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SERES DIVINOS | Mitologia Nórdica
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Ran era considerada a regente do mar e padroeira dos afogados, que ela recolhia com uma rede mágica e os levava para o seu reino no fundo do mar, para além dos redemoinhos do mar do Norte.
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Publicado por:
Odsson Ferreira | 12 Aug , 2017 - 18:27h | Atualizado em: 8/12/2017 6:27:38 PM
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O trapaceiro
Mitos
Notas
Referências bibliográficas
Mais de Mitologia Nórdica
ABNT
Faur,
Mirella.
O princípio feminino - As deusas e seus mitos.
in:
__________.
Ragnarok:
O crepúsculo dos deuses.
São Paulo/SP:
Cultrix,
2011.
Cap. 5.
p.271-272.
APA
Faur,
M .
(2011).
O princípio feminino - As deusas e seus mitos.
in:
M .
Faur,
(Ed.),
Ragnarok:
O crepúsculo dos deuses.
(pp.271-272).
São Paulo/SP:
Cultrix.
Mitologia Nórdica, Ran, Rahana
Por Mirella Faur
Mitos de Ran
A punição de Loki
A vingança de Loki
Os tesouros dos deuses
O roubo das maçãs da juventude eterna
O tesouro do anão Andvari
A construção do muro de Asgard
O roubo de Brisingamen
O roubo de Mjöllnir
A visita de Thor a Geirrod
A jornada de Thor para Utgard-Loki
Thor e o desaparecimento do martelo Mjolnir
Ato I - A maldição do anel
Loki e a construção do muro de Asgard
O anel da discórdia
A expedição de Thor a Utgard
A Morte de Balder
Thor desafia os gigantes de Jotunheim
A aposta de Loki e os presentes dos deuses
A captura do lobo Fenris
Ragnarok, o crepúsculo dos deuses
O castigo de Loki
Loki e o roubo do colar de Freya
A viagem de Hermod
O Casamento de Niord e Skadi

O mar, chamado pelos nórdicos de “caminho de Ran”, era regido pelo casal de deuses, Aegir e Ran, pais das nove Donzelas das Ondas. Apesar de Ran ser citada nos poemas como fazendo parte das deusas Asynjur, há poucas referências sobre ela nos mitos. Ran era considerada a regente do mar e padroeira dos afogados, que ela recolhia com uma rede mágica e os levava para o seu reino no fundo do mar, para além dos redemoinhos do mar do Norte. Ela tratava bem os mortos, desde que levassem consigo ouro, por isso os marinheiros e viajantes colocavam nos seus bolsos, antes de viajar, moedas ou pepitas de ouro, garantindo assim a boa acolhida nos salões de Ran. As famílias acreditavam que, se vissem os fantasmas dos parentes afogados nos seus sepultamentos, isso significava que eles estavam bem cuidados no palácio escuro, mas faustoso de Ran, tendo dela recebido a permissão de comparecer nos enterros, como uma despedida final.

Ran tambem era rainha das ondinas e sereias, que se aproximavam nos meses frios de inverno das fogueiras dos acampamentos dos pescadores, tendo assumido corpos e trajes femininos. Seduzidos pelos seus encantos e beleza, os homens se apaixonavam, mas, apos fazerem amor com eles, as sereias desapareciam e os seus admiradores adoeciam de tristeza e saudade, definhando até morrer. Os oceanos de Ran cercavam os continentes de Midgard, seu palácio forrado de ouro ficando entre corais, peixes e animais no fundo do mar.

Ran era descrita como uma mulher bonita, sedutora e forte, com cabelos de algas marinhas, roupas enfeitadas com corais e conchas, segurando com uma das mãos o leme do barco e na outra, a sua rede mágica, para recolher afogados e tesouros dos navios afundados. Conhecida pelo seu poder mágico e profético, além do talento musical, Ran era a protetora das moças, mulheres solteiras e viuvas dos afogados. Ran era semelhante à deusa Hel, ambas sendo regentes da morte e tendo seus domínios abaixo de Midgard - Ran no reino aquático e Hel no mundo subterrâneo. Ran buscava as vítimas pegando-as com a rede, enquanto Hel esperava tranquila que elas aparecessem.

