aguas, para além de ter um temperamento inconstante e caprichoso, comportava-se tal como um déspota, aspirando tornar-se o senhor absoluto de tudo quanto existia no mundo e vir a monopolizar o universo. Mas, no entanto, Zhurong, o feroz e cruel deus do fogo, tinha igualmente pretensões a hegemonia do universo. Estes dois deuses eram, por isso, inimigos mortais, tal como a água e o fogo são incompatíveis, e uma vez, não se sabe bem como, tendo-se encontrado, ambos recorreram a uma luta armada.

Ora, o deus Gonggong tinha dois ministros que se chamavam, respectivamente, Xiangliu e Fuyou. Xiangliu era um ser feroz e avido, com o corpo de serpente todo verde e nove cabeças de aparência humana. Fuyou era um incansável viajante que abusava incessantemente do seu poder onde quer que estivesse. O deus Gonggong tinha um filho que, tal como o pai, pretendera a hegemonia do poder e era conhecido por toda espécie de crimes. Estes três personagens, sendo os fieis cumplices do deus das aguas, imediatamente se aliaram as suas intenções quando este declarou guerra ao deus do fogo.

Certo dia, Gonggong, acompanhado por Xiangliu, Fuyou e pelo seu filho, decidiu ir em uma grande jangada atacar Zhurong. Ao aproximarem-se da morada do deus do fogo, levantaram uma enorme ventania e fustigaram enormes ondas a fim de ostentarem o seu poderio e força. Zhurong, pouco estupido e muito manhoso, ao ver a superioridade em numérica do adversário, pretendeu não fazer frente ao ataque dos seus adversários e retirou-se da orla marítima, indo para o interior incentivando o inimigo a desembarcar. Quando o deus das aguas e seus acompanhantes, caindo na armadilha do deus do fogo, desembarcaram em terra firme, Zhurong cuspiu-lhes labaredas ardentes envoltas em espesso fumo. O ministro Xiangliu teve uma morte instantânea. O outro ministro, Fuyou, ficou totalmente queimado, mas ainda conseguiu fugir. Querendo atenuar um pouco a dor insuportável que os seus fatais ferimentos lhe causavam, decidiu mergulhar no rio Huaihe, ali acabando por morrer. O filho do deus das aguas, sendo o menos capacitado de todos, ao ver esta cena tremenda, ficou aterrorizado e manteve-se imóvel; então, Zhurong brandiu o seu sabre e cortou-o ao meio. O deus das aguas vendo-se perdido não teve outra saída sendo recuar.

O arrogante e orgulhoso Gonggong, confrontado por tamanho revés, não pode se conter e, envergonhado e raivoso bateu sua cabeça com toda força contra a montanha Buzhou, que não era mais do que um dos quatro pontos de apoio do céu. De fato, segundo uma antiquíssima lenda chinesa, o céu estava sustentado por quatro sustentáculos que impediam a sua derrocada e permitiam aos terrestres viver tranquilamente. Tal foi o golpe desferido pelo deus das aguas contra a montanha Buzhou - que o sustentáculo celestial do noroeste se desmoronou, arrastando com sua queda uma grande parte da calota celeste e abrindo um grande buraco no firmamento. Tamanho foi o abalo, que a crosta terrestre abriu inúmeras e profundas rachaduras, e das suas entranhas jorraram aguas, que se misturando com as dos rios, do mar e dos Lagos inundaram o mundo transformando-o em um oceano de rebeldes vagas. Nas montanhas, as pedras entrechocaram-se produzindo faíscas que incendiaram as florestas, fazendo as feras e animais selvagens saírem do seu meio ambiente para irem atacar os homens. Quão terrível foi esta cena! Tal como diz a lenda, o mundo de então devia ter-se tornado realmente em um inferno.

Como criadora da humanidade, a mãe bondosa e gentil destruiu o universo. A fim de salvar os homens, e para que os seus descendentes pudessem viver eternamente, resolveu reparar imediatamente o céu danificado.

Olhando a sua volta, a deusa ponderou sobre a melhor solução a adotar e, depois de alguns momentos de reflexão, veio-lhe a mente uma ideia. Foi as montanhas onde apanhou cinco tipos de pedras de cores diferentes e, fundindo-as, preparou uma forte argamassa com a qual remendou o buraco celestial. Depois, queimou campos inteiros de juncos, e com as cinzas destes, fez diques, contendo assim, as fundações. Finalmente, Nü Wa matou o "Dragão Negro", que desde ha muito, vinha perturbando a vida calma da população na planície da província de Hebei. Vendo isto, e tornados de pânico, as outras feras e animais selvagens fugiram das regiões habitadas pelos homens, procurando refugio em outras paragens, acabando assim, a humanidade, por se libertar desta calamidade. Se bem que o remendo feito por Nü Wa tivessido executado com extremo cuidado e pericia, o céu manteve um ligeiro declínio para noroeste, fazendo deslizar o sol, a lua e as estrelas na sua superfície. Também devido ao abalo, a terra descaiu minimamente para sudeste, nunca conseguindo recuperar a sua configuração inicial, sendo esta a razão por que atualmente os rios correm todos nesta direção.