A rede mágica de Ran foi citada no mito de Loki, tendo sido usada para a sua captura pelos deuses. No mito de Ragnarök, após a devastação final pelo fogo, Midgard irá mergulhar lentamente no reino frio e escuro de Ran, para dele emergir - após a sua purificação e transmutação - renovado e devidamente preparado para um novo ciclo de evolução.

Notas
Referências
ABNT
WILKINSON, Philip & PHILIP, Neil. Loki. in: __________, Guia Ilustrado Zahar de Mitologia. Rio de Janeiro/RJ: Zahar, 2008. Cap. VIII, p. 327
O trapaceiro
Mitologia Nórdica, Loki
Por Philip Wilkinson

O trapaceiro Loki é uma das figuras mais complexas da mitologia nórdica, um personagem capaz de ações boas e más e de transitar entre o mundo dos deuses e o dos gigantes. Famoso por trapacear, às vezes maldosamente, os deuses, sempre imaginava meios criativos de pôr as coisas novamente no eixo.

Embora descrito como belo, Loki podia mudar de aparência a seu bel prazer, transmutando-se em chama, fumaça, inseto ou pássaro. Nos mitos é referido como um dos mais ou o mais antigo dos deuses nórdicos. Em algumas versões, é considerado herói; em outras, trapaceiro, mas quase sempre engraçado. Com o advento da cristandade, porém, Loki começou a ser representado como o diabo.

Notas
Referências
Textos
(2)
8/9/2017 5:55:37 PM | Por Carmen Seganfredo
Livre
A criação do universo na Mitologia Nórdica

Primeiro, havia o Caos, que era o Nada do Mundo, e isto era tudo quanto nele havia. Nem Céu, nem Mar, nem Terra - nada disto havia. Apenas três reinos coexistiam: o Ginnungagap (o Grande Vazio), abismo primitivo e vazio, situado entre Musspell (o Reino do Fogo) e Niflheim (a Terra da Neblina), terra da escuridão e das névoas geladas. Durante muitas eras, assim foi, até que as névoas começaram a subir lentamente das profundezas do Niflheim e formaram no medonho abismo de Ginnungagap um gigantesco bloco de gelo. Das alturas abominavelmente tórridas do Musspell, desceu um ar quente e este encontro do calor que descia com o frio que subia de Niflheim começou a provocar o derretimento do imenso bloco de gelo. Após mais alguns milhares de eras - pois que o tempo, então, não se media pelos brevíssimos anos de nossos afobados calendários - o gelo foi derretendo e pingando e deixando entrever, sob a outrora gelada e espessa capa branca, a forma de um gigante.

Ymir era o seu nome - e por ser uma criatura primitiva, dotada apenas de instintos, o maniqueísmo batizou-a logo de má. Ymir dormiu durante todas estas eras, enquanto o gelo que o recobria ia derretendo mansamente, gota à gota, até que, sob o efeito do calor escaldante de Musspell, que não cessava jamais de descer das alturas, eis que ele começou a suar. O suor que lhe escorria copiosamente do corpo uniu-se, assim, à água do gelo, que brotava de seus poderosos membros - e este suor vivificante deu origem aos primeiros seres vivos. Debaixo de seu braço surgiu um casal de gigantes e da união de suas pernas veio ao mundo outro ser da mesma espécie, chamado Thrudgelmir. Estes três gigantes foram as primeiras criaturas, que surgiram de Ymir; mais tarde, Thrudgelmir geraria Bergelmir, que daria origem à toda a descendência dos gigantes.

Entretanto, do gelo derretido também surgira, além das monstruosidades já citadas, uma prosaica vaca de nome Audhumla, de cujas tetas prodigiosas manavam quatro rios, que alimentavam o gigante Ymir. Audhumla nutria-se do gelo salgado, que lambia continuamente da superfície, e, deste gelo, surgiu ao primeiro dia o cabelo de um ser; no segundo, a sua cabeça; e, finalmente, no terceiro, o corpo inteiro. Esta criatura egressa do gelo chamou-se Buri e foi a progenitora dos deuses. Seu primeiro filho chamou-se Bor, e, desde que pai e filho se reconheceram, começaram a combater os gigantes, que nutriam por eles um ódio e um ciúme incontroláveis.

Esta foi a primeira guerra de que o universo teve notícia e incontáveis eras sucederam-se sem que ninguém adquirisse a supremacia. Finalmente, Bor casou-se com a giganta Bestla e, desta união, surgiram três notáveis deuses: Wotan (também chamado Odin), Vili e Ve. Dos três, o mais importante é Wotan, que um dia chegará a ser o maior de todos os deuses. E, porque assim será, um dia, ele próprio disse a seus irmãos:

- Unamo-nos a Bor e destruamos Ymir, o perverso pai dos gigantes!

Os quatro juntos derrotaram, então, o poderoso gigante, e com sua morte, acabou também a quase totalidade dos demais de sua espécie, afogada no sangue de Ymir. Um casal, entretanto, escapou do massacre: Bergelmir e sua companheira, que construíram um barco feito de um tronco escavado e foram se refugiar em Jotunheim, a terra dos Gigantes, onde geraram muitos outros. Desde então, a inimizade estabeleceu-se, definitivamente, entre deuses e gigantes, cada qual vivendo livremente em seu território, mas sempre alerta contra o inimigo.

Dos restos do cadáver do gigantesco Ymir, Wotan e seus irmãos moldaram a Midgard (Terra-Média): de sua carne, foi feita a terra; enquanto que, de seus ossos e seus dentes, fizeram-se as pedras e as montanhas. O sangue abundante de Ymir correu por toda a terra e deu origem ao grande rio que cerca o universo.

- Ponhamos, agora, a caveira de Ymir no céu - disse Wotan a seus irmãos, após haverem completado a primeira tarefa.

Wotan fez com que quatro anões mantivessem a caveira suspensa nos céus, cada qual colocado num dos pontos cardeais. Em seguida, das faíscas do fogo de Musspell, brotaram o sol, a lua e as estrelas; enquanto que, do cérebro do gigante, foram engendradas as nuvens, que recobrem todo o céu.

Entretanto, após terem remexido a carne do gigante, com a qual moldaram a terra, os três deuses descobriram nela um grande ninho de vermes. Wotan, penalizado destas criaturas, decidiu dar-lhes, então, uma outra morada, que não, o Midgard. Os seres subumanos, que pareciam um pouco mais turbulentos que os outros, foram chamados de Anões e receberam como morada as profundezas sombrias da terra (Svartalfheim). Os demais, que pareciam ter um modo mais nobre de proceder, foram chamados de Elfos e receberam como morada as regiões amenas do Alfheim.

Completada a criação de Midgard, caminhavam, um dia, Wotan e seus irmãos sobre a terra para ver se tudo estava perfeito, quando encontraram dois grandes pedaços de troncos caídos ao solo, próximos ao oceano. Wotan esteve observando-os longo tempo, até que, afinal, teve outra grande idéia:

- Irmãos, façamos de um destes troncos um homem e do outro, uma mulher! E assim se fez: ele foi chamado de Ask (Freixo) e ela, de Embla (Olmo). Wotan lhes deu a vida e o alento; Vili, a inteligência e os sentimentos; e Ve, os sentidos da visão e da audição. Este foi o primeiro casal, que andou sobre a terra e originou todas as raças humanas que habitariam por sucessivas eras a Terra-Média. Depois que Midgard e os homens estavam feitos, Wotan decidiu que era preciso que os deuses tivessem também uma morada exclusiva para si:

- Façamos Asgard e que lá seja o lar dos deuses! - exclamou ele, que, como se vê, era um deus de energia e vontade inesgotáveis.