Em vez de prejudicar a vida humana, esta mudança acidental afetou favoravelmente o movimento do sol, e as posições da lua e das constelações no firmamento, vindo assim os ciclos solares, respectivamente, em relação a lua e as constelações, a dividir cada ano em quatro estações: primavera, verão, outono e inverno, e cada dia em dois períodos: noite e dia. Precisamente pelo fato de agora os rios correrem sem cessar para leste, e devido aos movimentos de rotação e translação do sol, as superfícies de ambos os hemisférios são atualmente irrigadas, obtendo-se maiores e mais abundantes colheitas. Em resumo, graças a esta transformação, a humanidade veio a formular uma nova vida, a terra tornando-se mais prospera e o mundo adquirindo mais e diversificados cambiantes.

Cumprida a missão, a deusa Nü Wa deixou a terra, montada em um dragão ascendente por entre as nuvens, ate os píncaros das alturas, onde se encontrou com o Imperador Celestial, e lhe contou pormenorizadamente tudo quanto tinha realizado no universo.

Mitologia Chinesa
Nü Wa - Gonggong   
| Por Sarah Bartlett
Sol, lua e céu, a busca pelo Sol

A beleza, da região do Lago do Oeste, em Xangaí, sempre teve uma aura de magia. Nste conto simples, da busca de um mortal para encontrar o Sol e, assim, restaurar a harmonia na Terra, é um tema comum em muitas histórias da mitologia chinesa.

Lui Chun era um fazendeiro que vivia nas margens do Lago do Oeste, sob o dossel púrpura da Montanha da Pedra Preciosa. O Sol normalmente se levantava no leste, mas, certa manhã, irrompeu uma violenta tempestade, nuvens negras cobriram todo o lago e o Sol caiu por trás da linha do horizonte. Passado um tempo, as nuvens acabaram se dissipando, mas, estranhamente, o Sol havia ido embora. As plantas começaram a murchar, o mundo se tornou frio e escuro e as pessoas não sabiam o que fazer sem o astro. Então, Lui Chun perguntou a um dos homens mais velhos e sábios da aldeia onde ele poderia encontrá-lo. O velho lhe disse que os demônios do Mar Oriental provavelmente o haviam roubado, pois temiam sua luz e calor.

Lui Chun partiu em sua perigosa jornada para salvar o Sol. Estava acompanhado por uma fênix de ouro, que deveria regressar para sua casa se ele morresse. Por muitas semanas não se viu sinal do Sol ou da fênix, mas, um dia, ela voltou para a aldeia e a mulher de Lui Chun caiu desmaiada, percebendo que ele estava morto. Entretanto, enquanto estava desmaiada, ela deu à luz um menino que cresceu 4,5 metros (1.5 pés) de altura. Um dia, quando soube do feito heroico, porém trágico, de seu pai, Bao Çhu prometeu que ele também partiria para procurar o Sol.

A busca de Bao Chu

Por muitos meses, viajou por montanhas remotas e rios congelados. Aldeões bondosos deram-lhe um pouco de terra em um saco, que ele pendurou no ombro. Certo dia, Bao Chu chegou ao Mar Oriental. Esvaziou o saco de terra na água e formou uma cadeia de ilhas. Ele nadou de ilha em ilha até chegar à última e, ao pisar a terra, a ilha afundou no oceano, arrastando Bao Chu com ela. Lá, ele não só encontrou os demônios, como encontrou também o Sol dentro de uma enorme caverna. Com a ajuda da fênix, ele lutou contra o rei dos demônios, empurrou o Sol de volta para o céu e, exausto, caiu no mar e morreu. A fênix voou de volta para a mãe de Bao Chu e, embora ela soubesse que o filho estava morto, o Sol agora enchia o céu com sua luz. Todas as manhãs, os aldeões se lembram do homem que lhes devolveu o Sol, e eles chamam a estrela que brilha no leste pouco antes do amanhecer de Bao Chu, em sua homenagem.

Mitologia Chinesa
Bao Chu   
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Desejar a morte é um mal, mas temê-la é ainda pior…

Periandro de Corinto
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