Este reino estava situado acima da elevada planície de Idawold, que flutuava muito acima da terra, impedindo que os mortais o observassem. Além disso, um rio cujas águas nunca congelavam - o Iffing - separava a planície do restante do universo. Mas, Wotan, sábio e poderoso como era, entendeu que não seria bom se jamais existisse um elo de ligação entre deuses e mortais. Por isso, determinou que fosse construída a ponte Bifrost (a ponte do Arco-íris), feita da água, do fogo e do mar. Heimdall, um estranho deus nascido ao mesmo tempo de nove gigantas, ficaria encarregado, desde então, de vigiá-la noite e dia para que os mortais não a atravessassem livremente no rumo de Asgard. Para isso, ele portava unia grande trompa, que fazia soar todas as vezes que os deuses cruzavam a ponte.

A morada dos deuses possuía várias residências, as quais foram sendo ocupadas pelos deuses à medida que iam surgindo. O palácio de Wotan, o mais importante de todos, era chamado de Gladsheim. Ali, o deus supremo linha instalado o seu trono mágico, Hlidskialf, de onde podia observar tudo o que se passava nos Nove Mundos e receber de seus dois corvos, Hugin (Pensamento) e Muniu (Memória), as informações trazidas das mais remotas regiões do universo.

Entretanto, se na mais alta das regiões estava situado o paraíso daquele soberbo universo, nas profundezas da terra, muito abaixo de Midgard, estava o Niflheim, o horrível e gelado reino dos mortos. Lá pontificava a sinistra deusa ú, filha de Loki, que se regozija Com a fome, a velhice e a doença, e que tem ao lado a serpente Nidhogg. Esta se alimenta dos cadáveres dos mortos e se dedica a roer continuamente uma das raízes da grande árvore Yggdrasil, um freixo gigantesco que se eleva por cima do mundo e deita suas raízes nos diversos reinos, entre os quais, o próprio Asgard. Ao alto da copa frondosa desta imensa árvore, sobrevoa uma gigantesca águia, que vive em guerra aberta contra a serpente Nidhogg. Um pequeno esquilo - Ratatosk -, que passa a vida a correr desde o alto da Árvore da Vida até as profundezas onde está a terrível serpente, é o leva-traz dos insultos que estas duas criaturas se comprazem em trocar sem jamais esgotar seu infinito estoque de injúrias.

Nesta árvore fundamental, diz a lenda que o próprio Wotan esteve pendurado durante nove longas noites, com uma lança atravessada ao peito, para que pudesse aprender o significado oculto das Runas, o alfabeto nórdico, que rege e governa a vida dos deuses e dos homens. Quando seu martírio terminou, Wotan havia se tornado, definitivamente, o mais poderoso e sábio dos deuses, tendo o poder de curar doenças e de derrotar os inimigos com sua poderosa lança, Gungnir - ao mesmo tempo, sua mais poderosa arma e local de registro de todos os seus acordos.

Yggdrasil é o centro do mundo, e, enquanto suas raízes continuarem a suportar o peso de seu prodigioso tronco e de seus ramos infinitos, o mundo estará firme e a vida será soberana, sob os auspícios de Wotan, senhor dos deuses.

Mitologia - Mitologia Nórdica
8/2/2017 7:18:50 PM | Por A. S. Franchini
Livre
Ragnarok, o crepúsculo dos deuses

Aquele inverno tinha sido o mais gelado de quantos os deuses podiam ter lembrança. Para começar, não fora um só, mas três invernos encadeados. A neve caíra sem cessar dia e noite, com flocos imensos, congelando rios e mares. Mas, quando a terceira estação de frio consecutivo se anunciou, os deuses em Asgard começaram verdadeiramente a se preocupar. - Já vamos para o terceiro inverno, Odin...! - disse-lhe Frigga, sua esposa, toda recoberta por peles. - Isto não é normal! - Sua voz traía um terror inconfesso, embora sua alma ainda relutasse em admitir que aquele pudesse ser o primeiro e temido prenuncio de Ragnarok, o Crepúsculo dos Deuses. - É um inverno excepcionalmente frio, apenas isto; coloque mais roupas e trate de sossegar - disse o velho deus, com o cenho carregado.

Odin na verdade passara a vida toda se preparando para este pavoroso dia; não por acaso mandara construir o majestoso Valhalla, o palácio onde abrigava o exército de seus melhores combatentes mortos trazidos dos campos de batalha pelas valquírias, suas filhas guerreiras. Mas, nem por isto, a palavra fatal fora pronunciada, lá ou em Asgard, uma única vez, a não ser por alusões ou eufemismos, pois todos sabiam que aquela guerra seria a ruína não só dos deuses, como do mundo todo.

O terceiro inverno prosseguiu cada vez mais frio e apavorante. Mas isto não era tudo: rumores de uma guerra iminente surgiam a todo instante, ou então, de guerras que já estavam em pleno andamento. Guerras de homens contra gigantes, de anões contra elfos, de homens contra homens, de todos contra todos. Nunca os anões haviam trabalhado tanto como nos últimos tempos: avisados de algo, ou simplesmente premidos pelas circunstâncias, suas forjas há muito tempo não se apagavam, produzindo, noite e dia, milhares de espadas, lanças e escudos de Iodos os tipos e feitios. Rios de ouro desaguavam às portas de suas cavernas em pagamento pelos artefatos, pois todas as raças sabiam que, muito em breve, pilhas de ouro não teriam valor algum diante de uma boa espada ou de um escudo razoavelmente sólido.

O Galo de Ouro cantou, como fazia todos os dias no topo do portão de Asgard. Sua saudação ao sol, entretanto, soou inútil, pois naquele dia o sol não nasceu. Corriam rumores horríveis pelo mundo acerca dos filhos de Fenris, o lobo gigantesco. Diziam estas vozes apavoradas que um deles, finalmente, conseguira engolir o sol, enquanto que o outro, a lua.

- Já não há mais sol nem lua pelos céus, Odin supremo! - disse um mensageiro, após atravessar Bifrost, a ponte do arco-íris que levava a Asgard. - É o começo do fim!

Uma escuridão espectral espalhara-se pelo mundo e, agora, a noite era a soberana do universo. Odin aproximou-se da janela e tentou escutar os rumores que chegavam do mundo lá embaixo. Algo como o ruído surdo e contínuo de um terremoto rolava da escuridão até chegar aos portões de Asgard como um rosnar ameaçador. O deus, tomando de sua lança Gungnir, correu até o seu trono mágico, de onde podia observar tudo quanto se passava nos nove mundos.

Nada podia ser mais aterrador: em todos eles, reinava a mais negra escuridão e somente se podia enxergar algo graças aos clarões das tochas e dos incêndios que lavravam por toda parte, Incêndios provocados por vulcões - que irrompiam do chão, violentamente, e sem aviso, engolindo populações inteiras - e das guerras de pilhagem promovidas por vândalos e seus exércitos arregimentados unicamente pelo caos.

- Então, finalmente, chegou o dia... - disse Odin, abaixando a cabeça como quem espera a iminente realização de uma funesta profecia. - Thor, mande reunir todos os deuses capazes de empunhar uma lança e os avise de que todos devemos rumar para o Valhalla - disse o velho deus, recuperando aos poucos a altivez. -Chegou a hora de unir nossos exércitos e nos preparar para a última batalha.

***

Os tremores de terra não haviam somente destruído casas e matado populações inteiras. Haviam também conseguido deslocar as pedras de duas cavernas onde estavam presos, há muito tempo, dois personagens que o destino escolhera para protagonizar o começo da ruína dos deuses.

Numa destas cavernas estava Loki, o perverso filho dos gigantes, preso às rochas, desde há muito tempo, por sólidas correntes. Entretanto, durante a noite, o prisioneiro barbudo vira cessar o seu tormento, o qual consistia em ter uma serpente a gotejar, permanentemente, sua baba pestilenta sobre o seu rosto. Por que ela teria cessado, espontaneamente, de o atormentar?, perguntara-se Loki a noite inteira. Teriam os deuses o perdoado? Cessara, afinal, a mágoa no peito de Odin pela morte de seu adorado filho Balder?

Estrondos sacudiram tudo a noite inteira até que um tremor mais forte deslocou as duas pedras que mantinham presas as suas correntes.

- Oh, será verdade? - disse ele, pondo-se em pé depois de muitos e muitos anos. - Estou livre, finalmente, livre...!

Loki gritou e sapateou como uma criança até que uma idéia iluminou a sua mente: - Se estou livre, isto só pode significar uma coisa... - disse ele, custando a crer que o seu dia chegara. - Soou a hora do grande confronto com os deuses!

De repente, porém, suas palavras foram cortadas por um terrível uivo: era Fenris, seu filho lobo, quem também se via livre de suas correias. Um exército de gigantes conseguira localizá-lo e libertá-lo das indestrutíveis cadeias forjadas pelos anões. O velho lobo ainda podia sentir na boca o gosto da mão de um deles, Tyr, o deus audaz, que ousara arriscá-la para garantir o sucesso da trapaça de seus companheiros.

- Vamos, Fenris! - bradou um dos gigantes, carregando uma pesada clava. - Chegou a hora de ajustar as contas com o velho deus!

O lobo, também sem poder acreditar, despedira, então, o seu pavoroso uivo, que prenunciava a sua vingança, o qual Loki escutara da sua caverna.

Lançando longe as suas cadeias, Loki tratou de rumar, logo, para a região sombria de Musspel, onde sabia que um poderoso exército de gigantes mortos o aguardava. Ele, Loki, teria a honra de ser o timoneiro do navio que conduziria o exército espectral para o confronto, enquanto Surt, o deus do fogo, guiaria também, com sua espada chamejante, os seus exércitos rumo a Asgard. Ao mesmo tempo, a terrível Iormungand, a Serpente do Mundo, provocava maremotos colossais ao fazer a sua marcha em direção a terrível batalha final.

Antes do fim do dia, estavam todos reunidos, prontos para galgar o último obstáculo que os separava dos deuses entrincheirados: a ponte Bifrost, guardada por Heimdall, inimigo figadal de Loki.

- Todos a Asgard! Morte aos Aesires! - bradava Loki, feito agora comandante supremos das forças destrutivas.

Os exércitos maciços começaram, então, a subir a ponte, em um arremesso que escureceu e fez abalar inteiro o arco-íris, enquanto que, pela segunda vez naquele dia, o Galo de Ouro fazia ouvir a sua estridente voz.

***

Alertado pelo canto do galo, Heimdall, o guardião da ponte, acorreu logo à toda pressa para a trombeta gigante, instalada ao lado do portão de Asgard. Apesar de ter esperado por isto a vida inteira, Heimdall sentiu-se francamente surpreso com a reação que isto despertara nele: era um misto de terror, aflição e, ao mesmo tempo, de euforia. Sim, de euforia, pois, agora, a angústia - aquele sentimento daninho que roía seu coração dia após dia - finalmente, acabara: chegara, afinal, a hora do confronto: de resolver, de uma vez, a pendenga que, durante milênios, opusera os deuses a seus inimigos mortais.

As forças de Odin - os melhores guerreiros que o universo já pudera produzir - estavam prontas para o combate. Montado em seu cavalo Sleipnir, Odin, cercado por Thor e Freyr, aguardava apenas o momento certo para dar a ordem de ataque, quando escutou o ruído da trombeta. Durante alguns instantes, só se ouviu o soar, majestosamente aterrador, daquele instrumento poderoso, até que a fúria e a gana de combater começou a inflamar o peito dos guerreiros. Todos sabiam que iriam perecer, mas a eles bastava a consciência de saber que o fariam com coragem e altivez e que seus inimigos também iriam misturar o seu sangue ao dos heróis. Se tudo se resumia a uma grande batalha - a maior de quantas já houvera - e, se eles iriam ter a honra suprema de ser protagonistas dela, então estava tudo muito bem.

- Odin, as forças inimigas já sobem por Bifrost...! - exclamou Heimdall, montado em seu cavalo branco e de lança enristada.

- Aguardaremos que rompam o portão; então, atacaremos sem nenhum medo ou piedade - disse o líder dos deuses sem demonstrar qualquer vestígio de receio.

Entretanto, quando os gigantes e as outras criaturas sinistras estavam quase para chegar aos portões de Asgard, escutou-se o ruído pavoroso de algo que ruía. Todas as cabeças voltaram-se para a direção do ruído estrepitoso, mas somente Heimdall pôde observar um espetáculo digno dos deuses: a ponte Bifrost ruíra, lançando para baixo todos os exércitos numa confusão de braços e pernas humanos misturados a patas de cavalos e de outros seres repulsivos.

Um estrépito de vivas! sacudiu as colunas de Asgard. Inflamados por aquele breve triunfo inicial, todos comemoravam, menos Odin, que parecia mergulhado num supremo devaneio: - Thor, não sei se, para você, a sensação é a mesma - disse ele, cochichando ao ouvido do filho as suas últimas palavras -, mas estou me sentindo leve, agora... muito leve! - Um sorriso, quase de êxtase, brilhava por baixo de suas barbas esbranquiçadas.

- Sim, meu pai, sinto o mesmo - disse Thor, empunhando com ainda mais força Miollnir, o seu inseparável martelo. - Parece que vai começar, agora, a melhor de todas as brincadeiras!

- Sim... a melhor de todas as brincadeiras...! - repetiu Odin e, antes que pudesse retomar o fôlego, despediu um grande grito: - Adiante, guerreiros de Odin! Pela honra dos Aesires, empunhemos as espadas!

Os portões de Asgard foram abertos pela última vez. Numa gigantesca cavalgada, os exércitos divinos desceram pelo que restava da ponte do arco-íris indo, diretamente, de encontro às forças inimigas que já estavam reorganizadas nos campos de Vigrid, local, agora, do último e apocalíptico combate.

***

Os exércitos engalfinharam-se num choque de espantosa brutalidade, que tirou, imediatamente, a vida de milhares de combatentes. As espadas e as lanças começaram a retinir, enquanto verdadeiros rios de sangue escorriam pelos pés dos guerreiros. Os inimigos declarados procuravam-se por entre as hordas anônimas e parecia que cada qual sabia, exatamente, o papel que deveria executar, pois, um a um, os inimigos pessoais foram se encontrando para seus ajustes e desforras pessoais.

Freyr, o deus que viera a Asgard como um intruso e acabara caindo nas graças de Odin, foi o primeiro a se defrontar com seu inimigo, o gigante Surt.

Segurando sua espada flamejante, o gigante avançara impávido na direção do deus. Nenhum disse qualquer palavra, mas Freyr soube, desde o primeiro instante, que marchava para a morte. Sem portar a sua espada mágica - que tivera a desventura de entregar há muito tempo a seu descuidado servo Skirnir -, Freyr ergueu a sua lança e tentou aparar o golpe da terrível arma de seu oponente. Mas, foi tudo em vão: a lança partiu-se e o deus caiu morto sob o golpe certeiro do gigante em chamas.

Um pouco mais adiante, Tyr, o deus maneta, após ter matado centenas de inimigos, perecia nos dentes de Garm, o cão de guarda infernal, parecendo ser sua sina ser sempre alvo dos dentes de algum animal de poderosas mandíbulas. Mas, antes de morrer, enterrara no coração da fera o aço escaldante de sua espada, vingando, assim, a morte do mais valente dos deuses.

Loki e Heimdall, que tantas disputas travaram anteriormente, estão agora frente a frente. Seus dentes estão cerrados, mas, curiosamente, parecem sorrir ao mesmo tempo. Em seguida, os dois atiram-se um ao outro com suas espadas afiadas, mas são logo engolfados por uma multidão de combatentes que atiram às cegas as suas cutiladas. Quando a multidão se desfaz - em sua maioria caída e morta ao chão - vê-se que Loki e Heimdall estão ambos caídos também lado a lado. Nenhum registro se fez da maneira como ambos deram um fim à vida do outro e à rivalidade que sempre os uniu.

Quanto a Thor, teve, finalmente, a oportunidade de travar seu duelo com a Serpente do Mundo, duelo tão esperado que todos os combatentes que estavam por perto abaixaram as suas armas apenas para observá-lo. Era, afinal, um espetáculo único, que pouquíssimas criaturas poderiam ter o privilégio de assistir - e, quem sabe, um dia, contar em algum outro lugar, caso houvesse ainda um lugar para se ir depois daquele fim de mundo. Thor arremessou-se com seu martelo ao pescoço da serpente e, após abraçar-se a ela, desferiu com toda a força a sua arma sobre o crânio da fera que desfaleceu, em seguida com os miolos botados para fora.

- Thor, você venceu, afinal! - exclamou Odin, que vira tudo de longe.

Mas, infelizmente, à sua vitória seguiu-se, logo, a sua própria morte, pois após dar quatro passos para trás, Thor caíra morto ao chão, bafejado que fora pelo veneno da serpente. Sua mão, no entanto, não desgrudou do martelo Miollnir e nenhum outro combatente teve força bastante para fazê-lo abandonar, mesmo depois de morto, a sua querida arma, que diziam ter amado mais do que à sua própria esposa, a adorável Sif dos cabelos dourados.

Odin, então, cego de ódio, procurou por entre a multidão o seu inimigo, que não poderia ser outro, senão o grande lobo Fenris. - Aqui estou, fera assassina! - bradou o deus, ao avistar o lobo, procurando já a própria morte.

Esporeando seu cavalo de oito patas, Odin empunhou pela última vez sua lança Gungnir e se lançou ao encontro do terrível inimigo. O lobo, entretanto, com uma única bocada, engoliu o maior dos deuses. Um silêncio mortal caiu sobre o campo ensangüentado de Vigrid.

- Meu pai, não! - exclamou Vidar, um dos filhos do velho deus, desmontando de seu cavalo e indo em direção ao vitorioso lobo. Um sorriso parecia arreganhar ainda mais os dentes manchados de sangue de Fenris. Mas, desta vez, ele encontraria seu próprio fim, pois Vidar, enlouquecido pela fúria, ousou entrar dentro da própria boca do lobo para matá-lo e o fez da seguinte maneira: firmando bem os pés sobre a língua do animal, antes que este pudesse entender o que o agressor fazia, empurrou o maxilar superior do lobo para cima até rasgar o animal em dois. Este fato encheu de assombro deuses e gigantes, que viram no filho um legítimo sucessor do pai.

Mas a guerra ainda continuou por muito tempo, mesmo depois de mortos os seus protagonistas, até que Surt, vendo que tudo estava consumado, empunhou um imenso facho, que parecia um novo sol e saiu pelo mundo a colocar fogo em tudo.

O pânico estabeleceu-se nos dois exércitos, quando perceberam que, agora, não havia mais inimigo algum a combater, senão, a própria morte e que o melhor a fazer era tratar de salvar a vida.

Mas agora, definitivamente, já era tarde para pensar em salvação: o mar secara inteiramente; a terra abrasara-se em um incêndio arrasador; e o próprio céu derreteu, caindo sobre a terra como uma imensa cortina em chamas.

***

O grande cataclismo terminara com a queda de Yggdrasil, a grande Árvore da Vida. Após ter sido roída, dia após dia, pelos dentes afiados da serpente Nidhogg, ela não pudera suportar a grande catástrofe e ruíra, liquidando com todos os nove mundos e com quase todos os seus habitantes. Diz a lenda que, entre os homens, apenas um casal pôde sobreviver: ele se chamava Lif e ela Lifthrasir, e foi justamente graças à portentosa árvore, que puderam fazê-lo, pois esconderam-se dentro de sua espessa casca, como no ventre da natureza e da própria Vida.

Também alguns poucos deuses conseguiram escapar ao flagelo destrutivo -entre eles, Vidar, o filho que vingara a morte de Odin; e Magni, um dos filhos de Thor. Também Balder, o mais puro dos deuses, ressuscitara, junto com Hoder, o desastrado irmão cego que o matara, inadvertidamente, por uma astúcia de Loki.

E assim, Lif e Lifthrasir repovoarão o mundo, enquanto que, segundo os versos da Edda imortal:

Os Aesir vão se encontrar novamente no Idavoll

e relembrarão a poderosa Serpente do Mundo,

lembrando também os decretos maravilhosos

e os mistérios do antigo e poderoso deus.

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